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O massacre ocorrido no clube Pulse entra em cheio na campanha eleitoral. Trump e sua retórica contra os imigrantes. Clinton e a ratificação da política imperialista.

Claudia CinattiBuenos Aires | @ClaudiaCinatti

terça-feira 14 de junho de 2016 | Edição do dia

O candidato do partido republicano, Donald Trump, carregou o discurso sobre o "terrorismo islâmico" como principal causa da matança absurda do bar Pulse, em que se viu uma oportunidade de Ouro para incidir seu sua retórica de direita e agitar os medos de sua base - majoritariamente masculina, branca, e de meia idade - uma receita que deu resultados tão bons nas primárias de seu partido. Já compreendeu que quanto menos "politicamente correto" é maior consolidam suas chances eleitorais em setores mais atrasados e conservadores.

O que se fez foi subir a aposta. Acusou ao presidente Obama de morno. Prometeu suspender a entrada ao Estados Unidos não apenas a pessoas de religião mulçumana, e sim a toda pessoa originada da alguma zona do mundo que já tenha atacado os EUA, Europa ou seus aliados. Inclusive, se deu o luxo de presenciar esta medida como a defesa mais efetiva da comunidade LGBTI. E defendeu a política rajatabla de armas do poderoso lobby da Associação Nacional do Rifle.

Hillary Clinton, a mesma não proclamada candidata democrata, está em um lugar mais incômodo, apertada pela esquerda pela base democrática de Sanders, a que a mesma tem que ganhar se quiser derrotar Trump, e pela campanha de segurança nacional da direita. Sem surpresas, optou pela direita. Seguindo suas próprias convicções intervencionistas que a localizam na "ala moderada" dos falcões das politicas norte americanas colocou em sua declaração em Cleveland para ampliar a coalização "anti ISIS" na Síria e aprofundar medidas de vigilância estatal e privada para detectar "lobos solitários", é dizer, pessoas que sem ser necessariamente membros do Estado Islâmico se "autoradicalizam" a partir das ações de violência espetaculares destas organizações que se difundem cuidadosamente na Internet, em um contexto de crescente estigmazação das minorias de origem árabe e mulçumana nos países centrais.

Se pode especular sobre se o atirador do bar Pulse tenha alguma relação com membros do ISIS, ou o que parece mais plausível, atuou por iniciativa própria em parte por inspiração e em partes talvez respondendo ao chamado inespecífico do ISIS, que se encontra em cima de uma operação de pinças no Iraque e na Síria, a atacar "bancos brandos" em qualquer país da coalizão durante o mês do Ramadã.

Porém sobre o que não há dúvidas é que o massacre de Orlando, a maior matança perpetuada por um atirador individual na história americana, ocorre no marco de uma e profunda polarização social e política que deixou gerência a grande recessão de 2008 e que há minado ao "consenso de centro" em que se baseou no bipartidarismo norte-americano nas últimas décadas.

Donald Trump lhe deu uma voz desde a extrema direita ao ódio contra o "estabelishment" que se extendeu como canteiro de pólvora em amplos setores da população, que a preocupa com suas condições de vida e comparão as "grandes soluções" de Trump: expulsar 11 milhões de latinos sem documentos, construir um muro na fronteira com o México, impedir o ingresso de mulçumanos, instaurar uma política protecionista em base de arrancar contra China e México, bombardear os inimigos dos EUA como ISIS e matar as famílias suspeitas de terrorismo.

Trump não caiu do céu. Desde muitos anos o partido republicano aprofundou seu perfil anti imigrante, religioso, antiabortista, antigay. Inclusive em 2012, o então candidato a presidência Mitt Romey firmou um compromisso contrário ao matrimônio igualitário promovido por uma organização cristã em defesa do matrimônio tradicional.

Omar Saddiqui Mateen era um cidadão norte americano que pode ter recebido através das redes sociais a reacionária mensagem misógina e homofóbica do Estado Islâmico (recordemos que o ISIS reduz as mulheres a escravidão sexual e realiza execuções públicas de homossexuais em seu califado). Porém também de vários líderes republicanos, não somente o populista de direita Trump, mas também de predicadores e apresentadores de programas de rádio e televisão.

Sem ir mais longe, em novembro do ano passado Ted Cruz - o candidato proveniente do Tea Party que terminou fingindo de "moderado" frente a Trump - participou de uma conferência convocada pelo pastor Kevin Swason, que se fez tristemente célebre por exigir a pena de morte para a homossexualidade, também reconheceu em seu momento que o objetivo de "eliminar a população gay dos EUA não estava ainda ao alcance da mão". Desse evento participaram também outros ilustres republicanos que neste momento haviam anotado para provar sorte em sua carreira na Casa Branca, entre eles o governador fe Arkansas, Mike Huckabee. Recentemente, em fevereiro deste ano, por puro oportunismo político, a campanha de Ted Cruz reconheceu que havia sido um erro assistir essa conferência.

Nos estados da Carolina do Norte e Mississippi se aprovaram este ano leis discriminatórias contra pessoas transsexuais, bissexuais e gays que abarcam desde a regulamentação do uso do banheiro público "segundo o sexo do nascimento" até o direito laboral e os serviços de saúde e pretendem desconhecer a fala da corte suprema que ano passado localizou o matrimônio igualitário.

Não é de se estranhar então que a orientação sexual seja a segunda causa entre os chamados "crimes de ódio", superado somente pelo racismo em uma relação de 60-20%. E que a grande maioria destes crimes, segundo informe publicado por uma organização especializada neste tipo de violência, não sejam cometidas por fundamentalistas de religião mulçumana e sim por "uma combinação de supremaciatas brancos e pessoas que poderiam ser consideradas membros relativamente normais da sociedade". Isto não quer dizer que todas as pessoas rechaçam a homossexualidade estariam dispostas a realizar um assassinato massivo, porém sem que a retórica de ódio contra a comunidade LGBTI é um contexto facilitador.

A retórica “gay friendly” de Hillary Clinton apenas durou um par de twittes. A candidata democrata se somou a cruzada contra o "terrorismo". Propôs aprofundar a intervenção imperialista na Síria e no Iraque e chamou a reeditar a "unidade nacional" que reinou depois dos atentados do 11S, é dizer, em consenso bipartidarista em torno a guerra e ocupação do Afeganistão e Iraque, as mesmas que criaram as condições que deram origem a aberrações como o Estado Islâmico.

O racismo, a opressão e a exploração são o reflexo interno do imperialismo Norte americano. Afortunadamente, não passam sem resposta. As mobilizações contra a guerra do Iraque, o movimento Black Life Matters, ou os milhões de jovens que votaram por Sanders porque pela negativa estão compreendendo o que não vai mais e o capitalismo, são os sintomas mais animadores de que algo novo está surgindo pela esquerda.




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