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TERCEIRIZAÇÃO | É preciso cercar de solidariedade e apoio as trabalhadoras da Higilimp na USP e no Metrô

Durante o carnaval, trabalhadoras e trabalhadores da Higilimp, empresa terceirizada de limpeza, tiveram mais uma surpresa. Além dos constantes atrasos e erros no pagamento dos salários, a empresa recolheu equipamentos e desapareceu, deixando na mão centenas de trabalhadores, em sua imensa maioria mulheres.

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

Helena GalvãoEconomista

quinta-feira 11 de fevereiro de 2016 | 21:07

Os baixíssimos salários e as jornadas exaustivas são combinadas com as precárias condições de trabalho. Na USP, a maior e melhor universidade no país, muitas vezes os locais destinados ao descanso, higiene e refeição das trabalhadoras sequer contém chuveiros com água quente. No Metrô, que se propagandeia um dos mais limpos do mundo, essas trabalhadoras são submetidas a constantes assédios e situações degradantes. Invisíveis, hoje elas pararam os trabalhos na reitoria, protagonizando um grande ato que fechou o acesso da burocracia ao prédio. No metrô, saíram em protesto pelas ruas do centro. Hoje, elas se fizeram ver e deram exemplo de luta e disposição.

Demandas imediatas – “Temos fome hoje! ”

Tanto a USP quanto o Metrô de São Paulo, são corresponsáveis pela situação. Há anos essas empresas vencem licitações e submetem seus trabalhadores à essas condições precárias sob a anuência do contratante. Essas trabalhadoras diariamente prestaram serviços limpando salas de aula e estações do Metrô. É preciso que, tanto a reitoria da USP quanto o Metrô, e todos os demais contratantes, assumam a responsabilidade pelos seus direitos e pagamentos imediato de seus salários.

Sob a mazela da terceirização as empresas contratantes tentam “lavar as mãos”, atribuindo a responsabilidade à empresa contratada. Nesse ping pong, as trabalhadoras foram cobrar daqueles a quem prestaram o serviço.

A reitoria da USP alega que já reteve as faturas deste mês que seriam pagas à Higilimp pois, de acordo com cláusula contratual, se a empresa contratada não paga seus funcionários a contratante retém seu pagamento. Ora, o que falta então para a reitoria pagar essas trabalhadoras? Não cabe ao trabalhador, já vulnerável, caçar onde se esconderam os donos da Higilimp. Que se pague já os salários dessas mulheres e homens, que tem filhos, famílias, dívidas que não esperam até o próximo mês.

Além do atraso, se confirmada a falência da Higilimp, ou mesmo seu “desaparecimento”, essas trabalhadoras estarão, desde já, desempregadas. Uma nova empresa terceirizada, provavelmente com a mesma triste “tradição” de atrasos, deve ser contratada para substituir a Higilimp. É preciso exigir, como mínimo, nenhuma demissão. Que essas trabalhadoras tenham garantido o emprego e que sejam contratadas pela nova empresa para que, imediatamente, não fiquem desempregadas.

A precarização tem rosto de mulher

“Queremos só o que nos é direito”, gritavam. Muitas dessas mulheres estavam grávidas. Uma, há nove dias de dar à luz a um menino. Quem assegura a essa mãe seu salário e seu direito legítimo à licença maternidade? Dizemos: USP e Metrô são responsáveis!

Quem são esses trabalhadores? Um exército de mulheres de várias idades, muitas grávidas, a maioria negras e nordestinas. Algumas dessas mulheres chegam a demorar 3 horas, até 4, para chegarem em seus locais de trabalho e depois voltarem à suas casas. Há várias refugiadas haitianas entre elas. A precarização tem rosto de mulher, de mulher negra, de mulher boliviana nas oficinas de costuras ilegais, de haitiana nas empresas terceirizadas.

Solidariedade de Classe

O Siemaco (UGT) é o representante sindical legal dos trabalhadores de empresas prestadoras de serviços de limpeza. O SINTUSP, sindicato dos trabalhadores da USP, representa e defende todos os trabalhadores da universidade, inclusive terceirizados. As trabalhadoras da Higilimp votaram na quinta uma comissão formada por seis trabalhadoras, mais representantes dos dois sindicatos para intermediar a negociação para o pagamento imediato dos salários. A reitoria da USP recusou a reconhecer o Sintusp como representante eleito pelas trabalhadoras em assembleia e elas votaram que ninguém entraria pra negociar se o Sintusp não estivesse junto. Desrespeitando a decisão votada, somente o Siemaco, sem trabalhadoras ou o Sintusp, subiu para negociar. Não trouxeram nada de novo, a reitoria exige que a Higilimp rode a folha de pagamento sem, no entanto, se comprometer, a garantir que a Higilimp o faça.

Representantes da diretoria do Sintusp, CDB e Secretaria de Mulheres, além de trabalhadores da USP, passaram o dia acompanhando as negociações lado a lado com as companheiras terceirizadas. CAELL e CAPPF, centros acadêmicos da Letras e Pedagogia, trouxeram calouros para saudar e apoiar as trabalhadoras e prometeram fortalecer a luta durante da calourada.

Amanhã o SINTUSP chama a todos os trabalhadores a se unirem a luta. A partir das 6h da manhã, em frente à reitoria, se realizará um grande café da manhã coletivo em apoio às trabalhadoras da Higilimp.

No Metrô, o Sindicato dos Metroviários se colocou, junto com os Metroviários pela Base nessa luta. Depois de uma reunião rápida entre Metrô, Sindicato dos Metroviários, representantes das trabalhadoras e Siemaco, este último chamou nova reunião somente para terça-feira. O Metrô alega que só tomara alguma atitude a partir do momento que for oficializada a falência da Higilimp e, ao mesmo tempo, de forma criminosa, coibi o direito legítimo de greve das trabalhadoras chamando funcionárias de outras empresas terceirizadas como a Guima e a Centro para limparem as estações da Linha 1 – Azul. É preciso ações já e as trabalhadoras mostraram hoje grande disposição de lutar para arrancar seus direitos.

Além disso, é necessário que o Sindicato dos Metroviários mobilize a categoria numa solidariedade ativa. Os Metroviários pela Base já começaram uma campanha de fotos nas estações chamando todos a apoiarem e fortalecer as ações das trabalhadoras da Higilimp.

Para manter essas trabalhadoras em luta também é preciso organizar um fundo de greve, e que cada trabalhador que apoie essa luta colabore com ele. Muitas trabalhadoras precisam do valor da passagem de ônibus, pois sem salários permanecer na luta é a cada dia mais um custo.

Lutar pela efetivação, tarefa urgente

Combinada às ações para responder imediatamente às demandas urgentes das trabalhadoras, é preciso que todo sindicato e organização política defenda o fim da terceirização, que só explora e humilha trabalhadores, juntamente com a efetivação imediata sem concurso público desses trabalhadores, pois estes já provaram, no dia a dia serem mais que capazes de realizar suas funções.

A terceirização divide e humilha. A Classe Trabalhadora e a Juventude devem golpear unidas mais esse ataque a seus direitos!




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