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ANÁLISE | É o golpe, estúpido? Análise preliminar das tendências e novas pesquisas eleitorais em um país em crise

Uma primeira análise sobre as novas pesquisas eleitorais e o que elas apontam.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

domingo 11 de setembro de 2016 | Edição do dia

James Carville, estrategista de Bill Clinton em sua campanha presidencial de 1992 cunhou a frase “é a economia, estúpido” como um dos eixos daquela campanha. A recessão mordeu os calcanhares de George Bush pai e elegeu o democrata. Os resultados das novas pesquisas eleitorais nos munícipios de nosso país permitem fazer uma afirmação similar quanto ao impeachment. À esquerda e à direita. Estão decolando as candidaturas mais associadas à polarização nacional. Os que estão à margem dos temas nacionais estagnam ou retrocedem. A isso se soma o fenômeno de enfraquecimento dos “partidos da ordem” que já analisamos previamente.

Tratamos o primeiro retrato eleitoral em um artigo onde mostrávamos as dificuldades do PT, PMDB e PSDB nas campanhas. Semanas depois o quadro se modificou um pouco agregando a clara marca da politização e polarização nacional nas campanhas. O primeiro retrato mostrava à direita o sucesso de figuras mais tendentes a “outsiders” como Russomano e Crivella, e pela esquerda um bom desempenho do PSOL, superando o PT em quase todas capitais do país, expressando como há um amplo espaço de esquerda independente do PT.

Das grandes e principais capitais tínhamos um retrato com PT, PMDB e PSDB fora de praticamente todos segundos turnos com exceção do PT em Porto Alegre e Recife, PSDB em Belo Horizonte e PMDB em São Paulo. Esse quadro está em movimento e parece se modificar em contraditório favorecimento, tanto do PT como do PSDB, trataremos das contradições desse fortalecimento ao final do artigo, antes vamos buscar mostrar a tendência de força dos que se associam mais fortemente na defesa ou combate do impeachment.

No caminho das urnas havia um golpe

No meio do caminho tivemos a consumação do impeachment no Senado, atos de rua atraindo centenas de milhares em todo o país com a consigna “Fora Temer” gerando preocupações até mesmo de um Estado de São Paulo, o mais “Temerista” dos grandes diários nacionais a estampar em seu principal editorial deste domingo dia 11 a seguinte frase: “Mms o fato é que o slogan “fora Temer” vem ganhando ares de movimento com algum potencial para constranger o presidente”.

A pressão tucana, dos “mercados” e da mídia para que uma pesada agenda de ataques aos direitos dos trabalhadores, da terceirização, à jornada de trabalho, fim da CLT e aumento na idade de aposentadoria tende a alimentar a fogueira nacional em óbvio detrimento de Temer e do PMDB. As eleições se consumarão em meio a chamados a paralisações por diferentes centrais sindicais e uma crescente insatisfação operária e popular com as medidas do governo de Temer. O retrato atual que coloca no centro do debate municipal o plano nacional tende a aumentar e não diminuir nas próximas semanas.

Golpeado mas não morto o “centro” reage

A recuperação de Melo (PMDB apoiado pelo PDT) em Porto Alegre uma estagnação “alta” de Marta Suplicy e o rápido crescimento de Doria em São Paulo e Marchezan Junior na mesma Porto Alegre mostra como o centro não está morto. Está profundamente questionado, mas sua hora final não soou. Até mesmo o agressor de mulheres Pedro Paulo está reagindo nas pesquisas (agora já está com 8%) empatado em terceiro lugar.

Dos três partidos pilares do regime o que pior vem se saindo é ainda o PT que paga junto à classe trabalhadora pelos ajustes e junto a toda opinião pública um pesado custo por ter assumido as mais corruptas práticas políticas capitalistas em terras pátrias.

Mas o mais interessante desta reação do “centro” é como ela está se dando. Primeiro no que já é visível, pela direita e depois pelo "mal menor".

A força eleitoral anti-PT

A dupla de pequenos Macris tucanos Doria e Marchezan, ambos Junior, cresceram de 5% para 16% e, de 12% a 17%, respectivamente. Marta Suplicy de 16 para 21%. Os empresários tucanos nestas duas importantes capitais estão conseguindo capitalizar o espaço eleitoral anti-PT. Com Marta, Dória disputa uma “interna golpista” com óbvia vantagem para ele, pois a ex-petista está emparedada: tem que se livrar de seu passado para atrair uma desconfiada elite ao mesmo tempo que não pode ir nessa operação até o fim pois senão entrega sua base nas periferias para Haddad ou Erundina.

No Rio Grande do Sul, as configurações do PMDB e PDT locais permitem transitar quase da direita dura à centro-esquerda, vestindo se necessário as cores mais golpistas ou menos golpistas. Esse resultado somado a reação do PSB no Recife que suplantou o PT na liderança local, a continuada liderança tucana em BH mostra um enfraquecimento daqueles candidatos de direita mais em cima do “muro”.

Das três alas do regime político que se mostram atualmente e racham todos principais partidos (PMDB, PT e PSDB), digamos de forma simplificada, “golpe até o fim”, “golpe sim, mas pacto” e “petismo”, a que está com maiores dificuldades é o “golpe sim, mas pacto” representado no plano nacional por Renan Calheiros e a manobra para cassar Dilma mas lhe manter os direitos políticos, e candidaturas como de Russomano e Crivella.

Russomano despencou 5% em São Paulo, Crivella estagnou no Rio e só não é mais contestado porque o golpismo “duro” carioca está fragmentado demais, entre Pedro Paulo (8%), Bolsonaro (6%), Índio da Costa (6%) e ainda Osório (4%).
O voto “coxinha” em muitas capitais é suficiente para ir ao segundo turno e o tucanato parece estar bem preparado para agarrá-lo.

O PT se pinta para a guerra, a força e armadilha do “mal menor”

Sem conseguir empolgar com sua versão de picolé de chuchu, o prefeito paulistano Haddad, o PT está ensaiando um giro discursivo. Seus novos adesivos “Fora Temer, Fica Haddad” pretendem colocar no centro do discurso o golpe institucional. Partem para forças auxiliares como a Mídia Ninja, Lula e até mesmo colocar Haddad em atos contra o golpe. Há que se ver a força da paralisação nacional chamada pelas centrais sindicais para o dia 22 e como PT e PCdoB utilizam a CUT e CTB respectivamente para fortalecer suas campanhas eleitorais.

Curiosamente para defender o petista mais envergonhado em chamar o golpe por seu nome o PT prepara-se para mover forças da juventude contra o golpe. Não chamar o processo que passou o país por seu nome rendeu muitas críticas a Haddad e Erundina do PSOL aposta para tentar disputar o crescente flanco eleitoral anti-golpe.

No Rio de Janeiro as forças do ex-governo escalaram a mais loquaz oradora no Congresso contra o golpe, Jandira Feghali, e assim colocaram uma parede (8%) a Freixo (11%) e parecem mais dispostos a impedir o desenvolvimento de uma mediação política de esquerda independente de suas forças do que em ter uma alternativa “anti-golpe” no segundo turno.

Nas terras gaúchas, Raul Pont do PT está em empate triplo com o tucano Marchezan e com Luciana Genro do PSOL, e parece mais apto a colher o voto anti-golpe que a ex-candidata à presidência da República. Em primeiro lugar porque ela não criticou o impeachment até suas vésperas e aplaude a Lava Jato e, até mesmo as repressivas 10 medidas defendidas por Moro e Janot. Para completar está repetindo os rumos ao “centro” do Podemos Espanhol como Thiago Rodrigues anteviu neste artigo e ficou flagrante no último debate televisivo onde defendeu a continuidade das terceirizações, privatizações (PPPs) e da neoliberal Lei de Responsabilidade Fiscal.

O PT, como Haddad já ensaiou no último debate de TV em São Paulo interpelando Erundina, irá adotar um agressivo discurso contra a “divisão da esquerda” e que mesmo com críticas, como “mal menor”, todos progressistas e “anti-golpe” devem alinhar-se debaixo de suas asas. Já argumentamos em outro artigo como o “mal menor” é um caminho de adaptação passo a passo ao mal maior, justificativa com pretensões de estratégia para a conciliação de classes.

Muitas vezes mais preocupado com o cabedal de votos muito mais que desenvolver uma radical defesa de ideias de independência de classe de todas variações patronais, incluídos os pequenos Rede e PPL. Ao mesmo tempo o espaço eleitoral que o PSOL tem ocupado mostra como há um amplo setor que está buscando alternativas a esquerda do PT.

O não desenvolvimento dessas tendências de esquerda independente do PT será uma oportunidade desperdiçada. Se isso acontecer será uma a alegria eleitoral para o PT e PCdoB e estrategicamente da burguesia nacional pois terá conseguido passar, relativamente incólume de uma difícil eleição, sem que surja uma força que não só desafie o PT, não somente em votos, mas mais importante o desafie em estratégia política e organização independente da classe trabalhadora, da juventude e de todos setores oprimidos. Estas duas tendências da realidade se cruzam nas candidaturas eleitorais.

Flancos eleitorais polarizados e a flagrante dificuldade de hegemonia

O retrato eleitoral que pintamos acima explica muito as tendências no primeiro turno. O tucanato movendo-se agressivamente para que todo o voto anti-PT e “coxinha” caia no número 45 e com o PT buscando como “mal menor” atrair todo o voto “anti-golpe”. Trata-se de flancos eleitorais no teatro de operações estratégicas. Nem um nem o outro garante maioria no segundo turno e pior menos ainda algum passo para que as eleições municipais sejam uma primeira pedrinha no caminho de “pacificação” e criação de uma nova hegemonia política.

Entre um neoliberalismo contestado no mundo e aqui, e uma impossível conciliação de interesses com o empresariado e a direita, nem os projetos tucanos nem os petistas parecem ter alguma viabilidade como “grandes discursos” hegemônicos. A isso se soma uma percepção generalizada que todo o regime está podre, porém sem a classe trabalhadora vislumbrar uma saída estratégica anti-sistêmica. É nesse nem-nem que estamos. Com uma politização inédita (em anos), com crescente insatisfação social com a situação econômica, agravadas pelas medidas de Temer, estas eleições são uma oportunidade especial para desenvolver ideias e forças que se preparem para oferecer e organizar uma perspectiva anticapitalista e revolucionária.

O “anti-Bolsonaro” e “anti-tucano” não poderá ser um PT sempre aliado à direita e sempre disposto a cortar direitos da classe trabalhadora. Terá que ser uma força que supere a experiência de conciliação de classes e encontre enraizamento nas lutas da classe trabalhadora, da juventude e de todos oprimidos, oferecendo um questionamento ao regime político e aos empresários. Este não é o caminho que as principais candidaturas do PSOL no país estão trilhando, mas pelo qual o Esquerda Diário e os militantes do Movimento Revolucionário de Trabalhadores que são colunistas do diário e concorrem como vereadores pelo PSOL buscam fazer.




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