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OPINÃO | Discurso de Lula para a juventude do PT é marcado por chamado demagógico ao “radicalismo”

Nesta sexta, 20, dia da Consciência Negra, Lula chamou a juventude do PT ao “radicalismo” e minimizou as palavras de ordem “ Fora Cunha” e “Fora Levy”, ao mesmo tempo em defendeu a “governabilidade” e a aliança com o PMDB (incluindo indiretamente o pacto com figuras nefastas como Eduardo Cunha) para salvar o governo Dilma, que deve ser a prioridade neste momento, segundo ele.

Flávia SilvaCampinas @FFerreiraFlavia

sábado 21 de novembro de 2015 | 00:00

Demagogia repetindo o discurso do Papa no RJ

O discurso de Lula para a juventude, em que também lembrou o episódio de criação do partido, em 1980, para dizer que na época "havia muito mais radicalismo" e que "as palavras de ordem que estou vendo aqui é como doce de cupuaçu em comparação ao que a gente ouvia no Colégio Sion", disse - o colégio Sion, em São Paulo, foi palco de uma reunião que culminou com a criação do PT.

Lula fez referências indiretas às palavras de ordem: "Lula, eu quero ver, você romper com o PMDB" e “Fora Cunha ” e “Fora Levy”, num discurso de pura demagogia à juventude do PT, assim como as próprias palavras de ordem vazias de combatividade da própria juventude do PT e que estão longe de responderem de fato a necessária luta contra o conservadorismo reacionário, homofóbico, machista e racista, que existe no Congresso e que o PT foi também responsável nestes 13 anos de governo.

Lula cobrou respostas e propostas da juventude e disse que "apenas escrever num documento ’Fora Levy, ou fora PMDB’, é muito pouco". Ao discursar, afirmou que em encontro recente com o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, os dois conversaram sobre a possibilidade de escrever um livro ou fazer um vídeo para "provocar a juventude a assumir um papel mais importante na política".

A demagogia de Lula, repete o tom da declaração do Papa Francisco à juventude em sua visita ao Rio de Janeiro. Naquele momento, o Papa chamou a juventude a "fazerem confusão". Porém me ambos os casos, qualquer radicalismo, ou seja, qualquer combate que vá até a raiz dos problemas, só pode ser feito contra o governo Dilma e o PT e não, em defesa destes, como quer a utopia de Lula. O exemplo dessa luta da juventude está nas ocupações de escolas em SP contra a reorganização de Alckmin e o exemplo das milhares de mulheres em todo país que estão nas ruas contra o PL e em defesa do direito ao aborto (que foi negado por Dilma e Lula nos 13 anos de governo do PT).

Neste 20 de novembro, a fala de Lula foi mais uma vez marcada pela ausência, do tema dos 10 anos de Ocupação militar brasileira no Haiti e das lutas como a dos petroleiros, com uma menção interessada a luta contra o fechamento das escolas em SP (para se “pintar” a esquerda do PSDB de Alckmin), porém, esquece de dizer que o governo do PT já cortou quase 10 bilhões da educação só neste ano, em nome do ajuste fiscal neoliberal de Dilma e Levy para agradar aos empresários e ao capital estrangeiro.

Mais uma vez, o que se confirma é a necessidade de um combate da juventude, das mulheres, do povo negro, dos LGBTs e do conjunto dos trabalhadores, que se arme com um programa de luta antigovernista e contra a direita, a partir das lutas em curso e de um questionamento profundo ao regime político que mantém uma casta de políticos privilegiados que governam para os ricos.

Por isso, nem a Frente Povo sem Medo (composta pela CUT, MTST e PSOL) e a Frente Brasil Popular (PT) - na medida em que servem para blindar os interesses do governo Dilma e do PT – podem representar uma saída para a luta contra o ajuste fiscal, o desemprego, a inflação, e contra o reacionarismo do Congresso que quer rifar os direitos das mulheres e LGBTs, para isso, é preciso a construção de um campo independente do governo, da direita e dos patrões, em cada luta dos trabalhadores.

O “PT não morreu” de Lula e a governabilidade

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira, 20, disse que é preciso empenho para defender o mandato da presidente Dilma Rousseff. Lula disse que, antes de pensar em 2016 e 2018, é preciso tirar o governo da agonia criada pela oposição. "Temos que ajudar a companheira Dilma a sair da encalacrada que a oposição nos colocou depois das eleições", disse, ao participar do 3º Congresso da Juventude do PT, em Brasília. "Eles não souberam perder."

Lula afirmou ainda, que o rompimento com o PMBD seria uma utopia e que é preciso aceitar o resultado das eleições e "construir a governabilidade". "Entre a política e o sonho, entre o meu desejo ideológico partidário e o mundo real da política, tem uma distância enorme", disse. Lula afirmou que as alianças são fundamentais já que sempre "alguém vai ganhar e alguém vai perder". Sabemos que na prática a governabilidade é a garantia para a burguesia de que Dilma e o PT irão garantir a agenda neoliberal de ajuste fiscal contra os trabalhadores.

Lula disse ainda que o partido pode fazer uma "surpresa" para aqueles que acham que o PT já acabou (um referência indireta também à sua possível candidatura em 2018 para salvar o projeto do PT ) e que é fundamental que o partido se fortaleça ainda mais nas eleições do ano que vem para garantir a continuidade do seu projeto. "Não tem 2018 se a gente não tiver 2016", disse. "Nós precisamos construir 2016, precisamos ter candidatos onde puder ter candidato."

Lula já havia comentado em entrevista nesta semana que não gostaria de ser candidato e que só retornará se o projeto construído pelo PT estiver ameaçado, disse que: "Espero que o Brasil evolua tanto que eu não precise voltar. A única condição para eu voltar é se alguém apresentar um projeto de governança que destrua tudo o que nós construímos". Esse pacto de governança, além de depender do ajuste fiscal tem implicado no pacto pró-Cunha no PT para que este se mantenha impune na presidência da Câmara, ou seja, o PT, como mostrou nesta semana no Congresso no episódio do Conselho de Ética, vem atuando no sentido de blindar Cunha em nome dos seus interesses de "governabilidade".

Lula voltou a dizer que não se pode permitir "que ladrão fique chamando petista de ladrão" e fez uma defesa do ex-tesoureiro João Vaccari, preso por suspeita de corrupção no esquema de propina da Petrobras. "Eu quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado numa sacristia", disse.

Na última reunião do Diretório Nacional do PT no final de outubro, veja mais aqui , o documento final não falava no nome de Levy e apontava tímidos comentários sobre a política econômica, pedindo a volta da CPMF, algum aumento de tributação dos ricos e que não se corte políticas sociais (leia-se Bolsa Família).

O documento também já adiantava o tom da política que Lula destacou nesta semana, o apelo a “governabilidade” e o compromisso em salvar Dilma. Naquele momento, como já apontávamos em 30 de outubro: “Lula havia declarado que a prioridade era a governabilidade. A resolução diz que a prioridade é derrotar o golpismo justamente promovendo a governabilidade. E a governabilidade são ajustes. Impostos. Ou seja, nem o Fora Cunha vai sair.”




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