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ELEIÇÕES 2018 | Direita brasileira: por que tão grotesca?

Somente o Brasil para fazer de uma situação tão tensa ser ao mesmo tempo tão cômica. Rir para em seguida, chorar. Ronaldo com a camisa “eu não tenho culpa, votei no Aécio” parece fichinha perto das sujas pérolas que vemos com o avanço dos golpistas e o fortalecimento da extrema-direita.

Mateus CastorCientista Social (USP), professor e estudante de História

quarta-feira 24 de outubro de 2018 | Edição do dia

Nossa pátria amada e seus heróicos personagens

Somente o Brasil para fazer de uma situação tão tensa ser ao mesmo tempo tão cômica. Rir para em seguida, chorar. Ronaldo com a camisa “eu não tenho culpa, votei no Aécio” parece fichinha perto das sujas pérolas que lidamos hoje com o avanço dos golpistas e o fortalecimento da extrema-direita.

Semana passada, tivemos a notícia que Bolsonaro, um dos presidenciáveis mais grotescos da história, recebeu dezenas de milhões em caixa dois de empresários para sua campanha de fake news no Whatsapp. Cai o véu do grande combatente contra a corrupção, “anti-sistema político”, salvador da pátria que ia mudar isso daí.

A Globo, Record, STF e STJ se fingem de tonto e escondem da população o escândalo de caixa-dois. O jornalismo de ponta e imparcial da Globo até retirou uma matéria do ar que levantava a suspeita de impugnação da Chapa de Bolsonaro. Enquanto isso, Sérgio Moro que afirmou ano passado, na sua amada América, que caixa dois era pior do que corrupção, até agora está quietinho.

O incorruptível corrupto ex-capitão, o militar salvador da nação das garras dos comunistas, foi centro de mais um ridículo e asqueroso capítulo da hipocrisia tosca da classe dominante brasileira e da pequena burguesia que enxerga-se rica e poderosa, no topo da elite, frequentado shows e xingando Roger Waters num país de terceiro mundo e paganda 20 reais por um copo de Skol.

A escrotidão que nos dá ódio e ataque de risos é uma característica marcante da extrema-direita. Aqui, temos desde ator porno em defesa da moral e dos bons costumes até candidatos à presidência em defesa da família com B.Os da ex-mulher por ameaça de morte. Defende tanto a família e a moralidade cristã que já se encontra no terceiro casamento. Não nego que as pessoas podem “mudar”. Longe de mim fazer qualquer julgamento moralista, faço apenas um pedido de coerência. Mas coerência para a pequena burguesia que defende candidato que faz apologia a tortura e nos domingos vai a Igreja chorar pela tortura e morte de Jesus na cruz, parece ser uma exigência muito alta.

A comédia normalmente é fundada quando nos é posto uma situação contraditória e irrealista, quando ocorre uma saída inesperada a toda narrativa anterior. Nisso, temos que admitir, a extrema-direita brasileira é profissional. Qualquer escritor e produtor de séries fica invejado com os personagens da escória reacionária do Brasil.

Todo dia somos bombardeados pela tragicomédia que nos proporciona os bolsonaristas e golpistas. Mas a miséria política e intelectual não surgiu de repente.

Foto histórica: Cunha, Kim Kataguiri, Bolsonaro pai e filho e outras figuras incorruptíveis.

Uma figura icônica, que talvez tenha sido um marco histórico, um marco na normalização da imbecilidade. Falo da senhora de meia idade e sua obsessão pela bandeira “comunista” do japão, porque, obviamente, o círculo vermelho só pode comprovar que o Japão é uma sociedade sem classes e livre da exploração, ou para a tia reaça, o inferno e o capeta, o mal em si. Janaína Paschoal e seu teatro golpista junto dos patos da Fiesp, também abriram espaço para a normalização da vergonha-alheia.

Dispensa legendas.

Comunistas, comedores de criancinha, do século XXI.

Ao mesmo tempo que amam atacar os pobres e nordestinos, destilando toda sua xenofobia - “ignorantes, pensam com a barriga, sem educação, burros” - caracterizam o PT como comunista. Chamar o PT de comunista, que por 12 anos agradou tanto a burguesia brasileira, enriqueceu bancos e manteve o santo pagamento da dívida pública, é no mínimo, uma calúnia ao próprio PT. Segundo, é uma afronta para os comunistas que querem destruir a sociedade capitalista e as classes sociais, e não gerir e conciliar interesses junto a bancada da Bala Bíblia e Boi, igual o PT fez. Se a extrema-direita tivesse consciência do que é um comunista, teria um ataque cardíaco. Ou melhor, chamariam um torturador para dar uma lição nesses terroristas, em nome da moral e dos bons costumes. Choques elétricos e pau de arara em nome de Jesus Cristo. Amém.

Os filmes norte-americanos e a CIA do século passado, durante a guerra fria, ficariam invejados com a capacidade de ver comunismo em tudo que não agrada ou questiona, critica ou se opõe. Até Le Pen, candidata da extrema-direita francesa, por dizer que Bolsonaro fala algumas bestialidades além da cota, foi acusada de esquerda num tweet de um bolsonarista. O grandioso filósofo liberal, Fukuyama, que disse que o fim da URSS era a vitória do liberalismo e fim da luta de classes pela eternidade, foi acusado de comunista por dizer que a democracia brasileira estava em risco. Roger Waters, integrante do Pink Floyd cujas músicas são gritantemente, de um jeito mais claro impossível, de esquerda, foi criticado e vaiado pelos bolsonaristas que só queriam curtir um som.

“Vai se foder Roger, toque a música”, esbraveja a direita que só quer ouvir músicas contra as guerras imperialistas dos EUA, contra regimes totalitários, os poderosos e ricos, em paz.

O nazismo é de esquerda, assim como a KKK, o primeiro porque deseja um Estado forte e intervenção no mercado, o segundo porque é contra o Estado de Israel, isso afirma a trupe do MBL. O PT, Le Pen, Ku Klux Klan, Maduro, Temer, fazem todos parte do plano de dominação comunista internacional, comandado pelo Foro de São Paulo, a URSAL, como o maluco Daciolo denunciou ao vivo na TV.

Mamãe Falei, Kim Kataguiri e Fernando Holiday, uma fábrica de Fake News que daria inveja aos rumores dos “comunistas comedores de criancinhas”. Por trás de seu discurso contra o Estado, como eles mesmos dizem, estão mamando nas tetas do governo, dentro do DEM, partido envolvido em vários casos de corrupção e que foi fundamental para os ataques de Temer. Certamente, estão melhor. Subiram de nível, agora estão em pé de igualdade com os diversos vermes e parasitas no Congresso Nacional para aumentar os zeros de sua conta bancária.

Como costumam afirmar: um “mito” à serviço de aplicar os ataques que Temer não conseguiu.

Se fosse apenas cômico, seria ótimo. Contudo não se trata de falta de educação ou ignorância, se trata de uma perspectiva de classe. Afundados na neurose, em busca de um alvo para aliviar seu sadismo proto-fascista e sede por ataques contra a classe trabalhadora e oprimidos, acham o culpado óbvio disso: os trabalhadores, pobres, LGBTs, mulheres, negros, indígenas, imigrantes movimentos sociais e ativistas. Para legitimar o grau de violência necessário para atacar os direitos como pretendem, é necessário criar um verdadeiro mito inexistente. A extrema direita é portadora da arte de acusar a realidade de Fake News e considerar a Fake News a realidade.

Porém, todo riso com essa escrotidão é acompanha da mais profunda raiva. Precisamos esmagar a extrema direita e os golpistas que querem fazer com que os trabalhadores e oprimidos paguem pela crise, que os próprios capitalistas criaram. Logo após o resultado do primeiro turno, com uma ampla vantagem, a extrema-direita sentiu-se legitimada para colocar em ação toda sua covardia.

O humor acaba quando vemos o mestre de capoeira Moa assassinado por criticar Bolsonaro, quando vemos uma travesti aos gritos de “Bolsonaro” ser morta, quando uma jovem tem marcada na pele com uma lâmina o símbolo da suástica ou quando o judiciário golpista censura UNE por se colocar contra Bolsonaro. Eles querem nosso massacre, nosso extermínio e isso não podemos permitir, é preciso organizar desde já a reação contra o futuro de miséria que querem nos impor.

Acesse aqui para saber como podemos combater Bolsonaro




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