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Editorial MRT | Diante da guerra na Ucrânia, é necessária uma batalha internacionalista por uma posição independente dos trabalhadores

A guerra na Ucrânia vai completar duas semanas e seus horrores já são mais que evidentes: mortes de civis, cidades destruídas, famílias separadas, racismo contra os refugiados. Nem mesmo o acordo para a constituição de cordões humanitários que permitam a população sair tem se efetivado diante do enfrentamento das forças reacionárias que estão em disputa na Ucrânia.

terça-feira 8 de março de 2022 | Edição do dia

De um lado a invasão reacionária de Putin, um governo autocrático da Rússia que está tendo como política a destruição da Ucrânia para impor seus interesses, ao que parece, modificar o regime político do país, destruir algumas regiões e garantir o controle de outras, como parte de sua estratégia de defesa e da busca por manter essa região sob sua influência. Do outro, a OTAN, com Estados Unidos e as principais potências imperialistas europeias à frente, atuam fortalecendo as tropas de Zelensky, presidente ucraniano, enviando armas e promovendo sanções contra a Rússia, como parte de sua política de décadas de avançar sobre o leste europeu, fortalecer sua influência na região e enfraquecer estrategicamente a Russia. É o mesmo imperialismo responsável por numerosas intervenções e ocupações militares em todo o mundo (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e antigos países da ex-Iugoslávia, entre outros) e que atua na Ucrânia também para manter um governo que lhes é favorável e expandir seus interesses imperialistas.

Nessa guerra, portanto, é claro como as forças envolvidas são reacionárias e o resultado só pode ser destruição e os horrores para a população trabalhadora e pobre ucraniana. Mas a catástrofe não para por ai: as potências imperialistas tem utilizado da guerra para avançar em suas condições militares. O exemplo mais evidente foi o orçamento de guerra votado pela Alemanha, uma das maiores potências do mundo, que agora autorizou um gasto adicional de 100 bilhões de euros no seu orçamento militar. Para se ter uma ideia, isso é mais ou menos o equivalente a que todo o PIB de um país como o Equador, a soma de todos os bens e serviços finais produzidos pelo país em um ano, fosse destinado ao orçamento bélico alemão em uma tacada só.

Por isso, é preciso dizer não a essa guerra reacionária. Pela imediata retirada das tropas de Putin da Ucrânia e pela retirada das tropas da Otan da Europa oriental. E não podemos deixar que os capitalistas e seus governos das potências imperialistas do mundo todo utilizem dessa guerra para se rearmar até os dentes. Nós sabemos quando olhamos para o Oriente Médio ou para o continente africano o que isso significa, com guerras e bombardeios massacrando as populações em distintos países.

No Brasil, a questão da Ucrânia já tinha se tornado foco em função da visita de Jair Bolsonaro à Putin poucos dias antes do início do conflito. E a grande ironia da história é que no PT, partido que se coloca no campo da “esquerda” brasileira, tem setores entre seus analistas e intelectuais de apoiadores do reacionário Putin, ou pintando uma figura “resistente ao imperialismo” ou como “campo progressista”. O fato é que a extrema-direita e parte da “esquerda” da conciliação de classes se encontraram em sua admiração ao presidente russo, embora os posicionamentos oficiais de principais personalidades políticas, como Lula, tenham os contornos de “pedidos de paz e diplomacia”, fazendo acenos mais comedidos também as “forças internacionais”, ou seja, a OTAN.

A importância de tal questão é que no Brasil precisamos fortalecer o combate contra a extrema direita e o regime advindo do golpe institucional - que implementou uma série de reformas como a da previdência, a reforma trabalhista e um teto limitado para os gastos públicos em saúde e educação - o que exige amplas discussões entre os trabalhadores e a construção de uma resposta anticapitalista que se proponha a superar a experiência da conciliação de classes, ou seja, uma forte batalha por uma posição independente dos trabalhadores. E isso se relaciona diretamente com os temas internacionais, pois também aí se expressam políticas que se adaptam às forças reacionárias em disputa. Assim, é necessário o amplo debate político com as posições vigentes no país. O PSOL não tem se proposto a encabeçar alternativa em nenhum âmbito à política do PT, incluindo os temas internacionais, com suas forças majoritárias no geral adaptadas a um dos campos (imperialismo da OTAN ou autocracia de Putin) em disputa. E nos outros partidos de esquerda temos visto ou grupos que se adaptam a linha da OTAN, das “missões humanitárias”, pedidos genéricos de paz e aceitam esse fortalecimento do imperialismo, ou atuam no campo de Putin e sua autocracia reacionária, como tem sido o caso do PCB e outros setores que se reivindicam stalinistas ou do PCO - distintas formas de não buscando uma saída independente dos trabalhadores. Menos ainda tem sido visto debates em torno do rearmamento imperialista e suas consequências internacionais, um tema de fundamental importância. Parte desses debates se colocam dentro do Polo Socialista e Revolucionário, o que coloca a importância de fazermos um debate fraternal entre as organizações.

Portanto, é necessário que vinculemos nossas lutas em curso com uma posição política revolucionária na Ucrânia, e o primeiro combate nesse sentido se dará no 8 de março, dia internacional da luta das mulheres, em que vamos estar em atos de todo o país, com as mulheres na linha de frente dizendo Não à guerra! Fora as tropas russas da Ucrânia! Fora a OTAN e o imperialismo da Europa Oriental! E seguir a luta pelo Fora Bolsonaro, Mourão e Damares com a revogação de todas as reformas.

Além disso, nós do MRT temos debatido nossas posições no Esquerda Diário, trazido artigos e elaborações de nossos analistas da rede internacional de diários da Europa, colocando na linha de frente uma posição independente, contra a invasão russa e combatendo o rearmamento alemão e de todo o imperialismo da OTAN, e pretendemos seguir promovendo debates para trabalhadores, nos sindicatos e para a juventude e universidade, além do conjunto de iniciativas no nosso portal, incluindo nossos programas Espectro do Comunismo especiais sobre o tema, entrevista especial que realizamos com Philippe Alcoy da França e André Barbieri, debate especial no Brasil Não é Para Amadores sobre os impactos da guerra no Brasil, dossies especiais no semanário Ideias de Esquerda.

Diante dos horrores da guerra e da barbárie em curso pelos principais governos do capital no mundo, é necessária uma batalha por uma posição internacionalista de independência de classe dos trabalhadores. A nossa luta é por uma Ucrânia independente, operária e socialista, o que implica obviamente a defesa do direito de autodeterminação nacional do povo ucraniano, mas, ao mesmo tempo, aponta que a verdadeira independência não será conquistada nem por nacionalistas ucranianos “pró-ocidentais” nem por “pró-russos”, mas por um governo da classe trabalhadora. Um grande movimento ao redor do mundo contra a guerra atual com estas características seria sem dúvida um grande ponto de apoio para o desenvolvimento de processos revolucionários para questionar toda a ordem imperialista. A unidade internacional da classe trabalhadora é mais necessária do que nunca.




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