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CRISE DO VÍRUS ZIKA | Diana Assunção: “Todas as mulheres devem ter o direito de decidir"

Se trata de permitir que as mulheres tenham o direito de decidir, portanto em especial as mulheres diagnosticadas com o zika vírus no período da gestação devem ter toda a assistência médica, de forma não clandestina e segura, para interromper a gravidez caso decidam.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

terça-feira 2 de fevereiro de 2016 | 01:00

O zika vírus se tornou uma calamidade da saúde pública tipicamente organizada pelo capitalismo. Com toda a técnica desenvolvida no campo das ciências médicas e de prevenção de doenças, este sistema econômico simplesmente barra a utilização da ciência para a prevenção e tratamento de uma doença causada por mosquito que convive há séculos com os seres humanos. "Até o dia de hoje, há relatos de casos em 23 países ou territórios da região. O nível de alerta é extremamente alto", disse Margaret Chan, diretora da Organização Mundial da Saúde. O especialista em doenças infecciosas da OMS, Marcos Espinal, afirmou que calcula que entre três e quatro milhões de pessoas serão infectadas pelo vírus nas Américas, sem, no entanto, dizer se isso acontecerá este ano.

O Brasil se tornou o foco principal da doença. As movimentações que os governantes estão fazendo agora são uma mostra clara de que sim o país vive uma epidemia que sim poderia ter sido evitada antes. Não por acaso que os locais onde mais aparecem casos de dengue, chicungunya e zica estão situados no nordeste brasileiro, região mais pobre do país e mesmo aí os casos não se distribuem de forma igual, sendo que regiões mais pobres possuem índices bem maiores. É o retrato de um país em que a única forma de salvar-se do caos da saúde pública é adotando planos de saúde caríssimos.

O Governo Dilma – que junto com seu Ministro da Saúde, Marcelo Castro, disputam para ver quem repete mais inutilmente que “estamos perdendo a guerra contra o mosquito” – anunciou que 220.000 militares irão às ruas em uma espécie de Dia D contra o mosquito, para mobilizar a população a combater os focos do Aedes aegypti. Como se esta medida pudesse apagar o caos da saúde pública (que beneficia as máfias da saúde privada) ou nos fizesse esquecer que as mulheres não puderam adquirir em todo o ciclo de governos petistas um direito elementar como o do aborto, seguro e gratuito, garantido pelo Estado.

Sobre isso, Diana Assunção, dirigente do MRT e diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), disse “Em primeiro lugar, já é um absurdo que no Brasil não exista direito ao aborto legal, seguro e gratuito. Aqui se trata de permitir que as mulheres tenham o direito de decidir, portanto em especial as mulheres diagnosticadas com o zika vírus no período da gestação devem ter toda a assistência médica, de forma não clandestina e segura, para interromper a gravidez caso decidam. As mulheres que decidirem pela gestação, devem ter todos os recursos médicos e psicológicos garantidos pelo Estado no caso de terem filhos com microcefalia. Precisamos lutar imediatamente pelo direito ao aborto para todas as mulheres a partir dos locais de trabalho e estudo. Diante do 8 de março que se avizinha, é ainda mais importante que o movimento de mulheres coloque como eixo a luta pelo direito ao aborto, pra que nenhuma mulher mais morra por abortos clandestinos e pra que toda as mulheres tenham o direito de decidir”.

Sobre os bebês já afetados pela microcefalia, Diana disse que “Todas as mães que decidirem manter a gravidez, ou que já possuem filhos com microcefalia, devem ter amparo total por parte do Estado e devem ter garantida toda a assistência necessária para os cuidados e acompanhamentos dos filhos. É preciso lutar por todos os direitos das quase 4 mil crianças com microcefalia e suas mães, pois as crianças vão precisar de todo o cuidado médico (fonoaudilogia, oftalmologia, fisioterapia, entre outros) e as mães podem precisar de psicólogos (que não existem em número suficiente, como vemos em Pernambuco e nos estados mais pobres do Nordeste do país, mais afetados pela doença). Todo esse cuidado médico com crianças e mães deve ser garantido pelo Estado, que também tem que garantir que estas mães, na maioria trabalhadoras, tenham licenças remuneradas irrestritas para cuidar de seus filhos”.

Sobre os cortes de verba nos estados que afetam majoritariamente os serviços públicos como a saúde, Diana afirmou que “A distribuição gratuita de repelentes é necessária como prevenção, mas é insuficiente e não modifica as condições precárias de atendimento hospitalar no Brasil. Para evitar esse tipo de calamidade, precisamos de outro sistema de saúde no país. Não podemos mais aceitar cortes de orçamento que estão levando a situações catastróficas, que governos como o do RJ, MG e RS tentam justificar pela crise fiscal. Já vimos que o governo de Alckmin em SP escondeu informações sobre o nascimento de mais de 200 bebês com microcefalia, para que o corte na saúde não fosse problematizado. Há verbas para aplicar na saúde: lutemos pelo não pagamento da dívida pública para investir em planos de obras públicas e saneamento básico, em primeiro lugar nos estados mais afetados como Pernambuco, pelo fim dos privilégios dos altos funcionários do Estado, deputados, juízes e senadores e que esse dinheiro seja revertido para a estruturação de um sistema único de saúde 100% estatal e controlado por trabalhadores e usuários”.




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