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LUTA DE CLASSES NO CHILE | Desta forma estão reprimindo a juventude do Chile

A juventude e os estudantes secundaristas se destacam como protagonistas das mobilizações que não cessam. A brutal repressão se estende até o interior dos colégios.

quarta-feira 6 de novembro de 2019 | Edição do dia

A repressão do governo de Piñera não conseguiu esvaziar as enormes mobilizações contra o seu governo e o regime, mas está, ao contrário, gerando um crescente e imparável ódio contra os carabiñeros (policiais e forças da repressão) e suas Forças Especiais que vêm militarizando as cidades mais importantes do Chile.

O governo tem as mãos manchadas de sangue. A hipocrisia de Piñera, que fala de “diálogo social” e diz estar “preocupado pela população”, de “escutar as pessoas” é o próprio criador do fogo. Conta com o apoio sólido dos partidos da velha “Concertação” (forma de governo em que a direita e a centro-esquerda se revezam no poder desde a redemocratização do país), com os quais teceu a armadilha do regime para salvar a cabeça do presidente; mesma armadilha na qual também caíram a Frente Ampla (coalizão de partidos da esquerda reformista) e o Partido Comunista.

Nessa terça (5), foram realizadas novas manifestações em diferentes cidades do país, como em Santiago e em Antofagasta, onde ocorreu uma brutal violência policial que deixou pelo menos dois jovens gravemente feridos, depois de serem atropelados por carabiñeros. Na capital, dezenas de violentas detenções também ocorreram, pessoas feridas por balas de chumbo e gases lacrimogêneos.

Desde que a faísca das mobilizações foi estalada em 18 de outubro, nas ruas se calca o ódio contra o regime herdado da ditadura pinochetista. Como resposta, afloram os piores métodos herdados também da ditadura civil-militar: centenas de pessoas com impactos de balas de chumbo e gases diretamente visados para atacar os rostos, com graves feridas depois de brutais golpes, ocorrendo inclusive mutilações; denúncias de abusos sexuais e violações; centenas de casos de tortura; milhares de detenções, entre outros vexames negados pelo governo e que o conjunto do regime político relativiza.

Nicolas Del Caño, recente candidato a presidente pela Frente de Esquerda Unidade, acaba de viajar ao Chile para levar sua solidariedade com o povo chileno, exigir a liberdade das 4.271 pessoas detidas e em denunciar as graves violações aos direitos humanos e às liberdades democráticas. Del Caño se encontrará com organismos de direitos humanos, organizações sindicais e da juventude para amplificar as denúncias que está realizando.

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Viajamos a Chile 🇨🇱✊ . . Este Martes viajaremos a solidarizarnos con su lucha y ademas a reunirnos con organismos y organizaciones de derechos humanos, sociales y políticas para tratar las denuncias sobre torturas, violaciones y abusos, ante la represión que tiene hasta el momento 20 muertos, más de mil heridos y cientas de detenciones. . . Es muy importante no ignorar lo qué está atravesando el pueblo chileno por eso les pido que sigan a @laizquierdadiariocl para tener de primera mano toda la información y los debates que allí transcurren. Desde esta cuenta vamos a mostrarles todo lo que sucede por eso también manténganse atentxs esta semana en este viaje que vamos a realizar. Muchas gracias y nos vemos pronto desde Chile!! . . #ChileDespertó #RenunciaPiñera #piñerarenuncia #chile #noson30pesosson30años #solidaridadconchile #solidaridadconchile🇨🇱 #🇨🇱 #🇨🇱chile #🇨🇱

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Juventude: flanco principal

Depois de terem acendido a faísca da rebelião com o pulo em massa das catracas do metro contra o aumento das tarifas, nessa quarta os secundaristas de todo o país saíram às ruas para protestar contra a violência dos carabiñeros, que nesse dia voltaram a reprimir de forma selvagem mais uma vez. Quando alguns estabelecimentos tentaram impedir a mobilização, os estudantes romperam os portões e evadiram dessas escolas massivamente.

A força e decisão que mostra a juventude encontra a brutal resposta dos carabiñeros, a repressão saltou, e não apenas nas ruas com a brutalidade que ocorre diariamente, mas também dentro das escolas.

Uma situação semelhante ocorreu na comuna de Renca, quando policiais dispararam em alunos do Colégio Cumbres de Renca enquanto estes se encontravam dentro do estabelecimento.

Este escândalo teve um forte repúdio. Entre aqueles que aumentaram a voz se encontra a professora de Niñez, Patricia Muñoz, quem expressou no portal de notícias El Mostrador: “Carabiñeros do Chile não podem entrar num estabelecimento de educação e disparar contra os alunos, isso não é tolerável. Espero que assim como fazem coletivas de imprensa para denunciar atos considerados de delito, que se faça coletivas de imprensa para condenar de maneira taxativa, e oxalá visitar as meninas que tem sofrido essa situação de maneira inaceitável”.

Também nessa quarta, milhares que marcharam pelo centro de Antofagasta foram brutalmente reprimidos pelos carabiñeros, com gases lacrimogêneos e carros lançando jatos d’água. O nível de repressão foi tal, que muitos carabiñeros tentaram invadir o Colégio dos Professores de Antofagasta, um das grandes escolas da cidade.

Patricia Romo, presidente do Colégio dos Professores afirmou ao La Izquierda Diario (seção chilena da rede de diários da esquerda revolucionária internacional a qual o Esquerda Diário faz parte), que: “Isto (o ataque da polícia) é inaceitável, estamos num estado de exceção de fato, isto claramente não é normalidade (democrática), a prefeitura Karen Rojo pretende que voltássemos às aulas enquanto nos intoxicavam com gases lacrimogêneos, enquanto os professores estavam sendo perseguidos e reprimidos por balas”.

A Federação dos Estudantes da Universidade Católica do Norte (FEUCN), em Antofagasta, denunciou um grave caso sobre torturas que haviam sido cometidas contra um estudante universitário detido durante as manifestações desse final de semana. “Pisaram em suas mãos, bateram em sua cabeça contra o chão com força, aproveitando para cuspir nele, de insultá-lo e humilhá-lo”, denunciou o irmão do jovem estudante torturado.

No dia anterior, durante as multitudinárias mobilizações dessa terça nas principais cidades, carabiñeros voltaram a reprimir contra a juventude, chegando a atropelar um jovem manifestante com um carro da própria corporação policial.

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Outro jovem teve sua saúde gravemente comprometida com os gases lacrimogêneos lançados, disparada pelas Forças Especiais de Carabiñeros.

Castigos e homofobia nas delegacias de polícia

“... ao chegar à delegacia começaram os insultos homofóbicos ao descobrir que meu companheiro é homem. Me deixaram nu e me bateram na frente dos outros detidos e assim também me obrigaram a assinar documentos sem que eu pudesse lê-los”.

Este foi o testemunho de Alberto Faundez, que esteve detido durante 14 dias na delegacia 11 do bairro de Lo Espejo e foi liberado graças a um recurso de amparo interposto pela Defensoria Penal Pública. Os responsáveis desses abusos são integrantes das Forças Especiais de Carabiñeros. O jovem denunciou também que a polícia vinculada a esta delegacia de Lo Espejo, que o deteve nos arredores de um supermercado no dia 20 de outubro, o arrastaram e o agrediram gravemente. Dentro do carro policial insultaram o jovem e jogaram álcool sob seu corpo.

Números de vítimas de casos arrepiantes

Desde o começo da rebelião popular, houve 23 mortos informados de forma oficial, ainda que a cifra pode ser maior. Múltiplas organizações de direitos humanos nacionais e internacionais, assim como as organizações populares, levantam um dia atrás do outro fortes denúncias contra a ação do Exército e das forças de segurança, as quais receberam do governo uma via livre para atacar o povo através do Estado de Emergência e com o toque de recolher.

Segundo o Instituto Nacional de Direitos Humanos, além dos mortos houve até o dia 2 de novembro 1.574 pessoas feridas nos hospitais, das quais 40 apresentavam disparos de bala de borracha, 473 disparos de balas de chumbo, 305 de armas de fogo não identificadas e 30 por outros tipos de bala. 157 pessoas chegaram aos centros de saúde com feridas nos olhos. O mesmo organismo apresentou cerca de 20 denúncias por violência sexual, 143 por torturas, além de reportar mais de 4.316 detidos, entre eles 500 são menores de idade, e os mais de 1.600 feridos em hospitais que se dividem entre 800 feridos por disparos e outros 160 por feridas oculares.

Detenções ilegais, espancamentos nas delegacias, torturas, negação de direitos processuais básicos.

Somente com uma semana após o estado de sítio ter aumentado em todo o país, têm saído à luz do dia vários casos de violações dos direitos humanos perpetrados pelas forças militares e da ordem. O governo tem respaldado todos seus atos repressivos, negando, tergiversando e silenciando os feitos policiais e os próprios reprimidos.

Como seguir

O que relatamos são apenas exemplos brutais de uma ação sistemática de repressão exercida contra centenas de milhares, muitos deles jovens estudantes e trabalhadores precários, que continuam saindo às ruas para expressar seu descontentamento diante desse regime pinochetista.

Ante tal situação, Dauno Tórtoro, dirigente do Partido dos Trabalhadores Revolucionários (PTR), assinalou que é necessário “impulsionar uma campanha pelo direito a nos manifestar e para que se vá Sebastián Piñera e este governo de criminosos”;

Nesse momento, onde diversos setores do movimento estudantil estão se somando ativamente à rebelião popular em curso, com escolas, liceus e universidades que se encontram tomadas ou paralisadas nas diferentes cidades do país, o dirigente do PTR faz um amplo chamado aos organismos de Direitos Humanos, organizações de esquerda, sociais, sindicais e estudantis, para impulsionar a campanha mencionada e a medida de greve geral contínua, “para derrubar Piñera e todo este regime herdado da ditadura”.

A solidariedade e o apoio internacional é vital para a luta dos trabalhadores e do povo chileno. Nesse sentido, o Encontro Memória, Verdade e Justiça, nessa quarta se mobilizou junto a organizações sociais e partidos de esquerda, em apoio às lutadoras e lutadores que há semanas se manifestam em todas as regiões chilenas contra o governo de Sebastián Piñera.




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