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Tensão EUA x Rússia | Desespero da extrema-direita brasileira? Bolsonaro visita Putin para desgosto de Biden

Enquanto as tensões entre EUA e Rússia, em relação à Ucrânia, seguem escalando, Bolsonaro se dirige a Moscou para encontro com Putin. Orfão de Trump, e com a derrota de aliados da extrema-direita na América Latina, o timming de Bolsonaro, se intrometendo na disputa das duas grandes potências militares, pode expressar um desespero em dar algum sinal de que não está isolado.

terça-feira 15 de fevereiro de 2022 | Edição do dia

A Rússia enviou 100 mil soldados para a fronteira com a Ucrânia. Os EUA dizem que uma invasão russa pode acontecer a qualquer momento, o que Putin rebate como “especulações provocativas”. O fato é que a Ucrânia está no centro das crescentes disputas geopolíticas, resultado da crise capitalista e das disputas hegemônicas.

Enquanto essas tensões explosivas se acumulam, Bolsonaro se dirige para a Rússia, no dia de hoje, para discutir outra crise de igual relevância: a de fertilizantes. A justificativa parece risível, chegando ao ponto de um ex-diplomata estadunidense entrevistado pela BBC Brasil declarar que: “ É como assistir a uma criança correndo na pista para tentar atravessar uma rodovia expressa e movimentada”. O pretexto dos fertilizantes até poderia ser digno da viagem meses antes, quando foi marcado o encontro, entretanto, não parece estar a altura de ser a principal justificativa para a manutenção do encontro frente a possibilidade iminente de conflitos na região entre as duas grandes potências militares.

Certamente, Bolsonaro possui outras intenções para sustentar a viagem, à revelia da diplomacia de Washington, que, inclusive, já telefonou para o embaixador brasileiro para cobrar explicações. O motivo mais aparente é reverter o isolamento internacional no qual caiu após a derrota de Trump. Sem o apoio de seu suserano, Bolsonaro tornou-se um pária, sendo evitado pelos demais líderes das principais potências imperialistas. As cenas patéticas protagonizadas por ele durante a cúpula do G-20 atestam sua irrelevância internacional. Nesse sentido, se não fosse o momento de crise, um aperto de mãos com Putin seria algo digno de se ostentar, muito maior do que o encontro com o ditador húngaro Viktor Orbán, aliado da extrema-direita, que também está no itinerário da viagem.

Outro motivo que sustenta a viagem de Bolsonaro à Rússia é a tentativa de ter alguma expressão internacional frente aos movimentos de Lula, que no fim do ano passado fez um giro pela Europa e demonstrou que ainda conserva importante relevância internacional e que teria apoio de vários chefes de estado caso eleito. Esse fator é menor no cenário geopolítico, mas em um ano eleitoral ganha enorme relevância para Bolsonaro. Com Lula forte entre os chefes de estado da Europa e com Moro como um dos prediletos dos democratas para as eleições no Brasil, é fundamental ao bolsonarismo agregar aliados na arena internacional. Aí é onde o conservadorismo e a LGBTfobia gritante de Putin e Bolsonaro se encontram..

Entretanto, é preciso relembrar o encontro no ano passado de Bolsonaro com o chefe da CIA, William Burns, para recordar que como capacho do imperialismo estadunidense, Bolsonaro segue sendo funcional e submisso aos EUA. Naquele momento, a ofensiva de destrumpização do atual governo brasileiro cedeu em prol de manter a estabilidade de um pilar central do “quintal estadunidense”, num contexto em que a América Latina estava atravessada por mobilizações populares.

Por isso, a viagem ao encontro de Putin, batendo o pé contra Washington, é uma interrogante para vários analistas. Outro motivo alegado por Bolsonaro seria a negociação de equipamentos militares, da qual a Rússia é uma grande produtora. Fato que justificaria a presença em peso da ala militar, pois integram a comitiva: Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência), Braga Netto (Defesa) e o secretário de Assuntos Estratégicos, o almirante Flávio Rocha. Os três comandantes das Forças Armadas também integraram o grupo.

Entretanto, esse motivo também não parece se sustentar, pois seria uma provocação direta à Otan, uma vez que o Brasil é “aliado preferencial extra-Otan”, nome dado aos países que usufruem de acesso privilegiado na compra de equipamento militar americano.A participação do alto comando militar dessa viagem não tem propósito claro. Estariam preocupados a dar sinal a Biden de que tem Bolsonaro sob controle, que não vai fazer nada que interfira nas suas intenções imperialistas na Ucrânia? Ou tem interesses nessa aventura diplomática?

Por fim, uma última hipótese para o presidente comprar essa briga com o governo Biden, seria o atual momento de enfraquecimento do democrata. Com o fim do “auxílio emergencial” estadunidense de US$1.400 (que já era muito menor do que o prometido em campanha), como também com o prolongamento da pandemia e a decisão do governo de obrigar os trabalhadores quarentenados à volta ao trabalho em meio à pandemia, Biden vem perdendo popularidade na esfera nacional. Somado a isso, o desgaste deixado pela operação de retirada das tropas do Afeganistão vem cobrando seu preço.

O trumpismo vê uma janela de oportunidades frente ao governo Biden para se relocalizar. É nesse sentido que Bolsonaro atua para dar uma uma sinalização para Trump e para sua própria base social. Se por um lado sua visita a Putin desagrada Biden, por outro pode não desagradar Trump que prefere ver seu antagonista em uma situação cada vez pior, que chefe do imperialismo ou não, segue sendo o principal ativo da extrema direita a nível internacional da qual Bolsonaro faz parte.

A irrelevância do Brasil do ponto de vista militar não deve ser confundida com irrelevância política internacional. Para a imagem de Biden não é bom que um pária medíocre como Bolsonaro, capacho extremo de Trump, ouse visitar Putin em um momento de enorme tensão entre as duas potências. No jogo de cenas da política militar, a extrema direita internacional busca se manter alinhada, e quem sofre são os trabalhadores e povos oprimidos, seja sob as botas de Biden ou de Putin. E são esses trabalhadores, também, quem pode colocar fim à guerra imperialista, à extrema direita e às fronteiras nacionais do capitalismo. Fora as tropas e abaixo a OTAN na Ucrânia: nem intervenção imperialista, nem interferência militar russa! Por uma Ucrânia independente, operária e socialista!




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