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PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO | Depressão e alcoolismo cresce entre desempregados, aponta IBGE

Evandro NogueiraSão José dos Campos

quinta-feira 30 de junho de 2016 | Edição do dia

Enquanto o governo Temer quer impor aposentadorias a partir dos 70 anos de idade e o desemprego e a taxa de exploração continuam aumentando, vale a pena observar os dados divulgados nessa quinta, 30, do quarto volume da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, realizada a cada cinco anos por meio de visitas a domicílios de todo o país. Esse volume mostra a relação entre a condição no mercado de trabalho e alguns temas abordados nos volumes anteriores. Naturalmente, deve-se considerar que de 2013 para 2016 existem pronunciadas complicações no mercado de trabalho, com níveis de desemprego recordes, o que aponta para uma piora em geral do quadro traçado pela PNS.

Esse volume da PNS permite visualizarmos nitidamente efeitos danosos do desemprego para a saúde psicológica dos trabalhadores. A média nacional entre pessoas com 18 anos ou mais de idade com diagnóstico de depressão foi de 7,6% em 2013 (11,2 milhões), sendo que entre os que estão empregados foi 6,2% (5,6 milhões) e 7,5% para os desempregados (374 mil). O maior índice aparece entre os que estavam fora da força de trabalho, 10,2% (5,2 milhões), o equivalente a um em cada dez. Entre os trabalhadores com fundamental incompleto a média também fica acima da geral, chegando a 8,6%. Outro aspecto dos efeitos danosos à subjetividade dos trabalhadores desempregados é o crescimento do consumo abusivo de álcool, chegando a 20,5% (1,0 milhão), enquanto entre os empregados fica em 17,6% (15,8 milhões).

Mulheres são maioria nos casos de depressão e DORT

A depressão é uma das doenças que acaba por ferir mais mulheres do que homens. Enquanto para mulheres as médias ficaram por volta dos 10%, para homens por volta dos 3,%. Além de sofrerem com a opressão de gênero nos locais de trabalho, as mulheres também arcam com a dupla jornada e isso se liga aos demais casos de doenças. No caso das doenças crônicas, problemas de coluna estão entre os mais comuns e as mulheres tiveram maior proporção (21,1%) de diagnóstico médico do que os homens (15,5%), e em relação à ocorrência da DORT (Distúrbio Osteomolecular Relacionado ao Trabalho) as mulheres também apresentaram a maior proporção (3,3%) em relação aos homens (1,5%).

Agressões no local de trabalho

Em outro texto comentamos as agressões sofridas por funcionários de banco chinês. Nessa PNS também podemos ver um pouco dessa realidade nos locais de trabalho por aqui. Mais de 3% das pessoas de 18 anos ou mais sofreram alguma violência ou agressão por desconhecido (4,6 milhões), sendo que em 18,4% dos casos, a violência ou agressão ocorreu no local de trabalho (846 mil). Já as agressões ou violências vindas de conhecidos atingiram 2,5% das pessoas com 18 anos ou mais (3,7 milhões), sendo que 11,9% delas (439 mil) foram agredidas no trabalho.

Metade das pessoas que sofreram acidente de trabalho deixaram de realizar atividades habituais

Como já demonstramos aqui, o volume anterior dessa pesquisa já nos permitia dimensionar o enorme fosso que existe na quantificação dos acidentes de trabalho em nosso país. Em 2013, cerca de 3,4% das pessoas de 18 anos ou mais de idade sofreram acidente de trabalho nos 12 meses anteriores à pesquisa (4,9 milhões). Desses acidentes, 32,9% das vítimas deixaram de realizar suas atividades habituais (1,6 milhão) e 12,4% ficaram com alguma sequela ou incapacidade (613 mil). É preciso observar também que entre os acidentes computados como “de trânsito”, 32,2% estavam em deslocamento para o trabalho (1,4 milhão) e 9,9% trabalhando (445 mil), sendo que 3,1% das sofreram algum acidente com lesões corporais (4,5 milhões). Também vemos que entre as vítimas de doenças de trabalho, como a DORT, a diferença foi pequena entre os ocupados (2,8% ou 2,5 milhões) e os desocupados (2,6% ou 129 mil), o que é compreensível, uma vez que os trabalhadores atualmente desempregados já tiveram oportunidade de se machucarem trabalhando, pois esse tipo de lesão tende a se estender no tempo em seus efeitos.

Características do trabalho precário

O trabalho precário não aparece nomeado na PNS, mas está presente como pano de fundo de algumas estatísticas também. Para o IBGE, são considerados indivíduos fisicamente ativos no trabalho aqueles que andam a pé, fazem faxina pesada, carregam peso ou realizam outra atividade que requeira esforço físico intenso. No país, 14,0% das pessoas de 18 anos ou mais de idade eram fisicamente ativas no trabalho. Este indicador foi mais representativo entre as pessoas sem instrução e fundamental incompleto e com fundamental completo e médio incompleto, com percentuais de 17,3% e 17,4% nesta ordem. A partir daí, à medida que aumenta o nível de instrução, os percentuais referentes a esta população demonstram queda. Outro aspecto do trabalho precário está no deslocamento. Com a inflação e desvalorização dos salários, cresce a opção pela caminhada para chegar ao trabalho ou mesmo a bicicleta. Sobre isso a PNS já identificou que dentre os adultos brancos, 28,7% praticavam 30 minutos diários de atividade física no deslocamento, entre os pretos essa frequência foi de 38,3% e entre os pardos 33,9% (o IBGE coloca as opções para a pessoa se identificar).

Essa realidade precisa ser enfrentada fortalecendo a voz anticapitalista

Como dissemos no início, esses dados da PNS correspondem a 2013, quando o desemprego no país foi de 7% na média, sendo que em 2016 já está pelos 11% e com expectativa de subir mais. Essa diferença necessariamente repercute em todos os dados levantados pela pesquisa, que relaciona condições do mercado de trabalho com a saúde da população. Contra essa realidade, nós do Esquerda Diário defendemos uma saída operária para essa crise que aflige o país e as condições de vida dos trabalhadores, assim como apoiamos a pré-candidatura de Diana Assunção a vereadora em São Paulo, para fortalecer a voz anticapitalista na cidade - “Ao mesmo tempo não poderei deixar de dar destaque a uma luta que venho participando com centenas de trabalhadoras há alguns anos, a luta contra o trabalho precário e terceirizado, seja na limpeza, nas fábricas e que atinge principalmente as mulheres, os negros, os LGBT e a juventude trabalhadora. ”




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