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LÍBANO | Depois de seis dias seguidos de protestos, greve geral no Líbano pela queda do governo

Em resposta às reformas neoliberais impostas pelo governo do primeiro-ministro Saah Hariri, manifestantes seguem pelo sexto dia seguido em luta.

Artur LinsEstudante de História/UFRJ

terça-feira 22 de outubro de 2019 | Edição do dia

Nessa terça (22), os libaneses declararam greve geral contra as medidas econômicas impostas pelo governo, que para saldar sua imensa dívida pública chegou a impor uma taxa sobre o uso do WhatsApp. Foi a faísca que incendiou todo um mal-estar social acumulado há anos com a autoridade dos partidos tradicionais e com o regime sectário em bases religiosas que foi fundado como “consenso” para o término da guerra civil em 1990.

Não à toa, todos os chefes corruptos dos partidos religiosos no poder estão se alinhando com o sunita Hariri e se colocando contra as massas que estão na rua pela queda das reformas e pela superação do regime vigente. Caso do partido xiita Hezbollah, de Hassan Nasrallah (que pelo regime sectário-religioso comandam a Câmara Legislativa) e do presidente cristão Michel Aoun. Os dois tentam a todo custo evitar a queda do primeiro-ministro.

No entanto, nas ruas se vê a população se solidarizando entre as diferentes distinções religiosas do país, que convém lembrar, vai muito além das três mais comungadas: o sunismo, o xiismo e o cristianismo maronita. Ao invés de levantarem demandas de caráter confessional, se canta nas ruas a palavra de ordem da “Revolução” e “que caia o governo”. Ao contrário das cores das suas religiões, o que mais se vê são pessoas levantando as cores da bandeira do Líbano. Algo semelhante no que ocorreu nos países vizinhos durante a Primavera Árabe.

Nas principais ruas das cidades do país barricadas foram montadas para dificultar a movimentação das forças de repressão. Na cidade de Dora, a principal via rodoviária está bloqueada pelos protestantes.

Bancos e escolas continuam fechados, com manifestantes persistindo em protestar desde cedo nas regiões central de Beirute (capital do país) e de Trípoli. Enquanto isso, o governo prepara mais repressão e planeja colocar mais soldados e policiais nas ruas, principalmente para desbloquear as vias rodoviárias.

A luta de classes volta à cena internacionalmente

O cenário de luta que se desenvolve no Líbano não está separado das lutas que também se desenvolvem no Chile e que marcaram recentemente a França, o Equador, o Haiti e Honduras. Internacionalmente, tanto nos países ricos quanto nos da periferia capitalista, os trabalhadores questionam nas ruas as políticas neoliberais de ajustes, desmonte de direitos trabalhistas e sociais, privatizações e precarização das condições de trabalho.

Apesar das características peculiares da crise libanesa, como o saque endemicamente corrupto dos recursos financeiros estatais pelos grupos religiosos abrigados no poder desde o fim da guerra civil (na realidade, são os mesmos caudilhos das facções religiosas que anos atrás se encontravam no conflito) e o altíssimo volume da dívida por causa da necessidade de reconstrução do país, no Líbano, assim como no Equador, o imperialismo atua para saquear os recursos dos países mais pobres e com mais debilidade para enfrentar crises econômicas.
Para saldar sua imensa dívida pública, o governo libanês recorreu a um empréstimo com fundos de investimento internacionais que em contrapartida exigiram um pacote de ajustes e privatizações draconianos para que a população trabalhadora pague pela crise.

Seguindo as exigências do imperialismo, o primeiro-ministro Saah Hariri impôs a diminuição pela metade dos salários de funcionários públicos, políticos e ministros; a abolição do Ministério da Informação e de outros aparelhos institucionais; a privatização de setores estratégicos da economia como telecomunicações e eletricidade; e dentre as medidas anunciadas a mais inusitada e que causou o estopim da revolta popular: a taxação do uso do WhatsApp.

Hariri retrocedeu na proposta de taxação do WhatsApp, porém essa atitude não diminuiu a vontade de luta e esperança dos libaneses num futuro melhor. É verdade que muitos anseiam por uma estabilidade na economia e por melhores serviços públicos (demandas que já estavam presentes no último movimento de massas ocorrido no Líbano entre 2015-2016), sendo fortemente contrários a cartilha neoliberal que está sendo aplicada em todo o mundo, mas nesse momento a gota d’água é o próprio regime político instaurado para “equilibrar” as antigas forças político-religiosas que lutaram entre si pelo controle do Estado na última guerra civil.

Na prática, esse equilíbrio é uma crise permanente e hoje tem sua autoridade em xeque diante dos protestos de seis dias seguidos e pela greve geral da população contra o governo.




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