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LUTA CONTRA O AUMENTO | Depoimento de secundaristas sobre o 5º ato contra o aumento em SP

O Esquerda Diário colheu depoimentos de secundaristas que estavam no 5º Grande Ato contra o aumento da passagem em São Paulo. Os relatos são de quem estava num campo de batalha só esperando a primeira bomba explodir. Confiram na íntegra!

sábado 23 de janeiro de 2016 | 00:00

Thamara

Quinta-feira, quinto grande ato contra o aumento da tarifa dos transportes em São Paulo. 17h, e o ato está concentrado no Terminal Parque Dom Pedro II (terminal que foi fechado pela tropa de CHOQUE pra impedir que os manifestantes o fechassem, aliás).

Depois de uma hora e meia de concentração, representantes do MPL começam um jogral para informar que a polícia não iria nos deixar seguir em frente com o trajeto inicial (Av. 23 de Maio até a ALESP). As ordens são claras: ou aceitamos o percurso da polícia (seguir em frente até a Praça da República e encerrar ali) ou não haverá ato.

Mais uma hora se passa e o MPL segue em negociação com a polícia. Uma assembleia coletiva é feita e por votação decidimos seguir em frente com o nosso trajeto inicial. A polícia dá o aviso: Só usará de repressão se os manifestantes agirem com violência. O ato começa a andar, o caminho segue tranquilo com os manifestantes cantando seus protestos.

Pouco tempo depois, ainda na Libero Badaró, uma bomba de efeito moral explode no meio dos manifestantes. Algumas poucas pessoas dispersam, mas conseguimos nos reagrupar e seguimos em frente. Algum tempo depois há novo ataque, dessa vez com bombas e spray de pimenta. Os manifestantes resistem e seguem em frente até a Praça da República. Alí a PM impede que sigam com o trajeto.

O ato para e mais uma vez representantes do MPL tentam negociar com a polícia, mas não há acordo. Os manifestantes reagem com gritos de "Não tem arrego" e "Deixa passar". Um tumulto se forma na linha de frente e a PM começa a dispersar os manifestantes atirando bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta, tiros com bala de borracha e agressões físicas. A multidão dispersa, mas a violência começou e não vai parar tão cedo. O que se vê a seguir é uma verdadeira guerra, ruas se transformam em campos de batalha, a polícia perseguindo manifestantes, black blocs reagindo com ataques a polícia.

Um senhor de idade usando muletas cai ao meu lado e entra em desespero, está com o rosto e os olhos ardendo e não consegue respirar. Meu amigo Carlos passa um pano com soro no rosto dele para aliviar os efeitos do gás, enquanto alguns homens se jutam a nós e tentam levantar o senhor. Mais bombas explodem perto de nós, os homens pegam o senhor no colo e correm com ele para longe dali. Seguimos dando voltas pelo centro, fugindo da repressão e procurando um metrô aberto para irmos embora.

Na estação República somos informados que a estação Santa Cecília e a Anhangabaú estão abertas, mas algumas pessoas informam que passaram por lá e elas estavam fechadas. Depois de quase uma hora de discussão entre a polícia e trabalhadores na entrada do metrô, os portões são abertos. Enfim outro dia de luta se encerra, mas o recado foi dado: não nos calaremos.

Thalita

O 5º grande ato contra a tarifa, confesso que toda vez antes dos atos eu sempre vou ansiosa demais, com um frio na barriga que quase não da pra disfarçar. Mas dessa vez foi diferente, eu tentava não criar aquele roteiro de sempre na minha cabeça “Nós iremos chegar na concentração, alguns minutos andando e a eu vou ter que correr enquanto não consigo respirar”.

Talvez fosse pelo 3º ato, que foi pacifico e pudemos enxergar como uma vitória. A verdade é que por trás de tudo isso, ninguém saiu de lá vitorioso, todos estavam desconfiados com o “silencio” da PM que de fato, nunca fica pacífica. E foi isso que pude perceber assim que cheguei na concentração, um ar de desconfiança dominava tudo ali e é impossível que isso não aconteça em qualquer que seja o ato. A imagem de todo aquele policiamento nos cercando enquanto éramos apenas uma concentração me remeteu as lembranças do massacre do segundo ato e logo mais uma coincidência com o segundo ato, a policia não queria deixar que seguisse o trajeto que foi escolhido pro ato.

Logo as pessoas se olhavam como se já soubessem, uns até brincavam dizendo “Eu dou 20 minutos pra que soltem a primeira bomba” e de fato, eu também sabia que iria acontecer. Foi um longo tempo que ficamos parados, circulando pela concentração e fazendo jogral. A cada um deles eram noticias que afirmavam o que iria acontecer, a PM em uma negociação com o MPL sobre o trajeto, votações sendo feitas para novas rotas para o ato. A proposta da PM era que seguíssemos até a Republica e de lá decidir o que seria feito e a nossa há de que fosse mantida a rota original do ato, logo todos votaram na segunda opção. E depois de algum tempo, o ato começou.

Eram palavras de ordem, barulho de bateria e algumas conversas sobre o próprio ato que mantinha o tempo todo um ar de desconfiança, porque na verdade todos sabiam que assim que chegássemos na Republica, começaria toda repressão. E assim foi, assim que nos aproximamos já começaram a surgir os comentários como “Fiquem espertos que a partir daqui a coisa vai ficar feia” todos sabiam o que iria acontecer, como se estivéssemos indo nos entregar de bandeja. Logo o ato para e confirmação de tudo o que pensávamos acontece quando sentamos pra um jogral. E adivinhem? A policia não queria deixar o ato passar, me perdoem se isso soou obvio demais, mas isso já estava na cabeça de todos que estavam naquele ato.

Logo surgiram as palavras de ordem “Deixa passar a revolta popular” e a resposta meus senhores? Bombas! Porque é isso que eles usam pra tentar calar nossos gritos, a resposta era o som daquelas bombas que era como um grito que dizia que a revolta popular não tem voz nesse regime ditador disfarçado de democracia. A resposta as palavras de ordem que gritamos, foi um ato se dispersando, pessoas em pânico, pessoas machucadas. Assim como o rapaz que estava encostado na parede da praça com o rosto sangrando, como as pessoas que caem no chão com o desespero das bombas, como a repressão que sofrem aqueles que são abordados quando o ato se dispersa. Só confirma que a policia não está ali para garantir que nada além do seu titulo de “Policia mais assassina do mundo” seja mantido com toda a repressão que acontece nos atos.

Carlos Daniel

Estava no 5° Grande ato contra o aumento da tarifa com mais 4 colegas na hora em que a repressão do batalhão da choque começou.

Estávamos caminhado normalmente com o ato, nada de errado ainda havia acontecido. Passamos pela prefeitura e fomos a caminho da praça da República. Chegando lá o ato parou e ficou por uns 5 minutos ali, foi quando fizeram um jogral para explicar o porque o ato havia parado.

Foi dito que, o ato havia parado porque o batalhão do choque havia feito um cordão na linha de frente e que não iria deixar que nenhum manifestante continuassem o ato, eles queriam que o ato acabasse por ali. Então eu resolvi ir para linha de frente com mais uma colega (Thamara) para perguntar o porque não podíamos continuar com o nosso ato, então uma representa do MPL falou pra nós que eles não queriam que o ato continuasse porque a secretária de segurança havia dito para eles pararem o ato.

Então eu e minha colega Thamara resolvemos ficar na linha de frente para ver o que seria resolvido e passar para as outras pessoas que estavam com nós. Ficamos lá por cerca de 3 minutos e foi quando a repressão começou por volta de umas 21:50.

Eu não sei bem o motivo da repressão ter começado mais só conseguir ver um homem que estava vestido com uma camiseta amarela e uma bermuda branca empurrando o pessoal da linha de frente para cima do batalhão do choque foi aí que começaram a atacar as bombas. Eu comsegui correr porque os polícias estavam atirando muitas bombas e batendo nos manifestantes com o escudo e espirrando spray de pimenta nos olhos das pessoa que estava em linha de frente.

Conseguir correr até uma banca jornal pois não tinha para onde ir porque estávamos cercado, atacaram uma bomba do nosso lado mais conseguimos nos proteger.

Porém quando atiraram essa bomba eu ouvia muita gente gritando socorro, havia um senhor de idade do nosso lado que estava de muleta e acabou caindo no chão com o susto da bomba tentamos socorrer ele passando um pano com vinagre no rosto, mais ele estava gritando demais estava com muita dor mais os polícias começaram a atacar mais bomba era praticamente meio segundo para cada bomba então decidimos ir para outro lado porque ali estávamos correndo perigo, um grupo de black bloc tirou o senhor de lá e levou para um lugar mais seguro. Havia um outro grupo que gritava muito pedindo por água porque um menino estava sangrando muito, não sei se ele levou um tiro de bala de borracha, más apareceu alguns socorristas e ajudaram ele.

Consegui chegar na estações de metrô mais estava fechada como de esperar, os guardas falaram que só iria abrir quando tudo se acalmasse. Esperamos cerca de uns 30 minutos foi quando liberaram o metro para nós entrar. Então fomos embora .




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