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EUA: GEORGE FLOYD | Left Voice: "Se matam um dos nossos, nos rebelamos: justiça para George Floyd e todas vítimas do Estado racista"

Declaração da Left Voice, seção estadunidense da rede internacional Esquerda Diário

sábado 30 de maio de 2020 | Edição do dia

George Floyd foi assassinado na segunda-feira, 25 de maio. Suas últimas palavras foram "Não consigo respirar", lembrando o brutal assassinato policial de Eric Garner pelas mãos da polícia de Nova York em 2014. O ódio se espalhou por todo o país. Devemos transformar essa raiva em luta e organização.

O Estado é responsável

A violência contra negros e latinos está se intensificando como uma das conseqüências das ações dos governos federal e estaduais para "combater" a pandemia. Eles não se preocupam com a vida dos pobres e dos trabalhadores e, enquanto vários estados estão adotando medidas para reabrir a economia, a polícia - a ala armada do governo capitalista - se certificou de dobrar a repressão aos negros. Os recentes assassinatos de George Floyd, Breonna Taylor e Sean Reed por parte da polícia, bem como o assassinato de Ahmaud Arbery (por supremacistas brancos), representam esse aumento da violência racista da polícia e dos vigilantes brancos.

Estamos do lado daqueles que estão indignados com as cenas do horrível vídeo do assassinato de George Floyd. Derek Chauvin, policial de Minneapolis, manteve o joelho no pescoço de Floyd por oito minutos na frente de uma multidão de pessoas que o filmava. Em algumas vezes, ele sorri enquanto Floyd grita: "Não consigo respirar". Essa foi uma descrição brutal do que o Estado e a polícia têm a oferecer à comunidade negra. Este país foi fundado com a escravidão; os negros não tinham direitos civis básicos até 1965. Foi a luta anti-racista, com os trabalhadores negros e seus aliados na vanguarda, que acabou com as leis de Jim Crow. Mas o Estado e os capitalistas dos Estados Unidos (EUA) demonstraram uma criatividade ilimitada em sua capacidade de revitalizar e armar o racismo. Repressão, pobreza, encarceramento em massa e violência policial são características-chave de como esse Estado imperialista mantém a ordem.

A crise do Covid-19 colocou elevou a opressão racial contra pessoas racializadas, especialmente os afro-americanos. As e os negros foram desproporcionalmente infectados e mortos pelo Covid-19 devido à falta de assistência médica, ao racismo no sistema de saúde, ao racismo ambiental, à dieta deficiente e ao fato de que os negros são desproporcionalmente representados entre os trabalhadores precários, os de baixos salários e os trabalhos essenciais.

Minneapolis, onde George Floyd viveu, é uma cidade altamente segregada, com desigualdades raciais extremas. A crise habitacional tem afetado a comunidade afro-americana há décadas, e a taxa de desemprego pré-crise era de 4% para a comunidade branca e de 12% para a comunidade negra. Com a pandemia, as desigualdades raciais se aprofundaram. Mais de 40 milhões de empregos foram perdidos nos EUA desde que a crise começou. Mais de 16% dos empregos perdidos em abril foram de afro-americanos. Em Minnesota, a taxa de desemprego em abril foi de 8%, e a maioria dos que perderam seus empregos era negra; Enquanto isso, os negros representam apenas 18,2% da população em Minneapolis. Não é um incidente isolado que George Floyd tenha sido assassinado enquanto tentava comprar comida. A classe trabalhadora negra e os pobres vivem em desespero.

Derek Chauvin e os policiais que participaram do assassinato de George Floyd são responsáveis. Os chefes do Departamento de Polícia de Minneapolis e todas as instituições policiais estaduais são responsáveis. O Estado é responsável. Vidas negras não importam para o Estado capitalista.

Donald Trump e o regime também são responsáveis

Vidas negras também não importam para Trump, que aceitou o respaldo do KKK [Ku Klux Klan] durante sua campanha e que nunca escondeu seu desdém pelos negros. Trump chamou as cidades de maioria negra de "infestadas por ratos" e promulgou proibições de viagens a pessoas vindas de certas nações africanas, às quais ele chama de "países de merda".

Durante seu tempo de governo, Trump encorajou a polícia, o aparelho estatal e os grupos de direita a mostrar de maneira ainda mais aberta e brutal o seu racismo. Foi o joelho de Trump que pressionou o pescoço de Floyd, era o dedo de Trump que estava no gatilho da arma que matou Breonna Taylor e são as mãos de Trump que seguravam a espingarda que matou Ahmaud Arbery. Trump é responsável. Ontem em um tweet, ele ameaçou diretamente os manifestantes de Minneapolis, dizendo que enviaria o exército para reprimir e que os "saqueadores" deveriam ser fuzilados, na tentativa de criminalizar o protesto.

Enquanto isso, os democratas tentam se posicionar como uma alternativa a Trump, mas também são igualmente culpados. Foi o governador democrata de Minnesota, Tim Walz, e também o prefeito democrata de Minneapolis, Jacob Frey, que ordenou o envio da Guarda Nacional para reprimir os protestos. Joe Biden, candidato presidencial democrata de 2020, escreveu o projeto de reforma penal de 1994 que fortaleceu a capacidade do Estado de brutalizar, criminalizar e aprisionar desproporcionalmente os negros. A ex-candidata presidencial Amy Klobuchar emitiu um comunicado pedindo uma investigação e prestação de contas sobre o caso George Floyd, mas quando era promotora pública do distrito, nunca acusou policiais assassinos em "mortes relacionadas a policiais". Isso incluiu se recusar a acusar Chauvin, o mesmo policial que matou Floyd, e seu parceiro Tou Thao que já tinham sangue em suas mãos e dezenas de queixas da comunidade antes de Floyd ser morto. Em vez disso, Klobuchar usou sua posição como promotora do distrito para condenar injustamente um adolescente negro e mandá-lo para a prisão perpétua. Os democratas, não menos que Trump, são responsáveis ​​pelos assassinatos, injustiças e indignidades cometidas pela polícia racista.

"Processar a polícia. Sem justiça, sem paz"

Depois que o vídeo do assassinato de Floyd se tornou viral, Minneapolis se tornou o centro de intensas mobilizações para expressar a raiva e nojo frente a esse caso. Na vanguarda da mobilização estão os jovens negros que Trump e a direita querem criminalizar. Ontem, uma delegacia foi incendiada por manifestantes que enfrentaram a repressão policial por horas. As palavras de solidariedade do prefeito Jacob Frey não passam de palavras vãs, pois a polícia foi chamada para dispersar os manifestantes. Sem se preocupar com a segurança das pessoas, a polícia jogou bombas de gás lacrimogêneo; essa é uma tática particularmente brutal, considerando que a tosse com gás lacrimogêneo aumenta o potencial de transmissão do coronavírus. Cantando "Processar a polícia. Sem justiça, sem paz" e "Não consigo respirar", os manifestantes não recuaram.

Mas o Estado não está apenas reprimindo os manifestantes: está tentando se equilibrar ao meio da indignação, se esforçando para separar as massas indignadas da vanguarda combativa do movimento. Devido ao protesto massivo causado pelo assassinato de Floyd, o Departamento de Polícia de Minneapolis demitiu os policiais envolvidos no caso. Além disso, o FBI tomou o caso como uma investigação de "direitos civis" e acaba de anunciar que Chauvin foi preso pela polícia de Minneapolis. Mas os outros três policiais que assassinaram George Floyd permanecem livres. E enquanto a polícia reprimia manifestantes em Minneapolis, Los Angeles e Louisiana, a polícia anti-distúrbios protegia a residência de Chauvin. O Departamento de Polícia de Minneapolis disse que vai realizar uma investigação e agirá a respeito do caso, mas isso é apenas um resultado direto dos protestos desta semana.

Apesar de desconfiarmos profundamente das instituições repressivas do Estado e não acreditarmos que possam ser reformadas ou democratizadas, não podemos permitir que o Estado se safe desses crimes. Pedimos a prisão dos quatro policiais assassinos que foram gravados cometendo esse crime hediondo. A polícia e o Estado não farão isso sozinhos; quase nunca os policiais que matam negros são presos. Mas com a força de nossa mobilização, essa conseqüência tão básica pode ser imposta. Queremos enviar uma mensagem clara à polícia: se matam um de nós, todos nos rebelamos para proteger a comunidade negra e a classe trabalhadora.

O assassinato de Floyd não foi um ato isolado: é o resultado de como os negros são submetidos a vigilância. Portanto, é vital investigar os chefes de polícia por trás desse crime. Mas o FBI é a mesma instituição federal que atacou e matou pessoas que lutaram por direitos civis, que desenvolveu a COINTELPRO [Programa de Contra Inteligência] para assassinar e aprisionar ativistas negros. Certamente, agora, sob o controle de Trump, o FBI não tem interesse em entrar com processo e obter justiça para Floyd. Eles estão interessados ​​em falsificar e ocultar provas: a polícia faz isso regularmente. Com isso em mente, é vital sair às ruas e se mobilizar por Justiça para Floyd para obrigar o Estado, tanto a polícia quanto o FBI, a investigar o caso com total transparência. Para garantir que uma investigação real seja realizada, é necessário organizar uma comissão independente de inquérito composta por advogados, organizações de direitos humanos, bem como membros da comunidade de Minneapolis, sindicatos e organizações de base. Essa investigação deve ter acesso a todo o material usado pelo FBI, ter acesso a todas as suas iniciativas e controlar a investigação apresentada pelo Estado. Também devemos lutar pelo fim da repressão dos manifestantes, pela retirada da Guarda Nacional em Minneapolis e pela libertação imediata de todos os manifestantes presos.

Unificando a luta independente contra a crise pandêmica e econômica e o racismo

Temos que construir um movimento de massas nas ruas e em nossos locais de trabalho para atacar com um só punho a brutalidade racista da polícia. Isso significa unir o movimento por justiça à luta de trabalhadores essenciais que estão se mobilizando para se protegerem contra a pandemia; significa exigir que os sindicatos assumam e liderem a luta contra a violência policial. Essas lutas são uma mesma coisa: a luta contra a brutalidade policial faz parte da luta por equipamentos de proteção pessoal, pelo pagamento por trabalho de risco e por licença médica remunerada.

Não apenas os negros são excessivamente super representados nas fileiras daqueles que são forçados a voltar ao trabalho, dos que já estavam trabalhando ou dos que agora estão desempregados, mas o mesmo sistema capitalista também encaminha trabalhadores da linha de frente e negros para a morte todos os dias para proteger seus lucros. Lutar por um exige lutar por todos. Tal esforço coordenado - de mobilizações nas ruas e ações de greve dos sindicatos - seria imparável, atingindo o sistema capitalista racista onde mais dói e apresentando uma força unida contra o Estado repressivo; isso é indispensável na luta por justiça para as vítimas da violência estatal e todas as vítimas da opressão capitalista.

Além disso, como socialistas, devemos construir um terceiro partido. O Partido Democrata não tem nada a oferecer aos negros, às pessoas racializadas, à classe trabalhadora. Precisamos de um partido de trabalhadores e de todos oprimidos genuinamente socialista e completamente independente dos partidos capitalistas. Esta organização tem que organizar a luta contra o racismo e contra o regime imperialista dos dois partidos. A classe trabalhadora estadunidense multiétnica só pode confiar em sua própria força.

Abolir a polícia, não reformá-la

A justiça para as vítimas da violência estatal não consiste somente em responsabilizar os policiais racistas individualmente. Consiste em erradicar um sistema baseado na opressão racial e na exploração de classe. A polícia abusa, atormenta e assassina negros e negras desde tempos imemoráveis com as patrulhas de escravos no sul e os protetores da propriedade privada. Deve haver também a condenação internacional dos assassinatos policiais, não somente nos Estados Unidos como em todo o mundo. Para isso, compartilhamos do sentimento pela abolição da polícia e das prisões. Para desmantelar estas instituições, que são fundamentais para proteger o domínio da classe dominante sobre os explorados e oprimidos, é necessário que a classe trabalhadora em seu conjunto adote uma perspectiva antiracista e anticapitalista.

À medida que o Estado capitalista avança em uma reabertura da economia à serviço de suas ganancias, sabemos qual papel irá cumprir a polícia. Com um número recorde de desemprego e avisos de desalojamento pendentes, os policiais serão chamados a executar os vereditos do capital. Os policiais obrigarão as pessoas a abandonar seus lares. Os policiais tomarão medidas enérgicas contra a classe trabalhadora e os pobres enquanto estes lutam para sobreviver. Se não nos defendemos, os policiais estarão livres para massacrar as comunidades negras e latinas. A classe trabalhadora deve se unir para defender nossas comunidades destes ataques.

Justiça por George Floyd, Breonna Taylor, Sean Read e Armaud Arbery!

Julgamento de Derek Chauvin e a de todos os policiais envolvidos no assassinato de George Floyd!

Fora Guarda Nacional de Minneapolis!

Não à criminalização e à repressão dos protestos!




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