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TRIBUNA ABERTA | Debater igualdade de Gênero é compromisso social do professor SIM!

Vanessa OliveiraProfessora do ABC

quinta-feira 19 de maio de 2016 | Edição do dia

Recentemente a Dra. Marisa Lobo, umas das mulheres da linhagem “Recatadas e do Lar”, que de forma alguma representa as mulheres trabalhadoras, e uma das defensoras da Cura Gay, que já chegou a ter seu registro cassado pelo (CRP) Conselho Regional de Psicologia em 2014, recuperando–o somente ano passado, por tentar oferecer atendimentos pautados em uma “psicologia cristã”, presenteou semana passada com seu livro “ A Ideologia de gênero na educação” o novo ministro da saúde Ricardo Barros, e postou nas redes sociais seu grande interesse em promover sua ideologia discriminatória e deturpada sobre o assunto nos ambientes escolares e da saúde. Ao receber várias críticas, ela excluiu a mensagens, e pediu apoio da família cristã brasileira para divulgar, e comprar seu novo livro e dessa forma impedir tais práticas absurdas dos opositores da sagrada família.

Quando falamos de igualdade de gênero na escola, de forma alguma devemos pensar no professor como alguém que venha intervir, ou influenciar a orientação sexual dos alunos, ao contrário, a inclusão desse tema no ambiente escolar é uma ferramenta necessária para conscientização de respeito à diversidade presente em nossa sociedade.

Sabemos que hoje as mulheres e todos que constituem a classe LGBTS, são alvos da grande violência presente na sociedade. Se o papel da escola é transformar o aluno para atuar na sociedade como cidadão de direito e dever, as práticas pedagógicas sobre essa temática surgem para colocar em debate as desigualdades existentes entre gêneros, desde os brinquedos sexistas, práticas machistas, precarização do trabalho feminino e LGBTS, entre outros.

A falta de conhecimento leva ao pensamento ultrapassado de que a escola irá influenciar o aluno sobre sua opção sexual, para estudiosos e colaboradores dessa área existe um grande debate em torno desse assunto, mas é inegável que se tratando de orientação sexual e identidade, cada sujeito possui sua singularidade e deve ser respeitada.

A escola como lócus socializador deve combater práticas que discriminem e inferiorizem os diferentes tipos de pessoa, seu papel neste debate é o de conscientizar os indivíduos sobre o respeito ao outro acima de todas as diferenças.
Podemos apontar diversos casos onde é nítido refletir sobre gênero em ambiente escolar, a luta das meninas de shortinho nas escolas do RS no início do ano, onde a justificativa da escola em proibir o uso da vestimenta, foi que o short curto atrapalharia a atenção dos professores e alunos, demonstrando uma posição extremamente machista e naturalizada pela nossa sociedade, desconsiderou as justificativas das alunas, por meio de um padrão moral estabelecido socialmente.

O fato é que pessoas como Marisa Lobo ganham espaço e credibilidade nos espaços públicos da sociedade, e de forma discriminatória colocam suas crenças a frente de uma ciência, no caso a psicologia, ora estamos falando de algo teórico-cientifico que é fundamentado em estudos rigorosos, e de forma alguma deve ter embasamento em uma doutrina religiosa.

Mas do que nunca são necessários professores que busquem a transformação da sociedade, contribuindo com suas práticas educativas.

É necessário debater, refletir sobre essas questões que serão diárias na nossa prática pedagógica e não nos silenciar perante as diversidades e opressões.

Nossa contribuição é para formação de alunos críticos e livres, que possam ter autonomia em suas decisões, e não a favor de alunos reprodutivistas que seguem ideais que favorecem na maioria das vezes a elite branca e cristã brasileira.

Nosso compromisso social começa quando enxergamos no aluno um ser integral que tem direito dentro desta sociedade. Desde o ensino básico, os ambientes escolares são muitas vezes utilizados para perpetuação e a construção de padrões carregados de preconceitos, subordinação, machismo, e ao invés de incluir seus alunos num processo positivo, acabam excluindo ainda mais os alunos que são diariamente oprimidos.

Devemos oferecer a eles conhecimento filosófico, científico cultural e de boa qualidade. Contribuindo para sua aprendizagem sem pré-julgamentos, independente de sua condição social, histórica, familiar, e das desigualdades, sejam elas sociais, de raça, gênero, etc. Ao nos preocuparmos com o conhecimento científico e fugirmos dos rótulos impostos socialmente que são ferramentas que o capitalismo utiliza para nós dividir e aproveitar ainda mais da nossa força produtiva, só assim estaremos cumprindo uma parcela do nosso compromisso social, porque afinal são muitas, e todas devem ter como objetivo a emancipação humana. Ao contrário dessas práticas de ideologia de ódio e de exclusão que estão tentando colocar nas escolas, impedindo até de opinar, como a lei da Mordaça que está sendo aplicada em Alagoas.

Sabemos que esse golpe institucional dado pela direita quer mais do que nunca formar alunos numa concepção bancária, apenas para favorecer seus interesses mercadológicos.

Não somos máquinas, muito menos nossos alunos produtos, e a exemplo dos secundaristas e todos os estudantes universitários que já demonstram que os tempos são outros e que a luta se faz necessária, nos professores também devemos lutar junto a eles, nos posicionando, refletindo e discutindo para combater práticas absurdas como a dessa Dra. Marisa e de todos que a apoiam pautados em uma doutrina religiosa.

Que venham as lutas!


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