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OPINIÃO | Danuza Leão ataca protesto de atrizes com os piores jargões machistas: "mal amadas e solitárias"

A escritora Danuza Leão deitou e rolou nos jargões machistas para criticar o protesto das atrizes no Globo de Ouro. Em seu depoimento para o Globo, ela afirma desconhecer o que é assédio e afirmar que as atrizes foram "pouco paqueradas".

quinta-feira 11 de janeiro de 2018 | Edição do dia

Os jargões machistas usados por Danuza Leão, escritora, em sua declaração ao O Globo não é nada inovador. Em poucas linhas, ela conseguiu reunir todos e invisibilizar uma condição de assédio, violência e opressão brutal que vivem as mulheres.

O ponto de partida de seu debate foi o protesto no Globo de Ouro (para um questionamento, ver "Oprah presidenta dos EUA). Seu depoimento já inicia de maneira completamente absurda: "O que não está claro pra mim, é o conceito de assédio. É uma paquera?". Obviamente, a palavra consenso foge por completo do vocabulário de Danuza. Numa sociedade onde as mulheres são constantemente hipersexualizadas, em todas as condições: durante a amamentação, no trabalho, em casa, escolas, é um absurdo desconhecer o que de fato é um assédio. A industria do cinema e TV respiraram assédio historicamente: o famoso "teste de sofá" nada mais era do que "troca de favores", no caso das mulheres favores sexuais onde ofereciam seus corpos em troca de papéis.

Mulheres que se manifestam contra assédio sexual, como as atrizes, devem ter sido "pouco paqueradas" e devem ter "voltado sozinhas pra casa". O clássico dos argumentos machistas contra as mulheres que denunciam casos de assédio. A associação da mulher que nega uma aproximação e que sofre assédio sexual é constantemente associada à "amargura, falta de amor e solidão", uma forma banal e cretina de desqualificar aquelas que lutam contra o assédio.

Doloroso segundo Danuza é saber que uma mulher pode denunciar um homem de assédio e ele perder um emprego, quando na realidade doloroso é saber que 52% das mulheres já sofreram assédio sexual no local de trabalho e 86% das brasileiras já sofreram assédio fora de casa.

Para Danuza "Toda mulher deveria ser assediada pelo menos três vezes por semana para ser feliz". Muito pelo contrário, mulheres deveriam ter condições iguais de trabalho. As mulheres deveriam ter sua emancipação completa e absoluta, deveriam ter direito ao corpo, à maternidade, à liberdade sexual. A felicidade das mulheres reside numa luta intensa e brutal, ao lados dos homens, contra o capitalismo e toda sua exploração, que se apoia no machismo para lucrar e triunfar ainda mais sobre a classe trabalhadora. Em especial mulheres negras.

As denúncias das atrizes e a realidade aqui fora

Em artigo sobre a polêmica em torno do manifesto do coletivo de mulheres, entre elas Catherine Deneuve, Andrea D’Atri ilustra de maneira magnífica os limites entre essas denúncias e a realidade das mulheres da classe trabalhadora em relação ao machismo.

O manifesto foi usado pela mídia de maneira maliciosa, dando espaço para que possam "caçar feministas" e deslegitimar o assédio sofrido pelas vítimas. Ao contrário, o manifesto levanta pontos de intenso debate: ao mesmo tempo que as denúncias fortalecem outras mulheres, podem gerar uma onda de "puritanismo", uma "moral vitoriana" que possa exaltar que as mulheres restrinjam sua liberdade sexual.

D’Atri coloca de maneira objetiva e clara: "Mas as denúncias seriais das famosas, ao mesmo tempo que dão notoriedade ao tema da violência contra as mulheres, também correm o risco de banaliza-la. Quando um comportamento machista de um produtor ou diretor de cinema famoso, impedido em tempo por uma atriz milionária, adquire maior dimensão que um feminicídio, um estupro ou um abuso sexual, as que perdem – mais uma vez – são as mulheres anônimas, especialmente as vítimas das formas mais cruéis em que se manifesta a violência machista."

Claro que as denúncias se esbarram em limitações: Hollywood ganha notoriedade em suas denúncias e choca, quando a realidade fora de lá é ainda mais cruel com todas as mulheres. O Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio no mundo, é também o país onde mais morrem trans. O profundo da opressão machista e da exploração capitalista ultrapassam os limites dos muros de Hollywood.

A batalha contra o machismo, que se manifestam todos os dias nos casos de assédio, estupro, morte por aborto clandestino, violência doméstica e assédio no trabalho, será feita com uma dura luta contra o capitalismo e seu sistema de classes.

Leia na íntegra o texto de Andrea D’Atri: Hollywood, assédios sexuais e riscos de um puritanismo hipócrita




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