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GREVE NA USP | DCE Livre da USP se reuniu 6 vezes com a reitoria pelas costas dos estudantes

O áudio da última negociação do CRUESP revela que a gestão Nossa Voz do DCE, já se reuniu 6 vezes com a reitoria, desde que Vahan assumiu no dia 29 de janeiro. Mais vezes do que fizeram assembleia geral dos estudantes.

segunda-feira 11 de junho de 2018 | Edição do dia

Conforme mostra o áudio da negociação realizada no Cruesp no último dia 7 de junho, a partir da 1h e 18 minutos, o próprio diretor do DCE presente na reunião, confirma que elas aconteceram, mas não existe uma única ata no facebook e o site do DCE está desatualizado desde o ano passado. É um absurdo que a gestão do DCE tenha se reunido todas essas vezes com a reitoria sem nunca ter discutido, ou mesmo consultado, nem sequer informado o conjunto dos estudantes do que estava discutindo ou negociando, e em troca de quê.

Na primeira assembleia geral do ano, que só aconteceu no dia 26 de abril, foi votado que o DCE não poderia se reunir com órgãos ligados à reitoria sem passar por fóruns estudantis. O que na verdade nem deveria ser votado, pois as entidades estudantis tem a obrigação básica de debater os rumos do movimento com o conjunto dos estudantes e não a portas fechadas com o reitor. O DCE nem sequer informou a data dessas reuniões, nem o que foi debatido nelas. Isso expressa uma concepção profundamente burocrática de movimento estudantil, onde os estudantes não são sujeitos da defesa de suas demandas e o DCE serve para qualquer coisa, menos como uma ferramenta de organização dos estudantes.

No áudio não fica claro se essas reuniões foram antes da primeira assembleia geral, o que em si já seria absurdo pois se reuniram mais vezes com o reitor do que com os estudantes que supostamente representam. Ou se essas reuniões foram depois de terem perdido a votação em assembleia geral, ou seja, se a gestão passou por cima do fórum máximo de deliberação dos estudantes e seguiu sua política de negociar a portas fechadas com a reitoria sem ter o mínimo de respeito para ao menos informar os mais de 90 mil estudantes que deveriam representar. Não há como saber justamente porque o DCE nunca informou a data ou o conteúdo dessas reuniões, não se sabe quando e em que contexto ocorreram, e mesmo o fato de que existiram só veio a público porque a reitoria publicou o áudio no qual o reitor afirma, e o representante do DCE confirma, que ocorreram essas reuniões.

Que os estudantes possam ser informados, e opinar pelas assembléias, do que se discute e negocia em nome deles com a reitoria é uma questão democrática elementar, em qualquer momento. Mas durante uma greve, mais ainda, qualquer reunião com a reitoria, deve contar com representantes tirados nos espaços de deliberação da greve (assembleia e comando de greve), para negociar as pautas votadas em assembleia. Uma gestão eleita para DCE tem como papel fundamental fazer com que os estudantes se coloquem como sujeitos dessa luta, a partir dos espaços de democracia de base (fóruns, assembleias etc.) que precisam organizar. Não pode ser que achem que o DCE sirva para substituir a decisão coletiva dos estudantes. A atual gestão não fez assembléias nos mais de 90 cursos, e faz demagogia ao dizer que vem fazendo “fóruns de permanência” de onde tirou uma carta de reivindicações, que não foi apresentada ao conjunto dos estudantes e muito menos referendada em assembleia, e sequer tivemos informes qualificados sobre o que foi debatido nesses fóruns, quais as resoluções e quantos estudantes participaram.

Em vez de colocar seus 300 diretores a serviço de construir fóruns, reuniões e assembleias massivas para promover a discussão, trazendo mais estudantes para que se tornem sujeitos e construam a mobilização para aí sim conseguir pela força da mobilização vencer a reitoria, a gestão Nossa Voz acha que a partir da conciliação com a reitoria, podem conquistar as demandas dos estudantes. Colocam inclusive que só porque foram eleitos com esse programa, ele se sobrepõe às decisões dos fóruns deliberativos dos estudantes. Como se esses não tivessem o direito de discutir suas posições em fóruns mais amplos e em debates mais aprofundados do que período eleitoral. Como a atuação dos estudantes se restringe a votar em uma chapa uma vez por ano nas eleições da entidade

Essa concepção de movimento das correntes que compõe o DCE (PT, Levante Popular e UJS) é a mesma imposta nos sindicatos dirigidos pelos partidos dessas correntes de juventude, como a CUT e a CTB, que servem como um verdadeiro freio para as mobilizações dos trabalhadores, que por meio de diversas traições abriram espaço para a direita.

As entidades estudantis têm que se basear na mais ampla democracia de base, o DCE deve ter independência política da reitoria e dos governos. Nossa entidade se chama DCE LIVRE da USP justamente pelo seu caráter independente. Não podemos ter ilusão na reitoria nem no totalmente antidemocrático Conselho Universitário, que quando necessário vota ataques aos estudantes sob bombas. O reitor é escolhido diretamente pelo governador de São Paulo, ou seja, tem interesses políticos diretamente opostos aos dos estudantes que lutam em defesa da educação pública. O governo Alckmin/Márcio França seguiu a linha do governo golpista de sucateamento e privatização da educação pública. O reitor e o conselho universitário seguem a mesma agenda de ataques e, assim como Temer aprovou no governo federal, a reitoria aprovou a PEC do fim da USP congelando a verba da universidade.

A reitoria já mostrou mais de uma vez que não existe diálogo de fato com os estudantes. Se trata de uma disputa entre interesses opostos, que não podem se conciliar. Enquanto os burocratas do conselho universitário, aprovam cada vez mais a entrada da iniciativa privada e de empresas de terceirização na universidade, ou seja, fazem de tudo para lucrar em cima da educação pública, os estudantes defendem que as verbas repassadas pelo governo, sejam utilizadas para um ensino público de qualidade que possa estar a serviço da imensa maioria da população, com políticas de permanência e acesso. Além disso, para de fato conseguirmos arrancar nossas demandas tão necessárias, é preciso uma forte mobilização entre estudantes, funcionários e professores que imponha às reitorias e governos conquistas. Nossas demandas jamais serão conquistadas em reuniões a portas fechadas com a reitoria e a burocracia universitária. Por isso devemos rechaçar fortemente essa postura da gestão Nossa Voz. Somente com uma forte mobilização construída pela base é que poderemos derrotar a reitoria e os governos, e lutar contra o arocho salarial e por permanência para toda demanda, batalhando para que a universidade esteja de fato a serviço dos trabalhadores e de toda população.




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