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CORONAVÍRUS | Curva de infectados no RS dispara dias após Leite fazer 1º decreto de reabertura do comércio

Enquanto Eduardo Leite aparece como "sensato" com o "distanciamento controlado" para a reabertura, os dados mostram uma disparada nos casos e mortes pelo coronavírus desde o primeiro decreto para a flexibilização do comércio no dia 09/04.

quarta-feira 20 de maio de 2020 | Edição do dia

O governador Eduardo Leite (PSDB), que tenta aparecer como um polo "sensato" diante do discurso bolsonarista para gestão da crise do coronavírus, tem como proposta “inovadora” uma medida absurda de "Distanciamento Controlado", que na prática tem um modelo que flexibiliza ainda mais a abertura do comércio no estado, como já vinha fazendo desde o início da quarentena com seu primeiro decreto no dia 09/4. Mas Leite não garante de nenhuma forma efetiva um distanciamento social racional que só poderia ocorrer com a testagem em massa da população. Na mesma semana em que se iniciou o distanciamento controlado, 44 pessoas morreram (de 11 a 18 de maio. Ou seja, cerca de 30% das mortes ocorreram na última semana da pandemia que se iniciou há meses no estado, indicando expressivo crescimento.

Já são mais de 3.750 casos confirmados da doença em 225 municípios do estado, ultrapassando 150 mortes até então, de acordo com os dados divulgados pela SES (Secretaria Estadual de Saúde), baseados apenas nos casos notificados e desconsiderando o fator da subnotificação que sugere que os números podem ser bem maiores.

Mesmo assim, no início da quarentena, no dia 9 de abril, sem nenhum motivo técnico-científico, Eduardo Leite emitiu seu primeiro decreto que flexibilizou o isolamento social e permitiu que municípios decidissem sobre abertura de restaurantes, lancherias, salões de beleza e lojas de chocolate (já que a páscoa se aproximava), começando a atender aos interesses dos empresários que estavam pressionando pela reabertura do comércio.

Como era de se esperar, o resultado dessas medidas chega não só em números, mas na população que paga com as suas próprias vidas, e o nível de contaminação e de mortos pelo vírus no estado aumentou significativamente desde lá.

O coronavírus, de acordo com estudos, como se pode ver no gráfico abaixo, pode ficar incubado (estar presente no corpo sem a manifestação dos sintomas) por um período de 1 a 14 dias, sendo em média 5 dias, e levando mais 3 dias para manifestação de sintomas graves, sendo as pessoas que apresentam esses as únicas que estão sendo testadas nos hospitais.

Com a análise do gráfico “Número acumulado de confirmados por data de notificação”, que contabiliza os casos no Rio Grande do Sul, pode-se observar que por volta do dia 21, a inclinação da curva do gráfico aumentou de forma considerada e, quando descontamos o período que as pessoas demoram para apresentar os sintomas graves, que é quando são testadas e notificadas no gráfico (sendo no mínimo 8 dias), vemos que o fato de Leite ter permitido a flexibilização do isolamento e reabertura gradual do comércio em diversas cidades do estado foi um fator muito relevante para o aumento da inclinação da curva, o que levou a muito mais mortes por contaminações do que seria a tendência da curva anteriormente, como mostra o gráfico abaixo:

Com o aumento da curva de contaminação, seguiu também o aumento do número de vítimas fatais pelo coronavírus depois das sucessivas flexibilizações: entre a segunda-feira (18) e a segunda-feira passada (11), o estado contabilizou 44 mortes por conta da Covid-19, sendo isso quase 1/3 do número total, mostrando que de fato há um aumento exponencial de mortes por causa da doença.

A curva, que nos últimos dia deu uma estabilizada, seja pela falta de testagem ou por de fato ter estabilizado, tende a não ficar assim por muito tempo, pois no dia 9 de maio o governador emitiu seu novo decreto que começou a valer no dia 11, que flexibiliza muito mais o isolamento no estado com o chamado “Distanciamento Controlado” que permite também a abertura de uma série serviços não essenciais, e que trará efeitos devastadores e uma nova inclinação radical da curva. Esse distanciamento controlado divide o Rio Grande do Sul em 9 regiões e coloca quatro faixas de riscos potenciais: baixo, médio/baixo, médio e alto, sendo baseado no número de leitos de UTI disponíveis e no teste por amostragem feito pela Universidade Federal de Pelotas. O distanciamento controlado do governador foi visto por muitos setores como sensato, entretanto, disso não tem nada. Os leitos de UTI de muitas partes do estado costumam atingir sua capacidade de ocupação máxima todos os anos somente com a gripe comum e outros motivos. Além disso, o estudo feito pela UFPel, no qual leite se baseou para implementar a medida, testou apenas 4 mil e 500 pessoas no estado inteiro, o que representa 0,4% da população do RS e até mesmo a própria universidade se declarou contra a medida de flexibilização.

Curiosamente, mesmo com esses dados alarmantes sobre a disseminação e os impactos da doença no estado, com base no modelo de Eduardo Leite para o distanciamento controlado, o Rio Grande do Sul não apresenta nenhuma zona considerada de alto risco para a população! Eduardo Leite lamenta a ignorância dos bolsonaristas, como no vídeo que viralizou na internet, mas na prática segue o desejo de Bolsonaro em paulatinamente abrir a economia de maneira total. Diz uma coisa, mas faz outra.

Esse decreto permitiu, por exemplo, que a prefeitura da cidade de Passo Fundo, onde até então se tinha o maior número de mortes do estado e que agora se equipara com a capital, flexibilizasse ainda mais o comércio da cidade, atendendo ao interesse de grandes empresários, adicionando uma série de atividades a lista de “serviços essenciais” como academias e salões de beleza (que de essenciais não tem nada). Serviços esses que são permitidos uma vez que a região passou de zona de alto risco para zona de médio risco.

Leite ainda quer ir além com essa flexibilização, afirmando que os alunos da rede de escola pública que não tiverem celular ou computador em casa terão que retornar às escolas e ter aulas presenciais. Uma medida nefasta, contra os professores e alunos mais pobres terão que se expor ao coronavírus para que o governo cumpra com o ano letivo.

No final das contas, o projeto de distanciamento controlado não assegura nenhum controle sobre o distanciamento, e nem mesmo se faz possível realizar. É uma verdadeira receita para o desastre na medida junto com os decretos dos prefeitos, não garantem nenhum distanciamento e nenhum controle, uma vez que permitem a reabertura desenfreada de centros comerciais esperando que o sistema de saúde entre em colapso, pois o estado não cumpre com sua obrigação, em meio a uma pandemia, que seria a garantia de investimentos no sistema de saúde público e de testagens em massa para saber de fato que são as pessoas infectadas para que possam ser isoladas e receberem o devido cuidado.

Além disso, existe também o problema da subnotificação que acontece devido a carência de testes para a população, e que nos impede de ter uma noção precisa do número real de casos para consequentemente responder à crise sanitária. Essa subnotificação acaba servindo como uma política de Estado na crise atual, na medida em que subestima os números totais de doentes e infectados, ajudando no discurso de que o comércio pode reabrir sem muitos problemas. Além de supor uma necessidade menor de investimentos públicos em saúde junto de uma falsa impressão de que as medidas do governo estão surtindo efeitos positivos no controle da pandemia, quando na verdade a extensão desta está sendo criminosamente mascarada para todos.

Medidas como essas do governador e dos prefeitos arriscam a vida de toda a população e são aplicadas por pressão do empresariado que não se importa nem um pouco em passar por cima da vida dos trabalhadores, para defender seus ganhos acima de tudo. Como vai ser possível atender aos casos crescentes após os decretos de reabertura do comércio se até mesmo os profissionais da saúde estão em uma situação calamitosa dentro dos hospitais sem EPIs, com um quadro de profissionais reduzido e sem testes disponíveis até mesmo para aqueles que apresentam os sintomas da doença? A resposta será o colapso do sistema de saúde contabilizando mais corpos de pessoas que pagarão com as suas vidas pela medida “inovadora” de Eduardo Leite. Esse que mesmo tentando se diferenciar dos absurdos defendidos por Bolsonaro, não consegue esconder o que os dois têm em comum: ambos governam para os capitalistas e não exitarão em atacar a classe trabalhadora.

Frente a tudo isso, a única maneira sensata de começar a combater a crise de Covid-19 que se alastra pelo estado é garantindo testes massivos em toda a população de forma inteligente para saber de fato quantas pessoas estão infectadas hoje para organizar o isolamento social e oferecer o tratamento adequado a todos os infectados. Para isso, também é necessário aumentar os investimentos na saúde pública e fazer a ampliação dos leitos dos SUS e não esperar pelo o colapso do sistema público para tomar alguma medida sobre isso enquanto as pessoas morrem por falta de recursos médicos. É necessária também a contratação imediata de todos os profissionais da saúde desempregados e estudantes da área, hospitais preparados, aparelhos de ventilação mecânica suficientes, e EPIs (equipamentos de proteção individual) garantidos para toda a população que seguir trabalhando em meio a pandemia.

Para além disso, é preciso o fechamento de todos os serviços não essenciais, pois é um crime que os trabalhadores sejam obrigados a voltarem ao trabalho se expondo ao vírus sem a garantia de testes. Assim como deve haver um decreto categórico que proíba as demissões e que todos possam receber um auxílio no valor mínimo de R$ 2000,00 para que possam se manter em meio a crise.




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