×

ARÁBIA SAUDITA | “Culpa dos africanos” ou “culpa do calor”, diz Arábia Saudita após a morte de mais de 700 peregrinos

Uma imensa tragédia tirou mais de 700 vidas na peregrinação religiosa do hajj na Arábia Saudita. Autoridades locais culparam o calor ou os africanos pelas mortes.

sexta-feira 25 de setembro de 2015 | 00:49

O número de peregrinos mortos na confusão nesta quinta-feira em Mina, a 5 quilômetros de Meca, aumentou para 717, com 863 feridos, a maior tragédia mortal na peregrinação anual, conhecida como hajj, em mais de 20 anos. Este número de vítimas pode aumentar.

Muitas das vítimas foram esmagadas e pisoteadas até a morte. Dois sobreviventes entrevistados pela Associated Press disseram que a correria começou quando uma onda de peregrinos começou a caminhar contra uma massa de pessoas que iam em outra direção.

"Eu vi alguém tropeçar em uma pessoa que estava em uma cadeira de rodas e várias pessoas tropeçando sobre ele. As pessoas estavam subindo umas sobre as outras apenas para respirar", disse o egípcio Abdullah Lotfy, de 44 anos.

Lotfy disse que ter dois fluxos de peregrinos interagindo dessa maneira nunca deveria ter acontecido. "Não houve preparação. O que aconteceu foi algo que eles não estavam prontos", disse ele sobre as autoridades sauditas. O rei Salman, da Arábia Saudita, ordenou a criação de uma comissão para investigar o incidente.

A debandada ocorreu no cruzamento das ruas 204 e 223, quando os fiéis estavam fazendo seu caminho em direção a uma grande estrutura com vista para as colunas de pedra no ritual conhecido como “apedrejamento do diabo”.

Desculpas climáticas e racistas

O porta-voz da Defesa Civil disse que as altas temperaturas e o cansaço dos peregrinos também podem ter sido um dos fatores do desastre. Ele disse que não havia nenhuma indicação de que as autoridades tiveram culpa do acontecimento, acrescentando que "infelizmente, esses incidentes acontecem”. Como se fosse algo inevitável uma tragédia de tamanhas proporções em um evento anual que acontece a mais de um milênio e o calor em meio a Península Arábica pudesse ser uma explicação plausível.

Ainda mais absurda foi a explicação dada pelo governador de Meca, o princípe Khaled al-Faisal, para ele "alguns peregrinos de nacionalidades africanas" seriam responsáveis pela confusão.

Para a elite monárquica que usurpa as riquezas do país em benefício próprio e do imperialismo só poderiam ser "inferiores" que fossem culpados de tal tragédia. E nada mais "inferior" que os africanos a uma monarquia reacionária em todos aspectos, de seu racismo a machismo a seu papel de aliada preferencial dos EUA para oprimir os povos da região, como na recente invasão do Iêmen e durante a primavera árabe na invasão do Bahrein para reprimir manifestação de massas.

O tradicional adversário saudita, o Irã, responsabiliza o governo saudita

Ao menos 89 peregrinos iranianos morreram e 150 ficaram feridos por esmagamento, de acordo com a agência de notícias oficial IRNA. O chefe iraniano da agência organizadora do hajj, Saeed Ohadi, culpou a Arábia Saudita por "erros de segurança" e disse em comentários à TV estatal iraniana que a "má gestão dos sauditas levou à tragédia". Segundo ele um túnel de escoamento de peregrinos estava fechado sem explicações.

Tragédias anunciadas em um país profundamente corrupto e repressivo

Ainda nesta quinta-feira, mais de mil pessoas fugiram de um incêndio em um hotel de 11 andares em Meca, que deixou duas pessoas feridas. Os mortos em acidentes e confusões no hajj contam-se às centenas ano a ano.

Segundo fontes do jornal inglês Guardian ativistas sauditas culpam a corrupção e inexistência de obras para acolher os milhões de peregrinos, segundo este jornal em Medina haveria somente um hospital para peregrinos e a população que realiza o hajj anualmente alcança 3 milhões de pessoas.

Este tipo de denúncia, anônima, não pode ser feito no país que é profundamente repressivo, racista, como se vê na desculpa de um príncipe, e machista onde sequer o direito de dirigir é permitido às mulheres.

Este tipo de regime reacionário é junto de Israel o principal aliado dos EUA no Oriente Médio.
Esquerda Diário/ Agência Estado




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias