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MULHERES | O dia-a-dia das mulheres na quarentena

Vinte de maio de Dois mil e vinte, São Paulo, 18 horas.

quinta-feira 21 de maio de 2020 | Edição do dia

Maria Lúcia espera o ônibus, hoje a fila está um pouco menor que de costume, na cabeça só consegue pensar em João Pedro, seu menino de 6 anos que está sob os cuidados da sua vizinha, Carla, que foi demitida de seu emprego fazem duas semanas e está dando uma força cuidando do garoto. Antes disso cada dia ele ficava na casa de um. Ela se sente muito triste por isso, João é um garoto tão bonzinho, todo dia quando Maria chega ele a abraça e a beija, "estava com saudades mamãe, te amo" - ele diz.

Ainda ontem falava com sua mãe pelo whats app, aproveitou que colocou créditos e ligou de vídeo para ela. Dona Sonia morava em Pernambuco, numa casa simples e reclamava com a filha, "Maria, devia mesmo ter voltado para casa, largava tudo aí. Nem devia ter saído, Toninho não era um marido tão ruim, ao menos aqui estaria perto de mim minha filha, sinto saudades". A mãe jamais entenderia que nunca mais ela poderia estar perto de Toninho, o marido era muito exigente, qualquer coisa fora do seu gosto já era motivo. Maria vivia dando desculpas, caí no quintal, Joãozinho me jogou um brinquedo... as desculpas eram várias. Saiu fugida do Pernambuco com medo do marido, que pela primeira vez havia batido na criança. Disse para a mãe que havia arrumado emprego bom em São Paulo, arrumou as malas e partiu, isso já fazem dois anos e meio.

O ônibus chegou, lotado como sempre, o desejo de sentar vai ter que esperar chegar em casa. Maria pensa na sua mãe, também sente saudades, pensa em Jõao Pedro, por ele, ela faria qualquer coisa. A vida não estava nada fácil, essa pandemia tinha piorado e muito a vida que já não andava fácil. O menino sem ir pra escola, o trabalho triplicado - Maria trabalhava como terceirizada da limpeza em um hospital - tirando o medo de levar doença pro menino. Chegava em casa e já tirava todas as roupas e tomava um belo banho, ganhava diariamente um pouco de álcool do hospital e se higienizava com ele também, só então podia abraçar João. E aquele era o momento mais importante do seu dia.

Maria estava muito preocupada e ao descer do ônibus caminhava e pensava, salária havia diminuído 30%, com o menino em casa os gastos eram maiores, ainda tinha as atividades da escola que estavam acontecendo online, ela não tinha como acessar o tal site com as aulas e tinha medo do filho ficar atrasado na escola. Ainda tinha a Carla, sua vizinha que estava cuidando do menino para ela, elas estavam se ajudando e Carla jantava todo o dia com eles além de Maria lhe dar 150 reais para ficar com o menino, ela sabia que não era muito mas não tinha de onde tirar mais mais, além disso o auxílio de Carla esta atrasado e Maria se preocupava com a amiga também, que desempregada não recebeu nenhum direito da empresa.

Finalmente chegou em casa, o banho apressado e cuidadoso, não vê a hora de abraçar seu menino. Sai de banho tomado com a máscara de flores que comprou da Lourdes, que as vende no ponto de ônibus e as costura em casa com a máquina que antes era da sua mãe, bate na porta de Carla e logo escuta a voz do seu pequeno, Carla abre a porta e Maria sente o impacto do menino pulando em seu colo, "estava com saudades mamãe, te amo" - ele diz.




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