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2 ANOS | Crime ambiental de Brumadinho afetou outras cidades mineiras e ignorou 52 mil pessoas

Moradores de ao menos 26 cidades mineiras relatam problemas que teriam surgido após o rompimento da barragem e tentam provar que também são vítimas das consequências do crime ambiental, dois anos depois.

segunda-feira 25 de janeiro de 2021 | Edição do dia

Foto: Vinícius Mendonça/IBAMA

Após dois anos do pior crime ambiental já ocorrido no Brasil, que foi o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), a tragédia ainda continua sendo um pesadelo não só para as famílias das 270 pessoas soterradas, mas também para os 52 mil moradores de cidades vizinhas que lutam na Justiça para provar que também foram afetados e sofrem as consequências disso até os dias atuais.

De acordo com a Associação Estadual de Defesa Social e Ambiental (AEDAS) e o Instituto Guacuay, assessorias técnicas que acompanham os atingidos pelos rejeitos da barragem, as pessoas não reconhecidas pela Vale também devem ter o direito à reparação, embora tenham sido desconsideradas no critério estabelecido pela mineradora, onde apenas a população de Brumadinho e a que vive a 1km das margens do Rio Paropeba teriam acesso à repasses mensais de até um salário mínimo, dinheiro esse que é insuficiente se for comparar o tamanho do lucro da Vale mesmo após a tragédia, onde 2 anos após pior crime ambiental do Brasil, ações da Vale quase dobram e atingem recorde.

Os relatos indicam que o derramamento da lama mudou a rotina destas pessoas deixadas de fora do acordo, provocando perda de renda, doenças de pele, e além também de ter afetado a vida de comunidades indígenas, quilombolas, pescadores, pequenos comerciantes e agricultores que vivem ao redor dos municípios cortados pelo Rio Paraopeba e do entorno da represa de Três Marias.

Com a chegada da lama no rio, vários grupos indígenas tiveram que ver sua principal fonte de alimentação e renda ser contaminada e ficaram impedidos de recolher peixes no local, fazendo com que uma parte das pessoas saíssem de suas terras para procurar refúgios em outros lugares. E com a pandemia de Covid 19, se depararam com novos desafios fora de sua cidade natal. “É uma triste realidade. Em BH, nem as feiras para trabalharmos a gente tem mais por causa da pandemia. Este mês vamos receber o último auxílio da Vale”, disse Ãngohó Pataxó, uma das lideranças da tribo que viviam na aldeia Naô-Xohã.

Na outra ponta do rio, a 298km da área do rompimento, grupos de pescadores viram a venda de seus peixes caírem praticamente 40% após a tragédia, segundo o Instituto Guaiacuy, que acompanha as comunidades afetadas. Além disso, turistas que procuravam a região para esportes náuticos e para pesca também ficaram inseguros de ter contato com as águas, o que acarretou na diminuição de 70% dos clientes nas pousadas.

Além disso, 11 vítimas ainda não tiveram seus corpos encontrados. As buscas acontecem em um volume de 11 milhões de metros cúbicos de lama, o equivalente a 4,4 mil piscinas olímpicas. Na fase inicial das buscas, o Corpo de Bombeiros chegava a colocar 300 integrantes de seu contingente à procura das vítimas, hoje só é colocado 60 integrantes, dos quais 40 ficam na chamada “zona quente”, que é a área total invadida pela lama.

Para garantir que a prioridade sejam as vidas humanas e de tantas outras espécies, a mineração precisa ser gerida por quem não tem nenhum interesse para além de sustentar sua família, não adoecer a si e a sua comunidade na insalubridade e produzir o que for necessário, segundo as necessidades humanas. A Vale e toda a mineração só pode deixar de ser predatória se colocada sob um programa de transição, que exige a gestão dos trabalhadores, ajudados por controle popular, de representantes eleitos nas universidades, comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, representantes de direitos humanos, atingidos por barragens e ambientalistas.




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