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CINEMA | Corte Seco, primeiro longa de Renato Tapajós expõe o horror da tortura na ditadura militar

Corte Seco, primeiro longa narrativo de Renato Tapajós, foi estreado ontem em Campinas em sessão única no Teatro Castro Mendes como parte da programação do Festival Cena Cine. O Diretor conversou com o Esquerda Diário sobre seu novo filme e sobre o momento político do país.

quinta-feira 7 de julho de 2016 | Edição do dia

O filme gira em torno da história de cinco militantes da esquerda armada que foram presos pela Operação Bandeirantes (Oban) em 1969, expressando a dor e o terror das sessões de tortura, sem filtros nem cortes. A narrativa é real, vivida pelo próprio diretor.

Renato Tapajós é escritor e cineasta, diretor de importantes documentários, como Linha de Montagem, que narra o desenvolvimento do movimento sindical brasileiro nos anos 80.

O Esquerda Diário entrevistou o diretor de Corte Seco. Confira o trailer e a entrevista na íntegra:

ED: Como tem sido a reação do publico jovem diante do filme, já que diferente de sua geração, ainda que sofra com a repressão policial, em particular a juventude da periferia, essa nova geração nunca viveu na pele a tortura e a repressão política institucionalizada na escala que existiu durante a ditadura?

R: A reação do publico jovem, de um modo geral, varia entre a surpresa, o choque e até alguma incredulidade. Embora grande parte desse publico tenha a informação de que houve tortura no Brasil durante a ditadura (e que ela continua existindo em relação aos pobres, aos moradores das comunidades e, sobretudo, aos negros) não há, para esse publico, uma percepção clara do que significa a tortura. Já se falou tanto sobre o tema – e, muitas vezes, de forma ideologicamente equivocada – que para a maioria das pessoas a palavra tortura se transformou num signo vazio, retorico. No filme “Corte Seco”, eu procurei mostrar da forma mais crua possível o que significa tortura, o que é a tortura na pratica e como ela destrói, física e psicologicamente, os torturados. Defrontar-se com isso, mesmo que numa tela de cinema, é muito chocante para quem não viveu essa realidade. Creio que é isso que a plateia mais jovem sente e, embora possa ficar chocada, percebe o real significado do que é a tortura.

ED: Tem acompanhando a nova geração de cineastas brasileiros? O que acha dela?

R: Considero que há muita coisa admirável sendo produzida pela nova geração de cineastas. Embora, infelizmente, o cinema dominante em nosso país esteja nas mão de grandes produtores (Globo Filmes aí incluída) que só se preocupam com um cinema comercial de baixo nível, há grupos de produtores independentes que fazem um grande esforço para realizar filmes significativos, culturalmente importantes e fundamentais para a sobrevivência de um cinema de qualidade no Brasil. Embora não seja apenas lá, um cinema regional de destaque atualmente é o cinema feito em Pernambuco, que tem revelado filmes e cineastas de ótima qualidade. Aqui, entre outros, é necessário destacar o Kleber Mendonça (“O Som ao Redor”, “Aquárius”). Fora do nordeste, alguns bons filmes tem sido feitos no sudeste e, na minha opinião, o maior destaque vai para o “A que horas Ela Volta”, dirigido por Anna Muylaert. Há, é claro, outros bons filmes recentes, mas o destaque é para estes.

ED: Qual é a tua opinião sobre o atual momento de nosso país?

R: O Brasil vive um momento muito preocupante e perigoso. O golpe em curso contra a democracia e a presidenta Dilma é sinal de um esforço as classes dominantes e da direita para tentar destruir tudo o que foi feito de progressista nos últimos 15 anos. Vivemos um período de desequilíbrio entre um projeto democrático e distributivista (um Estado de Bem Estar Social) e um outro projeto conservador, arcaizante, neoliberal que pode levar o Brasil a voltar a ser uma neocolônia do capitalismo globalizado, com pobreza, má distribuição de renda, perda das riquezas nacionais e ascensão da violência institucional. O governo Temer é a porta de entrada para uma nova ditadura do que há de mais arcaico na sociedade brasileira.

ED: Como você vê as manifestações dos artistas nesse momento diante do golpe e do governo Temer(ocupações, declarações, faixa em Cannes)

R: Acho que essas manifestações dos trabalhadores da cultura são absolutamente necessárias para combater esse governo ilegítimo que tomou o poder no Brasil. Creio que uma tarefa importante dos artistas, dos intelectuais e de todos aqueles que trabalham com a cultura é a de levar para a população a imagem verdadeira do que está acontecendo e contribuir para mobilizar a população contra esse governo golpista, para tentar recuperar a democracia no país.


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