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Correios nega proteção à funcionários mesmo com 2 mortes e 91 casos confirmados de Covid-19

Com a escassez de testes no Brasil, é difícil saber o quadro real da situação da população e é provável que a realidade seja pior do que parece. Mesmo assim, já são duas vítimas fatais do Covid-19 confirmadas nos Correios, sendo um trabalhador do Amazonas, Elivaldo Almeida Soares, e o outro de São Paulo, Osmar Alves Sanches. Nos solidarizamos com as famílias e colegas em luto.

terça-feira 14 de abril de 2020 | Edição do dia

A direção da empresa soltou uma nota curta de pesar, e na mesma publicação interna informou que comprou 2 lotes de máscaras para fornecer aos empregados, sendo que o primeiro deve chegar no dia 17 e será direcionado a carteiros e operadores de triagem e transbordo, e que o segundo lote não tem nem previsão de chegada. A publicação é escandalosa, e nem sequer tenta disfarçar a culpa da direção da empresa pelo descaso com a vida dos trabalhadores.

A situação dos funcionários dos Correios é fruto direto do negacionismo de Bolsonaro e do presidente da empresa, escolhido por ele, marechal Floriano Peixoto. Negaram-se a fornecer EPIs, e somente com muito custo (leia-se funcionários se recusando a trabalhar, sindicatos e federações acionando a empresa judicialmente, denúncias na mídia como aqui mesmo no Esquerda Diário, etc) é que foi adquirido álcool em gel, que nem sequer chegou em todas as unidades, e ainda há denúncias de material de procedência duvidosa e irregular.

Ao mesmo tempo que forneceu precariamente o álcool, a empresa produziu um termo em que coagia os funcionários a não lutarem por mais EPIs, onde dizia que máscaras e luvas não eram necessárias e ameaçava punir e até demitir os trabalhadores que reivindicassem esse tipo de material.

Conjuntamente com essas medidas, em demonstrações absurdas de assédio moral, trabalhadores do grupo de risco ou que coabitam com pessoas do grupo de risco, e também mães e pais cujos filhos pequenos estão sem escolas e creches e puderam se afastar por não ter com quem deixa-los foram pressionados a voltar ao trabalho. Com telegramas de convocação, termos onde os empregados assumiriam os riscos se “quisessem” voltar ao trabalho, e uma verdadeira campanha de ameaças de cortar salários e benefícios foram colocadas em prática.

Segundo matéria do BrPolítico já são 91 casos de funcionários dos Correios contaminados, e sabemos que são muito mais com suspeita e apresentando sintomas, muitos dos quais em estado grave, porém não testados ou aguardando nas filas pelos resultados.

Como acontece nas greves, durante a pandemia os serviços prestados pelos Correios foram definidos como essenciais. Esse caráter essencial sempre é colocado em cheque quando se fala em privatizar os Correios, mas sempre vem a tona quando os funcionários se mobilizam e agora novamente frente a crise sanitária. É hora de assumir de uma vez por todas que o serviço prestado pela empresa é, sim, essencial. E deve estar a serviço de combater a pandemia. Podemos e estamos transportado máscaras, álcool e outros insumos, e também testes, material de pesquisa, remédios, e tudo isso é fundamental. Permitir o comércio eletrônico, o envio de livros e cartas e tantas outras coisas são também importantes em tempos de quarentena. E a maioria dos trabalhadores sentiria orgulho de prestar esse serviço com segurança.

Mas a realidade tem sido sobrecarga de trabalho devido aos afastamentos necessários, ausência de EPIs e testes, assédio moral, insegurança e ansiedade, tanto para quem segue se expondo nas agências, nas ruas ou nos centros de triagem que concentram dezenas de trabalhadores num mesmo prédio, quanto para os afastados que são pressionados e ameaçados e obrigados e fazer cursos online que não funcionam.

A nota de pesar pelos falecimentos assim como essas parcas medidas emergenciais não passam de lágrimas de crocodilo de quem teme apenas ser responsabilizado judicialmente depois e quer fazer de conta que fez sua parte, mas a situação dos trabalhadores é uma tragédia anunciada e a empresa e o governo Bolsonaro são responsáveis.




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