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CUNHA FORA | Contra o reacionário Cunha, PSTU e PSOL comemoram a Lava Jato e fortalecem o Judiciário

O afastamento de Cunha da Câmara e de seu cargo de deputado federal era esperado há tempos por todos os setores democráticos, de direitos humanos, mulheres, jovens e LGBT, que corretamente detestam essa figura absolutamente obscurantista e reacionária, racista e que odeia os trabalhadores. Mas vale fortalecer os métodos reacionários da Lava Jato e o Judiciário golpista em troca?

Isabel Inês São Paulo

sábado 7 de maio de 2016 | Edição do dia

Eduardo Cunha, como toda a direita que deu um espetáculo asqueroso com suas dedicatórias de voto a Deus, à família, às Forças Armadas e a torturadores da ditadura militar - essa direita, dizíamos, foi fortalecida pelo PT, que governou lado a lado com ela, adquiriu seus métodos corruptos de governo e buscou atacar os trabalhadores enquanto atuava pelas centrais sindicais impedindo os trabalhadores de resistir. Entretanto, fica um “que” de suspeita: não é nada inusitado afastarem este político execrável, tão rapidamente e logo após o golpe na Câmara, que muito provavelmente se consolidará no Senado dia 11. Quais interesses estão por trás disso? Com quais métodos ele cai? Duas questões que determinam muito do que significa esse novo capitulo da tumultuada política nacional.

Para todos aqueles que assistiram o “domingo de horrores” da votação do impeachment, viram que não é “privilégio” do Cunha o reacionarismo do parlamento brasileiro. A população teve que ouvir os votos saudando ditadores, como o Ustra, muitos reivindicando a própria família e marido, mesmo quando este é comprovadamente um corrupto, como a grande maioria – se não todos – que compõe a dita casa do povo. Se os que punem são parte dos mesmos esquemas de corrupção, de impunidade e de sustentação de ideias machistas e conservadoras, não há que se iludir pensando que o afastamento do “demônio” são por causas nobres. Basta ver seu sucessor, o também envolvido nos desvios da Petrobrás, Waldir Maranhão (PP).

Como parte das mulheres, jovens e trabalhadores, que viam nele o símbolo do mais reacionário das bancadas do boi, da bíblia e da bala, a questão do “como” Cunha cai, não é nada secundária, mas sim central, que responde as questões acima, mas que também coloca um debate fundamental para a juventude e os trabalhadores. Desde o ano passado setores da esquerda, tentando dialogar com o repúdio de massas ao reacionário Cunha, reivindicavam o “Fora Cunha”, contudo o que poderia parecer correto, se reverte no seu contrario, pois essa esquerda com seu apoio a Lava Jato, defende uma política que leva esse descontentamento legitimo contra o reacionário, a uma resposta mais a direita fortalecendo os mesmos reacionários do judiciário com suas medidas arbitrarias.A politica dessa esquerda, leva o descontentamento da população ao fortalecimento da direita, cumpre o papel oposto a qualquer política independente da juventude e dos trabalhadores. Não por acaso vemos tanto PSOL como PSTU festejarem a saída do Cunha, sem colocar uma virgula de critica ao “partido Judiciário” e a Lava a Jato.

Para o Juntos! (ligado ao MES, corrente interna de Luciana Genro no PSOL) o fato de Cunha ter sido afastado pelas mãos da Lava Jato e do autoritário poder Judiciário estranhamente soa como uma vitória das mobilizações – como escreveram em cartazes. Em primeira instância aproximar o interesse das milhares de mulheres que marcharam pela legalização do aborto e com ódio do Cunha com de um punhado de juízes também reacionários, não só é uma distorção completa da realidade, como tenta aproximar interesses radicalmente opostos, assim como legitima que esse poder judiciário - cheio de privilégios, ligado ao imperialismo, que não é eleito por ninguém e rasga a Constituição a seu bel-prazer - possa arbitrar sobre nossos direitos e continuar negando a legalização do aborto, ou qualquer pauta das mulheres, jovens e trabalhadores.

O problema é que parece que o MES, com seu coletivo de juventude, e Luciana Genro mesmo após o impeachment que comprovou para qualquer um que tivesse duvida, que os interesses colocados nele são dos mais reacionários, entreguistas e neoliberais, continuam apoiando a Lava Jato que foi parte fundamental de se consolidar o golpe ligado ao poder judiciário. A ilusão no Judiciário, na Polícia Federal e em figuras como Sérgio Moro mostram a completa adaptação desta corrente ao regime democrático burguês. Como se as cúpulas do Judiciário não fizessem parte da casta política, não vivessem com os mesmos privilégios dos deputados, não tivessem interesses ligados ao governo, à oposição e aos banqueiros e empresários. Identificar os métodos ilegais da Lava Jato e que generalizam a violação dos direitos democráticos mais elementares como se faz nas favelas e periferias, como se as lutas de juventude "tivessem derrubado Cunha" é perder qualquer senso de esquerda.

O fortalecimento do Judiciário coloca em situação mais vulnerável as organizações da esquerda e os sindicatos. O imperialismo exige a continuidade da Lava Jato justamente porque ela não ameaça os negócios capitalistas, e nem mesmo a impunidade dos políticos. Como mostrou a “Operação Mãos Limpas” na Itália, a imensa maioria dos condenados saíram impunes, e o regime se relegitimou para desviar o processo de luta de classes no país, esse sim, que colocava em risco os capitalistas.

Sustentar que possa vir destes a punição dos corruptos e das suas manobras para limpar o golpe possa surgir algo progressivo só serve para desviar os processos de lutas, e prova que essa esquerda "Lava Jato" não é capaz de dar qualquer resposta independente que leve a vitória. Em post recente de Eduardo almeida do PSTU, parece ver a queda do Cunha como uma política oposta ao golpe, ou melhor, o buraco é mais em baixo, para estes não houve golpe “.. seria interessante a turma do PT (e todo o enorme coro reformista do PSOL, MTST, etc) , explicarem agora como fica a teoria do "golpe". Como é mesmo o golpe, que agora afasta Cunha? Essa turma não tem nenhuma seriedade de análise política, menos ainda marxista. Não existe golpe, existe uma enorme crise política, com uma divisão da burguesia que pode ser usada pelos trabalhadores, desde e quando tenham uma posição independente dos dois blocos burgueses (governo e oposição burguesa). Fora Dilma! Fora Temer! Fora Cunha! Fora Aécio! Fora todos!”.

O PSTU que durante todo o processo do impeachment fazia coro com a direita chamando o Fora todos! Que na pratica se ouvia fora Dilma, segue na sua ingênua, e traidora política, de fortalecer as expectativas no judiciário. A queda do Cunha não foi nenhuma benesse dos juízes contra o reacionário, como parece acreditar esse setor da esquerda, foi sim uma manobra para tentar “lavar a cara do golpe”, rifando uma figura, sem em nenhum momento puni-la ou tirar seus privilégios, mas querendo aparecer como uma justiça imparcial e “anticorrupção”, e ao mesmo tempo tentar fortalecer o possível governo golpista do Temer, que seria ainda mais frágil e abertamente golpista se tivesse como vice essa figura odiada. Ou seja a queda do Cunha é para fortalecer o golpe.

É claro que Cunha é uma aberração reacionária que não pode sair impune, mas sua queda não pode estar a serviço de fortalecer a direita, para que esta limpe a sujeira do golpe e limite as possibilidades de uma explosão da luta de classes. Muito menos para fortalecer um "estado de exceção judicial" que este poder usará contra as lutas dos trabalhadores e da juventude.

Tanto o Juntos! Como a ANEL (assembleia nacional dos estudantes livres, entidade com a majoritária do PSTU), estão comemorando a queda do Cunha, enquanto a juventude esta lutando contra a máfia das merendas, e provando na pratica como se luta contra a corrupção de forma independente, essa esquerda lava jato, faz sua política oposta aos interesses da juventude e dos trabalhadores, reivindicando os métodos da burguesia, ao apoiar a queda pelo judiciário.

O Juntos vai mais além, em texto recente colocam a necessidade de uma revolução política que aparentemente virá pelas vias da Lava Jato – além de reivindicarem o suposto socialista imperialista Bernie Sanders – o conteúdo de revolução política não é nada claro, mas mostra o cunho eleitoralista do grupo, Luciana Genro ao reivindicar a lava Jato parece querer surfar nessa política e aparecer como candidata “não corrupta” para ganhar votos, ou seja, qualquer coisa, mesmo apoiar medidas autoritárias ant operarias, para seus objetivos eleitoreiros.

A juventude que esta nas ruas hoje, tem ódio dessa direita, e ao mesmo tempo nenhuma confiança na polícia – lembrando que a polícia federal é sustentáculo principal da lava jato – e na justiça burguesa, saber discernir o sujeito que derrubou o político, se é essa juventude ou a justiça é primeira tarefa para conseguir construir uma política independente. Disso não decorre apoiar a manutenção do Cunha, como alguns argumentos mecânicos vindos de PSOL e PSTU parecem afirmar, mas sim tirar lições e saber que nada de progressivo virá por fora das manifestações, greves, ocupações e atos da juventude e dos trabalhadores.

Contra Cunha e o podre regime burguês defendemos uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, imposta pelas mobilizações, que termine com a impunidade dos capitalistas e seus políticos e os faça pagar pela crise, impondo pela luta que todo juiz e político de alto escalão receba o mesmo que uma professora, seja eleito e revogável. A batalha contra o golpe segue vigente, com Cunha ou sem Cunha, e nossa força pra isso se encontra em cada ocupação de escola, nas greves dos trabalhadores, paralisações e piquetes, que se enfrentam contra os ataques dos governo e o golpe institucional. Por isso nós da Faísca estamos colocando nossas forças e chamamos toda a juventude a construir as lutas contra os ajustes dos governos e patronais, já esta se anunciando um forte movimento estudantil que pode vencer a mais que quer e pode ser parte de surgir como sujeito político independente que se alie aos trabalhadores.




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