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CRISE POLÍTICA | Congresso peruano busca sair da crise votando no centro-direitista Francisco Sagasti para presidente

Após uma semana de mobilizações, repressão, do assassinato de dois manifestantes e da queda do presidente ilegítimo Manuel Merino no domingo de manhã, a maioria do Congresso peruano votou nessa segunda-feira no centro-direitista Manuel Sagasti (do Partido Morado) para a presidência da República. Mirtha Esther Vásquez da neorreformista Frente Ampla ficará com a presidência do Congresso.

José RojasMilitante da Corriente Socialista de las y los Trabajadores "CST" do Peru

segunda-feira 16 de novembro de 2020 | Edição do dia

Com 97 votos a favor, o Congresso peruano elegeu Francisco Sagasti Hochhausler como novo presidente do país. Ele exercerá o mandato até 28 de julho de 2021. Assim, buscam de cima encerrar a crise política e parar as mobilizações das massas.

O Peru se encontrava desde o meio-dia do domingo em meio a um vazio de Governo. O presidente ilegítimo que havia assumido após a destituição de Martín Vizcarra, Manuel Merino, caiu após uma semana de mobilizações e logo que a brutal repressão policial tirou a vida de dois jovens estudantes no sábado a noite. Completamente questionado, o mandato de Merino durou só 5 dias.

Desde o meio-dia do domingo começou uma negociação frenética no parlamento para encontrar uma maneira de gerar consenso e propor uma nova mesa diretiva do Congresso e um presidente para o país. Era uma tarefa complexa em meio a um Congresso fragmentado e repleto de funcionários investigados por casos de corrupção, bem como pelo desprestígio da maioria das forças que votaram a vacância (destituição) de vizcarra uma semana antes. A primeira das chapas apresentadas ontem à noite, encabeçada pela deputada Rocío Silva, do neorreformismo da Frente Ampla, foi rechaçada. Com essa votação, o Peru inteiro foi dormir no domingo sem um presidente e sem mesa diretiva do Congresso.

Nessa segunda-feira seguiram as negociações desde cedo. Foram apresentadas e retiradas ao menos duas candidaturas, enquanto as distintas bancadas negociavam os apoios necessários. Finalmente a candidatura veio das mãos do centro-direitista Francisco Sagasti, do Partido Morado.

Sagasti é um engenheiro industrial e professor universitário de 76 anos de idade, de orientação de centro-direita. De 2007 a 2009 foi Presidente do Conselho Diretivo do Programa de Ciência e Tecnologia (FINCyT) na Presidência do Conselho de Ministros das gestões apristas de Jorge del Castillo e Yehude Simon Munaro. Foi nomeando novamente ao cargo entre dezembro de 2011 e março de 2013 nas gestões de Óscar Valdés Dancuart e Juan Jiménez Mayor, durante o governo de Ollanta Humala. Atualmente milita no direitista Partido Morado, liderado por Julio Guzmán. Sagasti e os demais congressistas desse partido apoiaram muito de perto o governo de Martin Vizcarra nas suas iniciativas de ajuste pró empresarial, que golpearam duramente a classe trabalhadora e o povo.

O Partido Morado saiu relativamente ileso da crise que abriu a queda de Vizcarra porque foi o único partido em que nenhum de seus deputados votou a favor da vacância, e de fato nos primeiros dias de protestos buscaram chamar a volta de Vizcarra à presidência. Porém, a fúria nas ruas expressava algo mais profundo que a defesa ou não de Vizcarra, que será investigado por corrupção, expressava a insatisfação com a herança neoliberal que deixou o fujimorismo com a constituição de 93.

O que um Governo Sagasti expressa?

Assim assume a presidência da República Francisco Sagasti e a presidência do parlamento Mirta Vázquez, congressista da Frente Ampla eleita na região de Cajamarca. Essa chapa foi construída pelos parlamentares que não votaram a favor da destituição de Martin Vizcarra, já que esse fato foi considerado como uma demonstração de corrupção do parlamento, desencadeando as mobilizações sociais massivas que terminaram com a morte de dois estudantes pelas mãos da Polícia Nacional, o que gerou a queda do governo de Manuel Merino.

O novo Governo encabeçado por Sagasti expressa o acordo entre a maioria dos grupos políticos que representam as diversas frações burguesas que há muito tempo se enfrentam pelo controle dos poderes do Estado. A principal motivação que levou esses setores a se unificarem em torno da figura de Sagasti é o temor que as mobilizações, que se iniciaram questionando Manuel Merino, alcancem dimensões maiores e aticem a participação da classe trabalhadora, que já anunciou uma jornada nacional para quarta-feira, 18 de novembro.

Por isso, Sagasti e seu próximo gabinete ministerial não são absolutamente nenhuma garantia para os trabalhadores e para o povo, já que, por sua filiação política e por sua vinculação aos grupos de poder econômico, estamos certos que continuará aplicando cada uma das políticas de ajuste contra o povo trabalhador. Nesse sentido, desde o Peru chamamos as e os trabalhadores a não terem a mínima confiança nesse governo e a seguir lutando nas ruas junto à juventude e os estudantes até impormos uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana.




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