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Ao mesmo tempo em que anuncia queda nos lucros, empresa se prepara para realizar a operação logística das Olimpíadas, com gasto de R$300 milhões

quinta-feira 18 de junho de 2015 | 02:31

Segundo o balanço apresentado no início de maio, no Diário Oficial da União, o lucro líquido da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos foi de R$9,9 milhões, uma quantia bastante baixa. Segundo a estatal, não há nada a se esconder e estão apenas se adequando as normas da auditoria.

No entanto, mais do que compreender as manobras fiscais dentro do jogo dos capitalistas com demonstrações financeiras supostamente transparentes (como se pode acessar aqui, é necessário um questionamento mais profundo. Para onde vai todo o dinheiro da empresa realmente? E, quais são os interesses envolvidos? Segundo dados oficiais, a receita total da ECT foi de 17,7 bilhões em 2014. Seguem alguns questionamentos, pra entender as parcelas deste cálculo estranho...

1- CorreiosPar

A criação da subsidiaria Correios Participações S/A, braço privado da estatal, custou cerca de 300 milhões para os cofres da empresa. Tudo isso para privatizar a empresa e atacar ainda mais as trabalhadoras e trabalhadores.

2- Logomarca e publicidade

A ECT investiu mais de 40 milhões, pelo menos, na mudança de seu logotipo e campanhas publicitárias sendo que esse valor é bastante duvidoso e na própria nota oficial da empresa aparecem lacunas quanto ao valor real.

3 – Fundo de pensão

O déficit exorbitante de R$5,6 bilhões no Postalis também entra na conta da ECT e até agora não se esclareceu nada. O conselho deliberativo do fundo tinha anunciado contribuição extra de 25,9% do benefício saldado a ser descontado do salário dos servidores para cobrir o rombo causado pela ECT. Ou seja, a cúpula corrupta da empresa queria que os trabalhadores pagassem uma dívida que não era deles, o que gerou a desvinculação de vários trabalhadores do fundo e revolta generalizada na categoria. Entre processos e audiências em que os trabalhadores são ignorados essa novela ainda continua.

4 – Olimpíadas

Desde que venceu a concorrência para operador logístico oficial das Olimpíadas de 2016, a ECT tem promovido sua vertente logística. Nenhum problema, e inclusive seria muito melhor que a empresa desenvolvesse sua estrutura nessa área do que na área financeira, como o Banco Postal. O problema é que, por um lado, não se compreende de onde saem R$300 milhões para investir em um evento esportivo deste porte. E a outra pergunta é: como ser um operador logístico de porte mundial sem fazer contratações?

5 – Plano de Desligamento Institucional

Quando explica o balanço de 2014, em seu blog oficial, a ECT afirma ter desembolsado R$ 235 milhões com o incentivo ao desligamento de funcionários. Como a população já tem percebido pelos atrasos nas entregas, e a categoria tem denunciado de diversas maneiras, há um enorme déficit de trabalhadores, por que, então, incentivar o desligamento?

6 – Super salários da alta cúpula

Segundo dados do site dos Correios, o salário de presidente é de $44 mil, de vice-presidente $38 mil, diretores regionais chegam a receber R$20 mil somente de remuneração singular, dependendo da localidade. Isso sem contar benefícios e premiações que alguns cargos recebem .

7 – Investimentos suspeitos

Desde 2011, quando foi aprovada a alteração das funções da empresa, foi anunciado um grande investimento, cerca de R$900 bilhões até 2017, para construção e reformas de centros de logística. Algumas dessas obras, ainda que inauguradas, não estão funcionando ainda, como é o caso do Complexo de Cartas e Encomendas em Indaiatuba, inaugurado em dezembro. Muitas dessas obras envolvem transações de compras de terrenos pouco transparentes e alugueis exorbitantes. E até agora, mais uma vez, nada de funcionários para colocar os centros para funcionar.

Resultado: cifras complicadas e trabalho precário

A contabilidade da ECT opera nos âmbitos da obscuridade e o pouco que transparece demonstra quais são seus interesses. Ou seja, lucrar cada vez mais às custas de trabalhadores e trabalhadoras que dão o sangue no ardo dia a dia de trabalho.

Com a divulgação do lucro liquido de apenas 9,9 milhões de uma receita total de 17,7 bilhões o que se pretende é esconder da categoria o enriquecimento individual e de pequenos grupos da alta cúpula da empresa ou ligados a ela. Enquanto isso, a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), a incorporação da Gratificação de Incentivo a Produção (GIP) e a campanha salarial da categoria terão sua base de cálculo no valor minguado de 9,9 milhões. Ou seja, os trabalhadores terão muita luta pela frente para desmascarar a empresa e arrancar seus direitos tão merecidos.

Enquanto os gastos e lucros são pouco compreensíveis, a falta de funcionários é bem transparente. Os movimentos da empresa, por mais que as notas oficiais neguem, parecem sempre caminhar para a mesma conclusão: terceirizar e privatizar.

As notas oficiais falam em modernização, aumento das receitas, diversificação das funções, explorar novas áreas, mas no único momento em que vai a público falar sobre contratação, é explícita a intenção de abrir concursos para temporários.

Na vida do trabalhador, o trabalho temporário significa insegurança financeira e profissional, falta de treinamento e capacitação, privação do direito a organização sindical e piores condições de vida e trabalho. Para a população significa decréscimo na qualidade do serviço prestado, pois os trabalhadores mal conseguem aprender a função e em decorrência das piores condições de trabalho serão piores os serviços prestados. Já para os diretores, vice diretores, conselheiros e seu capachos, significa mais lucros.

É fundamental “modernizar” e melhorar a qualidade da ECT, para que exerça seu papel social e inclusive sua vocação logística. Mas para isso a única saída é contratar funcionários efetivos, que recebam remuneração justa, treinamento, material de trabalho, tudo de acordo com as funções a serem desempenhadas, inclusive nos setores de limpeza, tão importantes quanto os demais, ou será que é possível atender a população e tratar objetos em unidades sujas?

É preciso abrir concursos, urgentemente, e também garantir os direitos dos trabalhadores atualmente empregados em condições precárias. É necessário efetivar imediatamente todos os terceirizados que já realizam o serviço da ECT, tendo assim comprovado que estão aptos para suas vagas mesmo em condições de trabalho piores.

Por outro lado, as contas precisam ser abertas para a população e para os trabalhadores, sem nenhum mistério. Temos que decidir pra onde o dinheiro deve ir. Temos que decidir quem deve dirigir a empresa e quanto devem ganhar os diretores, não precisam de salários exorbitantes enquanto os trabalhadores ganham o menor salário de empresa estatal.

Foto: Diretor executivo comercial do Rio 2016, Renato Ciuchini e presidente dos Correios, Wagner Pinheiro de Andrade. Créditos: EDUARDO GOMES DA SILVA Agência-Captação-Digital.




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