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ELEIÇÕES VENEZUELANAS | Com grande abstenção, o Conselho Nacional Eleitoral admite o triunfo de Maduro, e Henri Falcón não reconhece os resultados

Maduro foi declarado eleito com um dos percentuais de participação mais baixos, desde 1959, em um processo atravessado por fortes denúncias de irregularidades e com outros candidatos declarando não reconhecer os resultados.

segunda-feira 21 de maio de 2018 | Edição do dia

De acordo com o primeiro boletim eleitoral da presidência do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), com uma participação eleitoral de 46,01%, com uma população de mais de 20,5 milhões de pessoas aptas para votar, e com 96,2% dos votos computados, Maduro triunfa com 5.823.728 votos. O CNE declarou que Henrique Falcón obteve 1.820.552 votos; Javier Bertucii 925.042 e Reinaldo Quijada 34.614 votos.

Desta maneira, as eleições presidenciais se caracterizaram por uma alta abstenção eleitoral para os níveis venezuelanos. Nas eleições presidenciais de 2006 a participação eleitoral foi de 74,7%; Nas eleições presidenciais de 2012, foi de 80,56%, já nas eleições de 2013, logo após o falecimento de Hugo Chávez, as primeiras eleições de Maduro, a participação foi de 79,69%. Inclusive, quando se compara com as eleições presidenciais de 1998, a primeira eleição de Chávez, a participação eleitoral foi de 63,45%.

Esta abstenção eleitoral só não foi maior por conta da chantagem política do governo de Maduro, que chegou, inclusive, a oferecer dinheiro através do Carnet de la Patria, para quem foi votar “livremente”, é através do dito Carnet que o governo dispõe de um grande banco de dados dos eleitores, com suas necessidades, suas localizações e os benefícios que recebem do Estado. Não por acaso que fora dos centros eleitorais se propagam os chamados “pontos vermelhos”, onde a pessoa que votava passava a registrar seu Carnet de la Patria, com a esperança de obter o dinheiro constantemente oferecido durante as campanhas eleitorais.

Os votos obtidos por Maduro representam a 28% do eleitorado. São percentuais extremamente baixos num país afundado em uma grande catástrofe econômica e social, os que indubitavelmente expressa um rechaço político de um povo que vem sofrendo os grandes padecimentos desta prolongada crise econômica. Nas eleições presidenciais de 2013, Maduro havia obtido 7.505.338 votos, perdendo, com o atual resultado, 1.681.610 votos, o eleitorado que era muito maior, quer dizer, em números relativos à queda é maior ainda.

A eleição foi marcada durante todo o dia pela inexistência de filas nos locais de votação e por irregularidades, tal como antecipamos aqui. Em Caracas e no interior do país se observaram ruas vazias enquanto que poucos centros eleitorais exibiram colas que tem sido uma cena constante em eleições presidencial passada.

Porém, momentos antes do CNE emitir o seu primeiro boletim oficial, e antes que o alto Comando das Forças Armadas anunciarem o reconhecimento dos resultados, Henri Falcón declarava de antemão que não reconheceria os resultados das eleições presidências pelas contínuas violações aos acordos pré-eleitorais do próprio Maduro, segundo as suas afirmações, “O processo eleitoral tem sérios questionamentos de nossa parte (…) e sem dúvida alguma o processo carece de legitimidade e nós desconhecemos estas eleições categoricamente”, argumentou enfaticamente em uma roda de impressa. Acrescentando: “Não reconhecemos este processo eleitoral como válido como verdade e como foi realizado. Tem que se fazer novas eleições na Venezuela… Poderiam fazer eleições no mês de outubro e nós estamos dispostos a participar. Porém, sem vantagens…”

Ao mesmo tempo em que exigia ao Poder Eleitoral que as eleições presidenciais venezuelanas, ocorridas nesse último domingo (20), sejam declaradas como nulas e que se convoquem outras, considera que “se violou o acordo pré-eleitoral”. Segundo Falcón existiram quase 13 mil “pontos vermelhos” que representavam a 87% dos centros eleitorais e umas 120 mil denúncias de “voto assistido”, entre outras irregularidades. Teremos que ver mais, hoje, o caminho que seguirá a oposição de conjunto, pois horas antes o grosso dos partidos aglutinados na chamada Mesa de Unidade Democrática, anunciavam desconhecer as eleições e somar forças contra Maduro.

A direita criolla, o imperialismo e todo o direitismo continental seguramente celebraram os níveis de abstenção, que acreditam ser por conta de seus chamados. Porém, seu objetivo é completamente reacionário, porque o que buscam, atrás da demagogia da demanda por democracia, bandeira que deixam servida na bandeja das manobras bonapartistas de Maduro, é impor a mais escancarada interferência imperialista, a ditadura do FMI e a sua submissão completa ao capital financeiro internacional. Neste sentido, querem o fracasso do plano de Maduro, para voltarem a insistir em um pacto com os militares, para conseguirem impor tal programa. O que interessa a esses partidos de direita, não são os direitos e liberdade populares, assim como tão pouco e muito menos os interessa que o povo trabalhador possa pesar nas decisões e rumos do país, frente à catastrófica situação nacional.

Maduro comemorará o seu “triunfo eleitoral”, pois não pode fazer outra coisa. Porém, com percentuais eleitorais de participação tão baixos, o mais baixo das últimas décadas em relação ao padrão eleitoral, inclusive, uma porcentagem baixíssima de votos obtidas em relação também ao dito padrão, realmente será um governo com grandes crises, maiores do que a qual já vinha arrastando. Não conseguiu seu objetivo, que era se reeleger com uma porcentagem mais importante de votos, em uma eleição que inclusive foram desenhadas a sua medida, ao contrário, a alta abstenção se constituiu um reverso muito forte. Nesse sentido, para seguir governando, não poderá fazer mais do que acentuar o seu bonapartismo reacionário, baseado nas Forças Armadas. Ainda está para se ver o que fará o governo de hoje e mais, pois como muitos analistas afirmam, o grande problema de Maduro estará no “dia seguinte” das eleições.

Como já havíamos antecipado na declaração da Liga de Trabalhadores por el Socialismo frente a estas eleições que: “Nada de novo podemos esperar da reeleição de Maduro, mais do mesmo, é o que propõe o chavismo, em meio a uma crise catastrófica que tem conduzido o seu projeto de falso “socialismo do século XX”, com empresários e transnacionais associadas, sobre a base do velho capitalismo dependente e rentista do petróleo”. Assim também como sustentamos que “Nem com a direita e o imperialismo, que chamam por não reconhecer as eleições para debilitar e isolar o máximo possível o governo de Maduro, e assim forçar uma negociação com as Forças Armadas ou qualquer outro esquema de ”transição” que se subordine aos ditados de submissão do FMI e do capital financeiro com saída a crise, e para impor a Venezuela um governo abertamente obediente as diretrizes do imperialismo”.

Chamamos a dobrarmos o combate por uma organização política independente da classe trabalhadora, porque essa é a única força social que pode dar uma saída progressiva a monumental crise atual, porém para isso, necessita unir suas fileiras conquistando a mais ampla independência em relação ao governo, ao Estado e os partidos políticos patronais.




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