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LENDO OS GRANDES JORNAIS | Com a toga solta, ou como devolver o gênio para a lâmpada

Os editoriais de alguns dos maiores jornais do país criticam os excessos do judiciário. Depois de erguê-los ao Olimpo agora temem suas ações. O que estas criticas apontam?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

domingo 10 de abril de 2016 | Edição do dia

Os editoriais de dois dos principais jornais do país, a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo têm como tema o STF e sua interferência em prerrogativas constitucionais de outros poderes. O Globo, sempre "diferentão", preferiu abordar a política econômica de Lula e Dilma para reforçar sua defesa dos efeitos benéficos de uma política de austeridade. Cruzam-se preocupações com o aqui e agora (impeachment) também com uma temática que tem invadido os jornais, o "para além do impeachment". Este tema passa pela economia mas também pela divisão entre os poderes, quais as funções do judiciário.

Frente às dificuldades com o impeachment e mais que isto com as preocupações com o que sair vitorioso, seja o que for, terá que se haver com uma economia em frangalhos e uma oposição ruidosa seja da classe média acomodada ou do "movimento não vai ter golpe". Esta preocupação cruza-se com o imediato "como tirar Dilma".

Em sua cruzada "destituinte" toda grande mídia ergueu sistematicamente a grandes alturas o judiciário e as forças repressivas (sobretudo a PF como se fosse uma versão terrena de uma milícia celeste a deixar o Tropa de Elite 1 no chinelo). Com Photoshop e matérias pensadas diariamente ergueram o narcisístico Moro em herói e os ministros do Supremo a um status de filósofos-reis.

Eis que o vice-decano destes primeiros entre os homens, Marco Aurélio de Mello interveio em outro poder, exigindo que Cunha abrisse comissão de impeachment contra Temer. A isto o jornal da família Mesquita (Estado) reagiu dizendo que o Supremo estava cometendo excessos e se colocando como um poder moderador, acima dos outros.

O jornal da família Farias (a Folha), apesar de ser autor de perolas como "ditabranda" para se referir a ditadura, sempre tenta se colocar mais "neutro" nos conflitos. Assim foi o primeiro a criticar Moro pelas gravações de Dilma e Lula e em seu editorial de hoje criticou não só Marco Aurélio como o Estado, mas também Gilmar Mendes por intervir nas prerrogativas constitucionais do Executivo, impedindo a posse de Lula como ministro.

A conclusão dos dois jornais é similar, mesmo que só a Folha também critique Gilmar Mendes. Para ambos esta crise torna menores os poderes Executivo e Legislativo e por isto o Judiciário estaria chamado a cumprir um papel superior, porém, para isto, precisaria se ater a seu papel de corte constitucional.

A Folha e o Estado indicam ao Supremo que quererem que ele deixe o protagonismo que tem atualmente. Todas forças políticas o colocaram nesta localização e agora o questionam. A mídia clamou por sua interferência, o governismo e a oposição ambos apelaram para que arbitrasse em diversos conflitos. Fizeram tudo para a toga ficar solta. Liberaram o legendário gênio da lâmpada, este lhe concedeu alguns desejos, e agora quando ele exige a alma protestam. Querem colocar o gênio de volta na lâmpada. Ele aceitará? Ou procurará impor sua própria agenda?

De todo modo esta preocupação cruza-se menos com o amanhã e mais com o "para além do impeachment" pois a agenda da semana estará tomada pela votação da comissão do impeachment na Câmara e a ofensiva de Janot e da mídia para oferecer últimos argumentos favoráveis ao impeachment. Mas, e se, esta hipotética vitória for conquistada e o Supremo resolver seguir o voto que Marco Aurélio já indicou que daria, dizendo que impeachment sem pedaladas não é constitucional. Aí, a vitória teria sido de Pirro.

Despertaram forças que não sabem mais como conter, nem dominam plenamente a agenda do judiciário, que tem diversas alas organicamente ligadas a parte do establishment imperialista, como mostramos aquie aqui. A crise brasileira pode encontrar calmaria, relativa, com um governo mais forte se Lula assumir, ou hipoteticamente em outras saídas como o impeachment ou novas eleições presidenciais. Porém, para além de alguma estabilização temporária esta crise mostra uma fratura mais profunda que passa não só pela politização e polarização política em toda sociedade, mas sobretudo nos setores médios, e, ao mesmo tempo, uma crise que abriu conflito entre os poderes.

Para não ficar refém dos jogos da toga e dos cafezinhos da governabilidade com cargos e suborno à mais arcana direita, a classe trabalhadora e a juventude precisam oferecer uma saída independente de todos estes podres poderes, sobretudo do mais naturalizado de todos, o judiciário que é naturalizado e aplaudido até por setores da esquerda. Para isto o Esquerda Diário exige que os sindicatos, a UNE, a CUT impulsionem um verdadeiro plano de lutas com os métodos da classe trabalhadora como assembleias, greves, piquetes para derrotar o impeachment, as demissões e os ajustes. Rompendo a submissão com "seu" governo teríamos um movimento independente que poderia não só derrotar a direita e seus distintos golpes institucionais mas oferecer uma resposta de fundo a todo este regime político. Para isto propomos uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana que determinasse a eleição e revogabilidade de todos cargos, dos juízes aos parlamentares, que todos cargos políticos recebem o mesmo que uma professora e não os atuais privilégios, e que todos julgamentos de corrupção não ocorressem por uma casta de juízes cheios de privilégios mas por juri popular.


Temas

STF    Política



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