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COLÔMBIA | Colômbia: Comitê Nacional da Paralisação anuncia novos protestos após fracasso do diálogo com o governo de Duque

O governo não aceitou as demandas mínimas apresentadas pelas entidades sociais e sindicais que, após o fracasso do encontro, chamaram uma nova jornada de manifestação para quarta-feira.

quarta-feira 12 de maio de 2021 | Edição do dia

Na última segunda-feira, o presidente Iván Duque se reuniu com representantes do Comitê Nacional da Paralisação na Casa de Nariño, sede do Executivo em Bogotá, enquanto os protestos contra seu governo chegavam ao 13º dia. O encontro foi uma resposta ao chamado do governo para avançar em uma “mesa de diálogo” que permita pôr fim à rebelião, ao mesmo tempo em que as autoridades seguem impondo uma repressão policial violentíssima, que já assassinou 47 manifestantes, deixou diversos feridos e centenas de pessoas desaparecidas ou presas.

A convocatória do governo encontrou uma resposta favorável rápida por parte das direções do Comitê que, distanciadas da fúria contra o governo que incendiou os protestos, se jogam para canalizar a rebelião através de um chamado de conciliação e por respostas pacíficas diante da violência estatal.

Nesse contexto de repressão e ataques de milícias civis contra os protestos, amparados pela polícia, os representantes do Comitê Nacional da Paralisação se mostraram por vários dias mais predispostos a sentar para negociar com o governo de Iván Duque do que a organizar uma resposta capaz de fazer o governo cair.

Representantes da Central Unitária de Trabalhadores (CUT), da Confederação Geral de Trabalho (CGT), da Associação Colombiana de Representantes Estudantis (ACRE), da organização de caminhoneiros e da Federação Colombiana de Trabalhadores da Educação (FCTE), entre outros, participaram da reunião com o Executivo.

Da parte do governo, junto do presidente Iván Duque, esteve a vice-presidenta, Marta Lucía Ramírez, acompanhados pelo alto comissionado para a paz, Miguel Ceballos, vários ministros, conselheiros presidenciais e o chefe da Missão de Verificação da ONU na Colômbia, Carlos Ruiz. Não poderia faltar à reunião que buscou desativar a rebelião também o representante da Igreja Católica e diretor da Pastoral Social, Héctor Fabio Henao, mostrando que a cúpula clerical está muito disposta a evitar uma crise que leve ao fim o mandato de Duque.

Após várias horas de reunião, ela terminou em um fracasso. Segundo os representantes do Comitê, o Governo Nacional não cedeu em nenhuma das demandas que foram feitas. “Não houve empatia do Governo com os motivos, as demandas que nos levaram até essa paralisação nacional. Não foi demonstrada empatia com as vítimas da violência que está sendo exercida de forma desproporcional contra os manifestantes, que protestam pacificamente”, disse Francisco Maltés, presidente da CUT, declarando algo evidente só levando em conta que, enquanto o governo montava a armadilha do “diálogo”, a repressão não parou e inclusive um dia antes foi ordenada “a maior mobilização de Forças Públicas” para intervir em Cali, cidade que é o foco da rebelião contra o governo.

Jennifer Pedraza, porta-voz da Associação Colombiana de Representantes Estudantis da Educação Superior, declarou que “O discurso do presidente Iván Duque foi complacente com os usos excessivos da Força Pública em cima das manifestações e, por causa disso, é impossível tramitar qualquer tipo de reivindicação, porque o movimento social tem aí sua força”.

Os representantes do Comitê Nacional da Paralisação se encontraram com um governo que repetiu a estratégia de 2019, quando as manifestações contra ele foram desativadas após um acordo alcançado em uma “mesa de diálogo” que não resolver nenhuma das principais demandas.

Mas a situação atual da rebelião está marcada pela crise da pandemia, pela catástrofe social e a crise política do governo Duque e de seu partido de (extrema) direita, Centro Democrático. Esse é o terceiro e mais importante levante popular que Duque enfrenta, desde que assumiu em 2018, e se afirma contra a agenda neoliberal e a repressão do Estado policial.

A rebelião atual está protagonizada por uma aliança concreta de assalariados sindicalizados, jovens precarizados dos bairros populares, estudantes, classes médias urbanas progressistas, a “minga” indígena, camponeses e setores populares em geral.

As direções burocráticas das centrais sindicais, a CUT e a CGT, que integram o comitê Nacional da Paralisação, foram superadas pelos protestos e manifestações que explodiram por todo o país. Essas direções, distanciadas da ira contra o governo que incendiou os protestos, buscam canalizar os mesmos através de um chamado de conciliação e por respostas pacíficas diante da violência estatal.

Essa é a mesma localização das figuras do “progressismo” colombiano. Tanto a Coalizão da Esperança, quanto o Pacto Histórico, de Gustavo Petro, vêm trabalhando para o sucesso da política de diálogo. Petro, que nas últimas pesquisas apareceu como favorito às eleições presidenciais de 2022, expressou uma proposta para acabar com a crise. Os dirigentes do Comitê Nacional da Paralisação deveriam declarar “o triunfo” após a retirada da reforma por parte de Duque e, tomando nota da distância entre as direções sindicais e a juventude precária e suburbana que segue combatendo e não quer ir pra casa, aconselhava definir um ou dois objetivos imediatos para sentar e conversar com o governo.

Quase seguindo ao pé da letra esses conselhos, as direções burocráticas buscaram nessa segunda avançar em um “diálogo” com o governo, mas se encontraram diante da situação de ter que entregar a luta em 2019, ao passo que a rebelião e a brutal repressão os impedem.

Após o fracasso do encontro, os representantes do Comitê chamaram uma nova mobilização nacional para a próxima quarta-feira, 12 de maio. Novamente, o chamado se dá como um fato isolado, seguindo a política de chamar paralisações de um dia, o que conspira contra a organização e preparação de uma greve geral que unifique todos os setores em luta atrás do objetivo de derrubar o governo de Duque.

Enquanto isso, a política promovida pelas próprias cúpulas políticas, com declarações contra os “violentos” e “vândalos”, se traduziu em mais ataques de civis contra manifestantes, inclusive com armas de fogo. O exemplo é o de Lucas Villa, que foi alvejado por um grupo de civis na cidade de Pereira e segundo as últimas informações, disponibilizadas pelo diretor do hospital em que estava internado, foi declarado com “morte cerebral”.

Após as jornadas de protestos de novembro de 2019, a burocracia das centrais sindicais no CNP embarcaram em um longo processo de diálogo, que deu um fôlego para Duque e que não mudou nada na realidade colombiana. Dessa vez, o povo trabalhador e pobre, os camponeses e todos os setores em luta vêm buscando evitar essa manobra e avançar contra o governo e o regime neoliberal.




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