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IMPERIALISMO NA AMÉRICA LATINA | Cinco exemplos do intervencionismo ianque na América Latina

A longa história de intervenções militares dos Estados Unidos nos permite concluir que a "bandeira da democracia" com a qual ele agora apóia Juan Guaidó na Venezuela carece de apoio histórico.

terça-feira 29 de janeiro de 2019 | Edição do dia

Nos últimos dias,defensores de Juan Guaidó tem arrogado as melhores inteções à direita venezuelana que, respaldada pelo imperialismo norte americano, assegura que seu interesse é reestabelecer a democracia no país.

Na contramão desse discurso, nessa nota, fazemos uma recontagem da participação em golpes de Estado contra diversos governos por parte dos Estados Unidos, que defendia essas intervenções justamente com a bandeira da "democracia" apenas para colocar no comando governos fantoches que trouxeram piores condições de vida para seu povo.

1954, Guatemala, soba política da Guerra Fria na america Central

Em 1954, a CIA, sob o presidente Dwight Eisenhower, orquestrou e financiou a derrubada do governo da Guatemala com a ativa participação das ditaduras de Somoza, na Nicaragua e Trujillo, na Republica Dominicana. Sob a operação secreta PBSUCCESS, os Estados Unidos organizaram o treinamento e o armamento de 500 dissidentes guatemaltecos que entraram no território da Guatemala sob o comando de Juan Castillo Armas, enquanto a marinha estadunidense implementava um bloqueio marítmo (operação HARDROCK BAKER).

No dia 16 de fevereiro, a CIA começou uma operação chamada WASHTUB, a qual consistia em plantar na Nicaragua para "comprovar" a suposta relação entre a Guatemala e Moscou, assim justificando a intervenção militar que colocou Castillo Armas no poder.

O golpe de Estado buscava satisfazer os interesses da United Fruit Compay frente às medidas implementadas pelos governos de Arévalo e Arbenz, como a refórma agrária e o Código do Trabalho. Desta forma, usando a linguagem da Guerra Fria, o objetivo era pôr fim ao desenvolvimento nacionalista dos governos democráticos, acusados de comunistas, que substituíram o regime ditatorial de Jorge Ubico, fantoche da United Fruit.

Enquanto o governo de Arbenz confiscou da United centenas de milhares de hectares de terras ociosas, os trabalhadores guatemaltecos se organizavam e lutavam contra os negócios da transnacional, nas plantações de banana, nas ferrovias, na indústria elétrica e no porto Barrios, sua plataforma de exportação, o que não convinha nada para o gigante capitalista.

Após a derrubada de Jacobo Arbenz Guzmán, presidente da Guatemala, Castillo Armas, político e militar, assimiu o poder e iniciou uma campanha anticomunista, proibiu os partidos políticos, comitês agrários e sidicatos, executou centenas de comunistas e reverteu a reforma agrária do governo anterior.

1964, Brasil

O então presidente dos EUA, Lyndon Johnson, apoiou o avanço de Mourão Filho, general do exército brasileiro no Rio de Janeiro, para tomar o poder. Os Estados Unidos enviaram numerosos aviões, navios de guerra e quatro petroleiros para realizar a chamada Operação Brother Sam.

Produto de tendencias internacionais e do proprio movimento de massas, o Brasil avaçava na nacionalização do petróleo, na reforma agrária para a distribuição de terras, além de outras "reformas de base" que ameaçavam a atuação do imperialismo yanque. No dia 01 de abril de 1964, Ranieri Mazzilli assumiu o governo do país, dando início a uma ditadura militar de mais de 20 anos.

Esmagando o ascenso operário dos anos 70, o Plano Condor

Para Richard Nixon, então presidente dos Estados Unidos, era uma prioridade deter o avanço das idéias socialistas e comunistas na América Latina, assim como os governos de esquerda, como Allende, e assim manter os interesses políticos, econômicos e estratégicos dos Estados Unidos na América Latina.
Para atingir esse objetivo, a CIA implementou o Plano Condor. Deste fizeram parte os ditadores Augusto Pinochet no Chile, Hugo Bánzer na Bolívia, Alfredo Stroessner no Paraguai, João Figueredo no Brasil, Jorge Rafael Videla na Argentina e Juan María Bodaberry no Uruguai.

Nos arquivos da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA), é explicitamente declarado que o Plano Condor era "um acordo de cooperação entre serviços de inteligência na América do Sul para eliminar atividades terroristas marxistas na área".

O saldo desta operação foi de aproximadamente 50.000 mortos, 30.000 desaparecidos e cerca de 400.000 presos e torturados.

2002, Venezuela

Após a eleição de Hugo Chávez à presidência em 1999, o imperialismo norte-americano - sob o comando de George W. Bush - e a burguesia venezuelana, acostumada a ditar os rumas da política do país, viram seus interesses ameaçados, com políticas que contemplavam uma redistribuição tímida da terra, a fixação de alguns direitos para os pescadores artesanais perante as grandes indústrias, bem como um controle estatal mais sério do negócio dos hidrocarbonetos, embora mantendo a abertura ao capital privado .

Leia mais aqui: Lecciones de las jornadas de abril del 2002

Após greves e mobilizações convocadas pela direita e empresários como Fedecámaras (cujo diretor, Pedro Carmona Estranga assumiria o poder dias depois), a Polícia Metropolitana, a Igreja Católica e a mídia privada, que levaram ao confronto com apoiadores do governo , que Chávez tinha constantemente chamado para não confrontar a reação, o saldo foi de várias dezenas de mortes. Chávez renunciou à presidência em 11 de abril.

Em 12 de abril, o empresário Carmona Estranga proclamou-se presidente da Venezuela e Chávez se rendeu. Os Estados Unidos imediatamente reconhecem a legitimidade do novo governo. No dia seguinte, dezenas de milhares de pessoas saem às ruas para defender o governo e os avanços que haviam tido. Diante disso, os golpistas são forçados a recuar e, em 14 de abril, Chávez retorna pedindo calma e anunciando um "diálogo nacional" para a reconciliação.

2004, Haiti, pela terceira vez

Em 29 de fevereiro de 2004, o presidente do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, foi sequestrado por um comando militar dos EUA. Foi um golpe de Estado orquestrado pelos Estados Unidos e por países europeus como a França, que liderou a aprovação da "restauração da democracia" da ONU, impondo Boniface Alexandre como presidente interino e Gerard Latortue como primeiro-ministro.

Nos dias seguintes, milhares de haitianos foram às ruas protestar contra essa imposição e organizações internacionais como a Caricom (Comunidade do Caribe, 15 países) também repudiaram a derrubada de um presidente que chegou ao poder em 1991, nas primeiras eleições democráticas da história do Haiti.

Sete meses depois de sua posso, ele teve que fugir para os Estados Unidos, devido a um golpe dos militares, que deu aos Yankees a oportunidade de preparar a restituição do soberano deposto em 1994 naquela que seria a segunda intervenção dos EUA neste país (a primeira foi a ocupação militar de 1915-1934), sendo endossada pela ONU.

O acordo central que os Yankees tinham então era que Aristide promoveria plenamente os planos neoliberais, submetendo-se às exigências do "livre comércio" e à privatização das poucas empresas estatais, como estava sendo aplicado no México naqueles dias.

Encontraria forte resistência interna a essas políticas, e a saída do imperialismo era estrangular economicamente o povo haitiano, como acontece hoje com a Venezuela, para depois chegar ao ponto de intervenção militar para colocar um governo dócil. Assim, enquanto uma extensa campanha diplomática estava sendo conduzida usando a ONU e apoiada pela França, Canadá e Chile, os Estados Unidos preparavam uma força paramilitar de 900 soldados treinados e armados no território da República Dominicana, o que acabaria com os partidários de Aristide e com seu partido, o Lavalas.

O comando militar que pegara Aristide na madrugada daquele 29 de fevereiro o leva para a República Centro-Africana, e as forças de ocupação, "para garantir a ordem" com 3.600 soldados do Canadá, dos EUA e do Chile, questionados pelos protestos de rua, seriam substituídos por 13 anos por uma força de ocupação maior com contingentes de vários países, encabeçados pelas forças armadas do Brasil, sob a sigla da Minustah (Missão das Nações para a estabilização do Haiti), concluída em outubro de 2017.

Estas são apenas algumas das muitas intervenções que os Estados Unidos realizaram como parte de sua política imperialista, que procura primariamente manter-se como a principal potência econômica e política a nível mundial.
Diante dos ajustes do governo - como o de Maduro - e as políticas de ultra-direita que atacam os direitos dos setores populares e dos trabalhadores - vários desses mesmos governos assumiram o poder com discursos progressistas para capitalizar o descontentamento das massas - é essencial que trabalhadores e setores do povo construam uma alternativa independente, tanto das alternativas políticas que apostam em realizar algumas medidas progressistas, mas sem questionar até o fim os interesses do capital privado como das alternativas de direita que têm por trás os interesses imperialismo americano e europeu.




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