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CONTRA A DIREITA CINZA | “Cidade linda” de Dória é cinza e privatizada

No aniversário da cidade, vemos uma parte do acúmulo cultural dela ser destruído, apagando os grafites da cidade, retirando os cobertores dos moradores de rua e cortando o leite das crianças, junto a uma série de medidas para privatizar nossos parques, nossa saúde e educação. O novo prefeito tucano, João Dória, com discurso populista está aplicando uma série de medidas higienistas e privatizadoras, para São Paulo comemorar seu aniversário mais cinza, excludente e exploradora. Eu, que tive meu facebook atacado por apoiadores, robôs e militantes pagos pelo prefeito, em resposta as minhas denúncias, gostaria de desenvolver um pouco mais o que é a política dessa direita.

Diana AssunçãoSão Paulo | @dianaassuncaoED

quarta-feira 25 de janeiro de 2017 | Edição do dia

Foto: Cave Painting, de Bansky

Para o novo prefeito tudo pode ser vendido, comercializado e explorado. Dória ganhou com perfil “antipolítica” que teve sua continuidade em um começo de gestão midiática junto a medidas populistas que tentaram esconder inúmeros ataques que ele vem aplicando. Foi patético ver um empresário que tem mansão de R$51 milhões se fingir de gari e “limpar” uma calçada que já havia sido varrida pelos próprios garis. Depois desta série de teatros midiáticos para se “mesclar ao povo”, faz estourar o escândalo do projeto “Cidade Linda”, em que o prefeito apagou grafites históricos e depredou o maior mural a céu aberto da América Latina, uma política de cerceamento da liberdade de expressão e perseguição à juventude. Não contente, orientou que a guarda civil retirasse os cobertores dos moradores de rua , após um ano onde houveram mortes por conta do frio na cidade.

Dória (PSDB) está apagando o maior corredor de grafite da América Latina fato que vem escandalizando milhares de pessoas, ainda mais os paulistas que veem sua cidade de céus já cinzas, ficando ainda mais cinza. Mas nesse caso não pela força do clima, mas sim pela política higienista e repressiva do novo prefeito. Sabendo da impopularidade da medida, Dória já cercou sua casa com a Guarda Civil Metropolitana, para proteger sua enorme mansão de qualquer expressão de revolta.

Esse fato revoltoso e escandaloso, em si, para qualquer apreciador das cores, é uma ponta da política do PSDB na cidade. Em meio a um discurso populista de direita, Dória vem listando uma série de ataques aos direitos sociais, como saúde e educação, assim como tornando a cidade ainda mais elitizada, acabando com as atividades culturais e artísticas. Entre privatizar os direitos públicos e uma política higienista com a população pobre e coercitiva com a juventude, Dória se apresenta como “novo”, prefeito “antipolítico”, técnico e administrativo, o suposto “João trabalhador” que coloca a “mão na massa” cercado de câmeras para impulsionar sua tática midiática.

Claro que não estava com as câmeras quando ele e o governador também tucano, Geraldo Alckmin, despejaram 700 famílias em São Mateus, zona leste de São Paulo. O terreno da ocupação Colonial era parcialmente de propriedade da prefeitura. Junto a Alckmin sequer o cadastro social dos moradores foi feito. Para completar a obra higienista prenderam Guilherme Boulos, da direção do MTST. Doria já havia prometido repressão aos movimentos de moradia, concretizou rapidamente a promessa.

Bem distante de uma origem trabalhadora, Costa Doria é uma família brasileira do período colonial, cujos membros foram senhores de engenhos, militares, políticos, senhores de escravos e intelectuais.

O populismo de direita do prefeito patronal

Dória foi o candidato mais rico do país a disputar as eleições municipais em alguma capital em 2016. Ele preside o LIDE (Grupo de Líderes Empresariais), que congrega mais de 700 das maiores empresas do Brasil e representam 44% do PIB privado do país, e é acionista e presidente do conselho da Casa Cor, maior evento de arquitetura e decoração das Américas e o segundo maior do mundo. Dono de uma mansão de 3.304 metros quadrados, apartamento em Miami, o prefeito é um clássico lobbista empresarial, que tem entre seus ídolos ninguém menos que o racista e xenófobo presidente americano Donald Trump

Além do acúmulo de riqueza baseado na exploração de trabalhadores, Dória está envolvido em um grande esquema de corrupção internacional, com sonegação de impostos, chamado “Panamá Papers", através de uma empresa offshore, um tipo de empresa formada em paraísos fiscais, como Panamá, feita para sonegar impostos.

Privatizar a saúde, precarizar a educação

Como um autêntico patrão, aliado da FIESP, Dória vê em tudo uma oportunidade para seus lucros. Apesar da política privatizante, ele não assume um discurso neoliberal, pelo contrário, fala dos moradores de rua, da limpeza da cidade, tira fotos vestido de gari. Enquanto em 25 dias de gestão já permitiu que a GCM retire os pertences dos moradores, depreda os grafites e pichações. Mas vai além, seu projeto de “corujão da saúde” é parte de uma espécie de privatização do SUS, transferindo dinheiro público para os bolsos dos donos dos hospitais privados para que a população faça exames no período noturno ali, ao invés de investir na sucateada saúde pública .

Da mesma forma que pretende abrir creches em agências bancárias desabilitadas, local completamente inapropriado, ou em escolas do Estado, fazendo uma parceria com Alckmin para impor a reorganização escolar, ou seja o fechamento de escolas e salas de aula. Atacam a educação por baixo dos panos. Essa parceria do ensino municipal e estadual só será possível após a aprovação da reforma do ensino médio, medida proposta pelo governo Temer que propõe uma educação técnica e precária, desvalorizando o professor e a escola como espaço de livre conhecimento, ligado a isso Dória chegou a apoiar o programa “Escola sem Partido”, projeto reacionário, defendido por políticos como Eduardo Cunha, Jair Bolsonaro e Marco Feliciano.

Apagar grafite e privatizá-lo?

Voltando ao grafite, até nesse ponto há dinheiro envolvido ou um “bom negócio”, Dória que abrir espaços próprios para o grafite, onde tenha lojas e bares. Ou seja, acabar com a livre expressão e confinar os pichadores e/ou artistas num único local. Também não tem nada declarado, entramos assim no reino das hipóteses, mas não estranharia que os novos muros cinzentos da cidade fossem tomados por propagandas e outdoors. “Business as usual”.

Com ele o estado aplica todos os meios para aumentar os lucros dos empresários, é a fusão mais acabada do político-empresário, o balcão de negócios da burguesia tomado pelo próprio burguês líder de sua classe empresarial (a LIDE). Essa ideia clássica do marxismo sempre volta com maior atualidade.

Combater a demagogia do privatizador

O perfil empresarial e antipolítico de Dória venceu as eleições baseado no desgaste da população com os políticos tradicionais, resultado da crise orgânica, onde a população busca novas alternativas, a direta e a esquerda, para uma crise que é totalizante, econômica, social e política. Esse fenômeno não ocorreu só em São Paulo, mas em diversas cidades, e capitais como Rio de Janeiro e Rio grande do Sul. Em São Paulo como em diversos outros lugares o PT abriu caminho a essa direita. Os acordos de Haddad com empresários e direitistas teve seu ápice quando o petista se integrou num “conselho de gestão” junto a Dória, conformado por ex-prefeitos.

A ideologia individualista e de crescimento pessoal pelo trabalho por dentro do capitalismo, combina-se à força que as centrais sindicais petistas e patronais ainda retém em meio à crise econômica mundial, fazendo que os trabalhadores não usem toda sua força para impedir os ataques como a reforma trabalhista, da previdência, a precarização da saúde e da educação profundamente atacadas pela PEC 55 e medidas dos governos dos estados e municípios. Os “dias de luta” das centrais sindicais sem efetiva construção nos locais de trabalho impedem que paremos as mãos daqueles que querem da classe trabalhadora modernos escravos. Precisamos colocar essa força de luta na rua para que os trabalhadores possam se tornar atores políticos independentes na situação. Entretanto, a juventude que se mobilizou contra Alckmin e os trabalhadores que se indignam com a onda de demissões não ficarão de braços cruzados vendo seu futuro, sua educação e sua arte serem acinzentados e apagados.

Contra essa direta que foi parte do golpe institucional, e que tem como objetivo fazer os trabalhadores pagarem por sua crise econômica, retirando nossos direitos mais básicos como a aposentadoria, direitos trabalhistas, saúde e educação, frente à inflação e ao desemprego cada vez maior, é preciso organizar a resistência contra seus ataques, de maneira consequente, sem os entraves que a direção do PT coloca a essa luta.

O capitalismo não tem nada a oferecer a não ser a miséria humana em todos os aspectos sociais, artísticos e culturais. As organizações sociais e os sindicatos precisam estar à altura de enfrentar em comum, nas ruas, o desafio que Dória coloca neste início de gestão, fazer da luta contra Doria um ponto de apoio para resistirmos também a Alckmin e a Temer.

Refaço esse chamado a toda juventude, trabalhadores, negros, mulheres, LGBTs, que fiz após as eleições municipais queremos fortalecer as milhares de vozes anticapitalistas expressas nas eleições, e organizar a resistência contra os ataques de Dória e do PSDB, aliado estreito de Alckmin e Temer, que odeia os trabalhadores, as mulheres, os negros e a juventude.




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