Como parte de seu “Programa Cidade Linda”, que já apagou grafites e pixações dos muros de São Paulo, Doria avança sobre os moradores de rua de São Paulo e retira mais uma vez seus pertences.
quarta-feira 29 de março de 2017 | Edição do dia
A ação apoia-se na modificação da “lei do frio”, criada após o grande desgaste político que o Haddad sofreu quando em sua gestão promoveu a retirada dos bens desses moradores. Essa lei - que previa a proibição do confisco de colchões, cobertores etc. -, após modificação em janeiro deste ano, agora autoriza a retirada desses objetos, tornando a prática legal. Manteve-se, porém, a proibição do recolhimento de pertences como remédios, documentos, mochilas, roupas e carroças, o que segundo relatos dos moradores não vem sendo respeitado na prática.
Em depoimento à Folha, diversos moradores relatam os abusos que vêm sofrendo por conta desse decreto, tendo desde documentos até cadeiras de rodas e remédios apreendidos. Um dos moradores da zona norte, que vive em frente à estação de metrô Santana, afirma que uma semana antes do prefeito ir visitar o local “fantasiado” de gari para divulgar o Programa Cidade Linda, vários moradores foram surpreendidos com a GCM recolhendo seus pertences.
A medida de Doria em nada resolve o problema da falta de moradia, afinal a alternativa para esses moradores segue sendo morar nas ruas (ou em abrigos em condições tão ruins quanto ou até piores). Não há hoje políticas que de fato resolvam o problema dessa população, que em um momento de taxas de desemprego cada vez maiores, tem ainda mais dificuldade para se inserir no mercado de trabalho e, quando se inseridos, acabam nos postos mais precarizados.
Na mesma matéria da Folha, a prefeitura afirma que “está desenvolvendo ações voltadas a moradores de rua, como a oferta de vagas de emprego em empresas privadas”. Tendo em vista o PL da terceirização irrestrita aprovado semana passada, já é possível se imaginar como serão as condições dessas vagas de emprego, com um salário que dificilmente pagará o aluguel em uma cidade como São Paulo. Com isso, o prefeito demonstra qual é a verdadeira face de seu projeto para a cidade: um projeto higienista, alinhado às políticas aplicadas a nível nacional contra a população, e que deve ser combatido.
