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CORONAVÍRUS | "Chuva de milhões" do Banco Central Europeu, mas para quem?

O Banco Central Europeu vem ao resgate um plano de compra de 750.000 milhões de euros para salvar o euro da crise do coronavírus.

sábado 21 de março de 2020 | Edição do dia

Na meia-noite passada, a presidente do BCE, Christine Lagarde, anunciou o que muitos chamam de bomba ou aposta de todas as fichas. Este é o maior estímulo econômico global a nível europeu desde a crise de 2008. Para dar uma ideia de sua magnitude, o número é equivalente a quase três quartos do produto interno bruto da Espanha.

Em uma reunião de emergência de seu conselho de administração, o banco aprovou um plano para comprar 750.000 milhões de euros em ativos públicos e privados. Com essa chuva de milhões, eles querem garantir aos governos o financiamento de seus planos de estímulo, como o espanhol, com mais de 100,00 milhões de euros em dinheiro público. Além disso, também visa reduzir os riscos-país. Estes, especialmente dos países do Sul (Estado espanhol, Itália ou Grécia), estão subindo há dias sem parar, o que fez muitos já verem o fantasma de 2011, quando dispararam sem controle e vários resgates financeiros tiveram que ser feitos para esses países. Com essas medidas, buscam evitar essa situação extrema.

A ideia é clara: deve ser feito todo o possível para salvar o euro. O comunicado divulgado pelo BCE anunciando a decisão deixa explícito: “O conselho do governo garante que fará tudo o que for necessário dentro do seu mandato e que está totalmente preparado para aumentar o tamanho de seus programas de compra de ativos e ajustar sua composição, tanto quanto necessário e pelo tempo que for necessário". Como nos dias da crise do euro, o BCE vem ao resgate.

Como economista do jornal El País, afirma: “O sentido econômico dessas operações consiste em tentar continuar alimentando o acesso ao crédito por famílias e empresas, a fim de promover o consumo e o investimento. Em outras palavras, crédito barato e taxas artificialmente baixas para continuar dopando a economia europeia.”

Milhões para a classe trabalhadora ou para empregadores e bancos?

Ainda que este órgão afirme que: “Isso garantirá que todos os setores da economia possam se beneficiar de condições financeiras favoráveis que lhes permitam absorver esse choque. Isso se aplica igualmente a famílias, empresas, bancos e governos”, a experiência nos diz que a realidade será muito diferente. Como sempre no capitalismo, o grande beneficiário dessa medida serão os aparatos estatais de cada país e, sobretudo, o sistema financeiro, ou seja, os chefes e os bancos, que, embora em mãos privadas, sempre recorrem ao "papai Estado" quando eles se encontram em dificuldades.

Por um lado, o grande capital financeiro obtém um credor de último recurso que o transforma em um arqui-privilegiado. Por outro lado, os Estados têm a capacidade de se financiar de uma maneira realmente barata. O binômio capital financeiro-aparato estatal é o grande favorecido por suas próprias decisões políticas. Nada de novo sob o sol.

Isso é uma coisa intrínseca do capitalismo. A única maneira que tem de continuar existindo é através de um processo constante de acumulação de capital. Portanto, quando houver uma queda evidente na produção e no consumo, como a atual devido a essa pandemia, precisa manter sua taxa de lucro. Para fazer isso, usa ajuda pública e dinheiro, às custas de mais dívidas aos estados, como em 2008, e depois são feitos cortes sociais brutais para pagar essa dívida. E também, como já está sendo observado com a onda de demissões ou ERTEs que estão ocorrendo, "espreme" cada vez mais a classe trabalhadora, reduzindo nossas condições de trabalho e salário.

Com essas medidas, vemos claramente como esse sistema é feito pelos ricos e para os ricos. Por esse motivo, hoje mais do que nunca, é necessário levantar a hipótese estratégica de luta por uma saída revolucionária para essa nova crise capitalista com mais força do que nunca.

Texto publicado originalmente em 19 de março, por Jorge Calderón, no Izquierda Diario Estado Español, da rede internacional de diários La Izquierda Diario, da qual o Esquerda Diário faz parte.




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