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CONGRESSO PARTIDO COMUNISTA CHINA | China: as chaves da nova era anunciada por Xi Jinping

Neste dia 25 de outubro, logo após uma semana de deliberações, foi concluído o 19 Congresso do Partido Comunista Chinês, consolidando a liderança do presidente Xin Jinping para conduzir o país no seu tortuoso caminho de transformar-se em uma superpotência mundial -econômica, diplomática e militar- até o ano de 2050.

Claudia CinattiBuenos Aires | @ClaudiaCinatti

sexta-feira 27 de outubro de 2017 | Edição do dia

Sua doutrina, conhecida como "Pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era" foi incorporada assinada com o seu próprio nome na constituição partidária. Deste modo, Xi ingressou em vida ao panteão dos líderes chineses, um privilégio que até agora cabia somente a Mao Tse Tung, "o grande Timoneiro". Enquanto isso Deng Xiaping, "o pequeno Timoneiro" (porém grande arquiteto da restauração capitalista) foi incluído logo que morreu em 1997 pela sua engenhosa alquimia do "socialismo de mercado".

Xi Jinping insistiu no "êxito do socialismo com características chinesas", o que se soma à confusão generalizada criada pela grande mídia que se refere à burocracia restauracionista e seu regime autocrático de partido único como "comunista", ou "leninista"

É evidente que o chamado "modelo chinês" não tem nada a ver com o socialismo. O Partido Comunista Chinês é uma maquinaria burocrática que gere a restauração capitalista ao ponto de ter entre os delegados de seu 19 Congresso vários dos grandes multimilionários chineses, conhecidos como os "empresários vermelhos", cooptados pelo PCCh.

Em seu demorado discurso de 3 horas e meia, Xi propunha que a história recente da China se dividiu em duas eras: a era de Mao, iniciada com a revolução de 1949 e que estabeleceu a República Popular independente, colocando um fim nas invasões estrangeiras e nas guerras civis ainda que durante três décadas o país permaenceu submerso na miséria, no atraso e na instabilidade política. E, finalmente, na era de Deng Xiaoping iniciada em 1978 com o processo de restauração capitalista que permitiu o crescimento econômico baseado nas vantagens do atraso, em particular na mão de obra barata e na disciplina férrea imposta pelo Partido Comunista. Porém, essa estratégia exportadora agressiva que permitiu anos de crescimento extraordinário e elevou a China à segunda economia mundial se esgotou. Agora se abriu um anova era que deveria conduzir à restauração da grandeza da China como uma potência mundial. Esta estratégia, que tem objetivos de médio prazo -uma sociedade "modestamente próspera" para 2020- e de longo prazo -status de grande potência-, se sustenta por três pilares: o aprofundamento das reformas econômicas; o desenvolvimento da capacidade militar e a consolidação do regime de partido único.

Claro que o anúncio dos grandes objetivos que levariam à realização do "sonho chinês" são na verdade a constatação das debilidades do gigante asiático para ascender aos mais elevados poderes mundiais, desiludindo aqueles que e apressaram em considerá-la como um novo imperialismo. Segundo o presidente, todavia, faltam ainda 30 anos (duas gerações) para que tenham um exército a altura de uma potência de primeiro ranque, para não mencionar outros aspectos como a renda per cápita, o desenvolvimento tecnológico e outros indicadores sociais.

Durante as últimas quatro décadas a política exterior da China (e o seu ascenso mundial) foi regido pela chamada "estratégia de 24 caracteres" de Deng Xiaoping, formulada em 1990 logo após os traumáticos acontecimentos da praça de Tianamen e no marco da derrubada da União Soviética e dos regimes stalinistas do leste europeu. Tratava-se de uma estratégia de cautela geopolítica sintetizada em consignas como "esconder nossas capacidades, esperar a nossa vez"; "não liderar as reivindicações", "exercer oposições moderadas", ou seja, não disputar a hegemonia dos Estados Unidos nem das potências estabelecidas, salvo em aspectos parciais.

Tudo indicaria que o 19 Congresso do PCCh considerou que os quase quarenta anos de restauração capitalista foi tempo suficiente, que é o momento de deixar para trás o período de emergência a passos de tartaruga e que para continuar avançando até o "sonho" de "grande potência" seria necessário adotar uma política mais agressiva no cenário mundial. Porém, isto coloca em um novo plano as contradições internas e externas que envolvem a transformação da China em uma superpotência.

A partir de um ponto de vista doméstico, o atual presidente do Banco Popular da China, declarou que pelo nível de dúvida e especulação, o sistema financeiro poderia estar próximo de um "momento Minsky", expressão do economista norteamericano amplamente usada durante a crise de 2008, para alertar sobre potenciais riscos financeiros que poderiam acarretar em uma crise.

O giro bonapartista que marcou o 19 Congresso reivindicando o regime de partido único e a direção absoluta de Xi Jinping sobre o Partido Comunista (e também sobre o Exército de Liberação Popular) é um indicador de que se esperam tempos turbulentos. Recordemos que Xi consolidou sua liderança através de uma intensa campanha contra a corrupção que purgou o PCCh de todos os seus opositores e potenciais rivais, entre eles o líder regional Bo Xilai com aspirações de recriar um "maoísmo senil" frente à orientação de maior abertura econômica e liquidação gradual mas assistida das empresas estatais "zumbis".

Durante a última década, a China deixou de ser o grande provedor de mão de obra baratíssima. Hoje existem outros 7 países da região ocupando esse lugar e competindo para atrair investimentos (Bangladesh, Vietnã, Paquistão, Indonésia, Tailândia e Filipinas). Isto coincide com a mobilização de amplos setores da classe operária chinesa, que tem como emblema a greve da Honda em 2010, e que abarca ações tanto defensivas contra as demissões quanto ofensivas pelo aumento dos salários e o direito à organização. Segundo estudos do China Labour Bulletin, em 2016 houveram mais de 2.600 atos coletivos de trabalhadores. O fortalecimento do controle do PCCh e de suas forças repressoras é uma resposta preventiva às prováveis explosões de descontentamento social.

Xi usou um tom marcadamente nacionalista para unir a "grande nação" chinesa em busca do sonho imperial. Reafirmou o controle das ilhas artificais do Mar do Sul da China e deu ênfase especial para a Iniciativa Cinturão e Rota da Seda, um mega projeto de infraestrutura econômica e geopolítica para conectar Europa e Ásia por terra (trens de alta velocidade e acessos) e por mar, sem a inclusão dos Estados Unidos. Este projeto está aumentando as tensões com Washington que através de Trump incrementou suas ameaças de guerras comerciais e outras medidas de limitar a influência chinesa.

Está claro que esta "nova era" de ambições chinesas não se desenvolverá de maneira pacífica. A acumulação de recursos bélicos por parte dos Estados Unidos no noroeste da Ásia, e a possibilidade de algum incidente militar com a Coreia do Norte, são indicadores dos conflitos ainda por vir. Esta política agressiva iniciada por Obama e acelerada por Donald Trump, mostra que o imperialismo norteamericano não cruzará os braços tranquilamente ao contemplar o ascenso do seu principal competidor.

Tradução André Arruda




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