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Celeste MurilloArgentina | @rompe_teclas

sábado 11 de abril de 2015 | 00:02

Imagem: Livro: Factory Girls. Voices from the Heart of Modern China.

Cinco ativistas feministas chinesas foram detidas nos dias anteriores ao 8 de março, quando se preparavam para o Dia Internacional das Mulheres. Li Maizi, Wei Tingting, Wu Rongrong, Zheng Churan, e Wang Man, foram presas por participar de atividades contra a discriminação, a violência e pelos direitos das mulheres.

Acusam as ativistas de “provocar distúrbios e criar problemas” e podem condená-las a cinco anos de prisão. Uma das detidas, Li Tingting, conhecida como Li Maizi, tem 25 anos e é uma das principais ativistas LGBTI na China. É famosa por sua performance contra a violência de gênero com um vestido de noiva ensagrentado para protestar contra o que até pouco tempo era considerado um tema da vida particular das pessoas e não estava listado como agressão.

Ainda que o governo chinês queira evitar que o caso tenha repercussão, muitas organizações internacionais já se pronunciaram por sua liberdade. Personalidades da cultura e da política têm exigido a liberdade das cinco ativistas, e a campanha ameaça viralizar-se.

A Assembleia Nacional Popular (Congresso) aprovou em dezembro de 2014, a primeira lei contra a violência conjugal – no Brasil, chamada violência doméstica -.
Ainda que seja limitada, a lei expõe a crescente visibilidade das demandas das mulheres na China, nas quais o fim da violência está entre as principais.

Segundo dados oficiais, a violência de gênero afeta 25% das mulheres casadas (não se mede oficialmente por fora do casamento). O número real é maior, considerando ainda que a maioria das mulheres não denunciam as agressões porque até poucos anos consideravam uma parte “natural” das relações entre marido e mulher.

Esta mudança nas mulheres não é isolada. Como Li Tingting e suas companheiras, as mulheres que denunciam o assédio sexual no trabalho, ou participam de pequenas ações feministas em cidades como Beijing, têm entre 20 e 35 anos. São parte da geração que protagoniza greves e protestos em todo o país.

As jovens encabeçam protestos nos lugares de trabalho contra o assédio. Isto acontece por dois motivos. Por um lado, é um problema extendido: 40% das mulheres empregadas na indústria denunciaram assédio no trabalho, e a percentagem cresce a 70% nos serviços (Sunflower Centre – Centro de Girassol). Por outro, as operárias jovens, que lutam ao lado de seus companheiros, já não aceitam o assédio como algo “natural”.

Quem são as novas ativistas?

As mulheres são a metade da nova classe trabalhadora. Nas cidades industriais centrais como Shenzhen representam 53,2% da classe operária migrante. A indústria incentivava a contratação feminina porque a considerava mão de obra dócil, mas isso mudou.

As jovens, nascidas depois de 1980, educadas na vida urbana e no trabalho industrial são 40% da participação nas greves, segundo relatório do China Labour Bulletin ( CLB, em português, Boletim do Trabalho na China). O mesmo relatório as classifica como maioria no ramo com mais alto índice de conflitos (manufatura), onde ocorreram 40% das greves durante a onda de 2011 – 2013, logo após a crise do modelo Foxconn. Mas, não se limitam à indústria, também protagonizam greves na saúde e na educação, categorias tradicionalmente femininas.

Segundo Zeng Feiyang, da ONG Panyu Migrant Workers Center (de trabalhadores migrantes), a “típica” líder sindical atual tem entre 30 e 40 anos, está casada, e geralmente organiza mulheres mais jovens. São a maioria das pessoas ativas nas campanhas de denúncias sobre condições de trabalho, as que buscam aconselhamento jurídico, escrevem e difundem greves e protestos nos lugares de trabalho. Isto se explica também porque a discriminação é aberta: ao analisar os classificados de emprego, foi identificado que 23% expressava uma preferência de gênero, e é parte da entrevista de trabalho perguntar a uma mulher se deseja ter filhos e quando, e tomar uma decisão em base às respostas.(CLB).

Uma nova geração

Como acontece a respeito de outros problemas, esta geração não aceita as mesmas condições que aceitavam seus pais e mães em troca da promessa de uma vida melhor. Essa geração havia mudado das aldeias rurais para as cidades e encheram de mão de boa as grandes fábricas do sul da China, o coração da manufatura.

Desde a crise aberta com os suicídios na Foxconn, o modelo de baixo custo transformou a China em “oficina do mundo” começou a desmoronar. Começaram greves por salários, melhores condições de trabalho e sindicalização. O capítulo mais recente desse processo foi levado adiante na fábrica de calçados Yue Yuen, paralisada pelos seus trabalhadores e trabalhadoras no começo de abril.

Menos de um ano antes, uma greve na mesma fábrica reafirmava o surgimento da nova geração operária chinesa. A particularidade da greve da Yue Yuen em 2014 foi a exigência de pagamento das pensões devidas. O protesto foi silenciado pela imprensa oficial porque era uma reivindicação ao governo local.

As autoridades políticas não gostam que os trabalhadores se coloquem firmes contra os empresários para que estes cumpram as leis trabalhistas, nem que os trabalhadores denunciem a corrupção. Mas o que eles menos gostam é que os protestos dos trabalhadores coincidam com o mal-estar latente causado pelos problemas sociais como a moradia ou a saúde. E isto parece ser uma tendência, que pode se aprofundar para aplicar as modificações no hukou, um velho sistema de registro que associa os benefícios sociais que uma pessoa tem direito ao lugar de nascimento, hoje interrompido pelas migrações internas.

Tradução: Tassia Arcenio

Original:http://www.laizquierdadiario.com/China-la-nueva-generacion-tiene-rostro-de-mujer




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