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BIENAL DE ARTES | Chega a Campinas a mostra itinerante da 31ª Bienal de São Paulo

No último dia 24 chegou ao Sesc Campinas a 31ª Bienal de São Paulo – Obras selecionadas. Trata-se da versão itinerante da exposição que aconteceu na cidade de São Paulo de setembro a dezembro de 2014.

quarta-feira 1º de abril de 2015 | 01:28

Não é sobre sapatos, obra de Gabriel Mascaro exposta no sesc Campinas.

No último dia 24 chegou ao Sesc Campinas a 31ª Bienal de São Paulo – Obras selecionadas. Trata-se da versão itinerante da exposição que aconteceu na cidade de São Paulo de setembro a dezembro de 2014.

Quando de sua abertura no ano passado, a 31ª Bienal atravessava uma séria polêmica: a Fundação Bienal aceitou patrocínio do estado israelense no auge de mais um massacre de Israel na Palestina. Indignados, 55 artistas, cujas obras já haviam sido selecionadas para a exposição, publicaram poucos dias antes do seu início uma carta exigindo que a fundação devolvesse o dinheiro a Israel (equivalente em reais a 90.000,00).

Sobre o impasse, afirmou o artista Tony Chakar: “Israel é um país ocupando outro. Nesse exato momento está ativamente engajado em atacar e bombardear outro país. Essa não é minha opinião, é a opinião da ONU. Aceitar dinheiro de um país nessa situação certamente é complicado. O que Israel faz é de conhecimento público. Aceitar dinheiro desse estado e colocar seu logo no material de divulgação é uma decisão política.” Na ocasião, a Fundação respondeu que faria uma discussão com o Conselho sobre o assunto. Já a curadoria (Charles Esche, Galit Eilat, Nuria Enguita Mayo, Oren Sagiv, Pablo Lafuente, Benjamin Seroussi, Luiza Proença e Sofia Ralston) mostrou-se mais solidária e receptiva à crítica dos artistas, divergindo da postura da Fundação Bienal. Polêmicas à parte, a Bienal seguiu seu curso normalmente e uma muito acurada seleção de suas obras chega à Campinas.

Sob o título Como (...) coisas que não existem, a mostra evoca o poder artístico de promover reflexões e ações que transformem a realidade. De cunho extremamente crítico, a exposição traz obras poeticamente ácidas através das quais o artista não preocupa-se com a representação de algo mas quer fazer-se presente através do objeto de arte.

Fruto de metodologias nada convencionais e de proposições cuja construção se dá no âmbito da coletividade em detrimento de visões individualistas, cada objeto artístico carrega em si as marcas da contemporaneidade, suas contradições e paradigmas. Assim, no caso da Bienal, o olhar artístico volta-se para o desejo das culturas locais e suas particularidades, como se pode ler em seu material impresso: “Em uma época em que as trocas de informações crescem exponencialmente, há uma redução na diversidade das estruturas de pensamento. O modelo econômico dominante, com sua lógica fria de eficiência, ignora a história e a cultura locais em favor de análises simplistas de lucros e perdas; a complexidade do desejo humano é deixada de lado, embora os antigos discursos de oposição ao capital também fracassem em tentar incorporá-los.”

Um dentre tantos exemplos disso é a obra Nada é de Yuri Firmeza. Tal obra traz uma reflexão sublime e sensível sobre as experiências do individual quando imerso em eventos culturais coletivos, assim como a importância da memória enquanto ente que sugere valor ao bem social comum. Em cores fortes e imagens que evocam a sacralidade feminina na Festa do Divino Espírito Santo (na cidade de Alcântara, Maranhão) o filme de Yuri Firmeza é uma invocação poética tanto da memória como da experiência cultural coletiva.

Para um caminho similar vai a obra de Gabriel Mascaro intitulada Não é sobre sapatos. O artista reuniu imagens das manifestações de 2013 mas não sob sua ótica ou dos manifestantes mas sim, da própria polícia. As imagens chamam a atenção para os pés daqueles que constroem a manifestação (os sapatos se tornaram uma contundente forma de identificação para a polícia, uma vez que os manifestantes, durante um ato, trocam as peças de roupa mas nunca os sapatos. Mascaro postula, dessa forma, um outro modo de pensar a identidade e o anonimato, um modo que parte dos parâmetros da fiscalização e do policiamento e coloca o corpo coletivo como vítima de formas de violência institucionalizada por um estado repressor e autoritário.

A 31ª Bienal conta ainda com importante núcleo de educadores responsáveis por visitas guiadas. Através de cursos voltados para professores e o público em geral, o Educativo da Bienal tem por objetivo firmar acordos de aprendizagem que se retroalimentam, onde a troca de experiências é o fator mais relevante para a apropriação artística de um público variado.

As obras selecionadas estarão em Campinas até o dia 07 de junho e são um sincero convite para falar sobre coisas que não existem, vivê-las, usá-las, aprendê-las e, sobretudo, lutar por elas.

SERVIÇO
31ª BIENAL DE SÃO PAULO – OBRAS SELECIONADAS
24 de março a 7 de junho
SESC Campinas Rua Dom José I, 270/333 - Bonfim - Campinas - SP
ter-sex: 8h30-21h; sab-dom e feriados: 9h30-18h
www.sescsp.org.br | [email protected]
T: (19) 3737 1500
Entrada Gratuita




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