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ABSURDO | Centrais sindicais se reúnem e não apontam nenhuma medida de luta contra a reforma da previdência

Mesmo no cenário das eleições mais manipuladas da história recente no país, com golpe institucional, avanço do autoritarismo judiciário e a tutela das Forças Armadas, as centrais sindicais convocaram uma reunião para debater “medidas de mobilização contra a reforma da previdência”, mas não apontam nenhuma única medida concreta de luta.

segunda-feira 5 de novembro de 2018 | Edição do dia

No dia 28 de outubro Bolsonaro venceu as eleições mais manipuladas da história recente do país, contando a seu favor com o golpe institucional, avanço do autoritarismo judiciário, a tutela das forças armadas, o trabalho incansável da imprensa e o financiamento milionário de empresários, banqueiros, latifundiários e das igrejas evangélicas.

Mesmo antes de assumir, Bolsonaro, seu vice General Hamilton Mourão e o futuro ministro da Fazenda Paulo Guedes anunciaram como prioridade em seu governo a aprovação da mãe de todas as reformas: a reforma da previdência. Dessa forma anunciam sua intenção de prosseguir com ataques que nem mesmo o governo golpista de Temer conseguiu implementar, como forma de sinalizar ao mercado e aos capitalistas sua disposição de impor de forma autoritária medidas ultraliberais, para descarregar de forma ainda mais profunda a crise capitalista sobre as costas dos trabalhadores e da juventude e aumentar a subordinação do Brasil ao capital norte americano.

Em meio às declarações desencontradas em que Temer anunciou prontamente sua disposição de auxiliar Bolsonaro na implementação da reforma ainda este ano, Onyx Lorenzoni declarou que deveriam aprovar uma reforma mais profunda no ano que vem e Bolsonaro o contradisse anunciando sua intenção em aprovar o que for possível ainda em 2018. O que é certo é que a burguesia já decidiu impor um combate contra a classe trabalhadora e neste momento a chapa de extrema direita eleita avalia a melhor forma e o alcance que conseguirá fazê-lo.

Neste contexto, as centrais sindicais (CUT, Força Sindical, CTB, CSB, CSP/Conlutas, Intersindical e Nova Central) que há alguns meses não fazem mais do que notas testemunhais publicadas em seus sites, fizeram uma primeira reunião convocada para debater “medidas de mobilização contra a reforma da previdência”. Como era de se esperar, depois de horas de discussão, a cúpula das centrais sindicais, que no ano passado traíram a greve geral abrindo caminho a que o governo moribundo de Temer conseguisse aprovar a reforma trabalhista e a lei de terceirização irrestrita, não apontaram nem uma única medida concreta de luta! Ao contrário, mesmo frente às declarações de Bolsonaro e ao avanço do autoritarismo, mostraram sua disposição em manter sua paralisia criminosa que durante os últimos anos veio permitindo o avanço do golpismo, que por sua vez pavimentou o caminho ao avanço da extrema direita.

O método burocrático da cúpula das centrais sindicais de decidir as ações em reuniões fechadas apenas a poucos dirigentes das centrais sem discutir minimamente com a base das categorias, através de assembleias ou reuniões de base que permitam aos trabalhadores decidir os rumos da luta e não somente aos dirigentes das centrais, está a serviço de permitir que estes últimos possam decidir tudo de cima pra baixo e ter as mãos livres para as negociatas entre quatro paredes com o governo e os patrões sem ter qualquer controle da base.

Na reunião, as centrais sindicais se limitaram a apontar uma campanha em defesa de “princípios” abstratos da previdência e um seminário no dia 12 de novembro (!!!), descoladas de qualquer medida efetiva de organização dos trabalhadores nos locais de trabalho; ao contrário, o que se viu foi um discurso que deixava escancarada a disposição de negociar com Bolsonaro uma “contraproposta de Reforma da Previdência”, repetindo de forma piorada e ainda mais criminosa o que já haviam feito no passado.

O conhecido burocrata da Força Sindical (que apoiou o golpe institucional e prontamente fez uma declaração reconhecendo a legitimidade da vitória de Bolsonaro), João Carlos Gonçalves, o Juruna; e um dos representantes da NCST foram os porta-vozes dessa política defendendo cinicamente que frente ao anúncio de Bolsonaro de atacar a aposentadoria, caberia aos trabalhadores debater uma contraproposta de reforma, anunciando de antemão aos patrões sua pronta disposição em vender o couro dos trabalhadores por meia dúzia de lentilhas sob pretexto de reduzir os danos.

A CUT, que no discurso busca se diferenciar da Força Sindical denunciando o golpe institucional e o autoritarismo de Bolsonaro, na ação prática mostrou seu papel complementar como outra ala da mesma burocracia sindical, que mantém uma paralisia criminosa, e em nome da unidade propôs como “princípios da previdência” defendidos unitariamente pelas centrais sindicais uma "previdência pública, universal e que acaba com os privilégios", uma abstração retórica para se recusar a dizer abertamente que os trabalhadores devem se organizar para lutar contra qualquer projeto de reforma da previdência.

Isso ficou evidente quando nem mesmo o eixo ultra rebaixado "contra esta nefasta reforma da previdência" (que deixa implícito que uma outra reforma seria aceitável) foi rejeitado na reunião pela NCST, para deixar as centrais com as mãos completamente livres para negociar pelas costas dos trabalhadores algum tipo de reforma e ataques aos trabalhadores. A CUT e CTB à sua maneira alimentam a passividade e o sentimento de impotência e desmoralização dos trabalhadores – que estão indignados com a situação pela qual o país – favorecendo a estratégia meramente eleitoral do PT.

Aqui cabe lembrar que nem mesmo o tão falado discurso de unidade das centrais corresponde à realidade já que a UGT sequer participou da reunião, assim como foi a central que durante a eleição não se posicionou contrariamente à Bolsonaro. Nas notas divulgadas em seu site a UGT não apenas diz reconhecer a legitimidade da eleição de Bolsonaro, mas já sinaliza estar disposta a dialogar com o novo governo e aceitar uma reforma da previdência, e dentre as propostas em discussão a UGT defende um regime único de previdência.

A cúpula das centrais sindicais se recusam a fazer qualquer crítica à posição adotada pela UGT e ainda enganam os trabalhadores dizendo que há uma unidade das centrais contra Bolsonaro para esconder que a cúpula da UGT já se desloca para a base do novo governo. Não à toa, figuras do Sindicato dos Rodoviários de SP (filiado à UGT) como Valdevan Noventa, que saiu como candidato a deputado federal pelo PSC em Sergipe, ajudaram a eleger em São Paulo figuras como Major Olímpio (PSL) para o Senado.

Diante das declarações de Bolsonaro as centrais sindicais concentrarem suas ações em elaborar uma proposta pela "positiva", por fora das bases, é uma clara manobra para abrir mão de organizar a luta real contra a reforma da previdência de Bolsonaro (abandonando até mesmo a palavra de ordem usada no ano passado de que "se botar para votar o brasil vai parar"). Esta política deixa centrais como a Força Sindical livre para negociar com seus parlamentares do Solidariedade apenas alguns pontos de alteração do projeto de reforma no congresso, enquanto CUT e CTB realizam a estratégia parlamentar petista para desgastar Bolsonaro e depois capitalizar eleitoralmente, ao custo de uma derrota imensa aos trabalhadores e suas aposentadorias.

Um verdadeiro escândalo que escancara o papel traidor da cúpula das centrais sindicais!!! Em um país com 24 milhões de trabalhadores no desemprego, subemprego e desalento, trabalhando em condições cada vez mais precárias com a aprovação da reforma trabalhista, da lei de terceirização irrestrita, avanço sobre o direito de organização política e sindical e o anúncio de uma reforma da previdência, privatizações e subordinação ainda maior do Brasil ao capital estrangeiro e americano em primeiro lugar, a reunião das centrais sindicais escancarou que, frente a uma democracia e um regime muito mais degradado e autoritário, a burocracia sindical busca ocupar o seu lugar como negociador dos ataques contra os trabalhadores.

Esta política criminosa das centrais sindicais desmoraliza os trabalhadores que nos locais de trabalho estão completamente descontentes com a situação do país e se sentem muitas vezes impotentes para poder vencer o seu oponente. Ao desmoralizar, dividir e controlar os trabalhadores cumprem um papel essencial à manutenção da dominação e exploração da classe dominante, para o avanço dos ataques do golpismo e agora da extrema direita.

Infelizmente a CSP-Conlutas, que participou da reunião com a presença de Luiz Carlos Prates (Mancha), mantém a mesma lógica adaptada à burocracia sindical se recusando a fazer qualquer delimitação e crítica a esta politica nefasta levada à frente pelas centrais sindicais em nome da chamada “unidade”. Em sua nota, intitulada “Centrais Sindicais reafirmam unidade e intensificam luta contra a Reforma da Previdência” a CSP-Conlutas diz que “Ações de enfrentamento contra a Reforma da Previdência e unidade em torno dessa pauta foram os encaminhamentos tirados em reunião das Centrais Sindicais” embelezando completamente a paralisia das centrais sindicais alimentando esta visão de “unidade”, compartilhando a mesma politica de responder à ameaça de reforma da previdência com um seminário (!!!) e sem fazer qualquer denúncia ao papel absurdo da UGT que não apenas é uma máfia sindical mas que demonstra sua disposição de ser base de apoio de Bolsonaro.

Frente ao avanço da extrema direita e o governo de Bolsonaro cobra um preço ainda maior que a CSP-Conlutas tenha adotado uma posição que se recusou a combater o golpe institucional encarando o impeachment de Dilma como o primeiro capítulo do “Fora Todos”. Frente ao avanço do autoritarismo do judiciário é terrível que a CSP-Conlutas tenha feito coro com o avanço do golpe institucional defendendo a prisão arbitrária de Lula sob o lema de “Prisão de Lula e de todos os corruptos”. Esta política impede a que os setores que se orientam por esta politica consigam explicar a origem do golpismo, de Bolsonaro e como combater a extrema direita e ter uma política que permita superar a paralisa da CUT, CTB e demais centrais sindicais.

O MRT junto aos companheiros que constroem conosco o Movimento Nossa Classe, a agrupação de mulheres Pão e Rosas e impulsionam o Esquerda Diário, viemos batalhando em cada local de trabalho onde estamos e no interior da CSP-Conlutas pela mais ampla frente única operária, construindo comitês de base representativos na sua base para atropelar os limites impostos pela burocracia encastelada nos sindicatos e organizar a luta contra Bolsonaro.

Fazemos isso dirigindo uma profunda exigência a que as centrais rompam com a passividade e a trégua ao governo e os patrões e organizem milhares de comitês de base, assembleias, reuniões nos locais de trabalho para construir uma paralisação nacional que prepare as condições de uma greve geral para derrotar a reforma da previdência, todos os ataques de Bolsonaro e do golpismo e impor um programa operário para que sejam os capitalistas paguem pela crise.

Um programa assim deveria partir de colocar como tarefa prioritária a derrota da reforma da previdência, a revogação da reforma trabalhista, da lei de terceirização e da PEC do teto dos gastos e avançar para colocar na ordem do dia o combate ao desemprego partindo da proibição das demissões, repartindo as horas de trabalho entre empregados e desempregados sem redução salarial, defendendo a igualdade de direitos e salários entre trabalhadores negros e brancos, homens e mulheres, a efetivação dos terceirizados sem necessidade de concurso público e a elevação do salário mínimo ao patamar exigido pelo DIEESE.

Este programa deveria levantar a luta contra a privatização dos Correios e que este seja 100% estatal e administrado pelos trabalhadores, por uma Petrobras 100% estatal sob administração dos petroleiros e a reestatização das empresas privatizadas, lutando pelo não pagamento da dívida pública, a estatização sob gestão dos trabalhadores e controle popular de todas as grandes empresas envolvidas em corrupção e que os sindicatos tomassem em suas mãos a defesa das demandas de todos os setores oprimidos colocando a classe operária à frente do combate ao machismo, racismo, homofobia e contra qualquer ataque à liberdade de organização politica e sindical que são a marca do governo de Bolsonaro.

Levamos esta batalha como parte de avançar para recuperar os sindicatos como ferramentas de luta da classe trabalhadora e de todos os setores oprimidos, defendendo a democracia operária e a independência política dos sindicatos frente ao Estado e na perspectiva de que a classe trabalhadora brasileira possa avançar na construção de um partido verdadeiramente revolucionário que possa enfrentar a extrema direita, os golpistas e supere o PT pela esquerda.




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