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UNICAMP / MUNDO OPERÁRIO | Carta sobre Terceirização e os rumos da educação

A partir da quebra de contrato da empresa Centro com a UNICAMP, as terceirizadas estão em aviso prévio para serem demitidas. No Instituto de Economia temos um importante coletivo de Educação Popular com essas terceirizadas, além dos debates que acontecem em torno do tema da precarização do trabalho, por isso estudantes independentes e da Juventude às Ruas se organizaram para debater e fazer um chamado a assembleia dia 15/10.

quarta-feira 14 de outubro de 2015 | 00:01

Foto: Greve das terceirizadas em 2013 na UNICAMP

Mais uma vez, nós estudantes nos vemos diante de ataques que atingem a classe trabalhadora e a educação pública, tanto na universidade quanto fora dela. A situação dos trabalhadores da universidade é de fundamental importância para nossa formação, como cidadãos ou profissionais, e reconhecer este fato é um primeiro passo para romper com o academicismo estéril que nos priva de empreender mudanças na realidade. Partindo desta perspectiva, somos surpreendidos com a situação dos trabalhadores e trabalhadoras terceirizados da universidade, que ocupam postos precarizados e não fazem parte do corpo de funcionários da “universidade de excelência”, recebendo, por isso, a condição de subalternidade: seus empregos são rotativos, seus benefícios são poucos, seus salários são reduzidos, as condições são de assédio e insalubridade.

Estes profissionais atuam cotidianamente num dos maiores pólos produtores de ciência do país – UNICAMP –, mas muitas vezes não sabem que se trata de uma universidade pública. Isso mostra um pouco do projeto de universidade que cria, cada vez mais, uma ciência que não consegue responder aos problemas concretos, e que na prática aprofunda o fosso entre a universidade e a sociedade, não servindo à classe trabalhadora, sobretudo no momento de crise em que vivemos.

Neste momento, ocorre na universidade a troca de empresas que prestam o serviço de limpeza. Em relação à terceirização, a proposta é de corte de cerca de 200 trabalhadores, (lembremos que a alta rotatividade dessa categoria fará com que, diante das novas regras para recebimento do seguro-desemprego, muitos trabalhadores passem a uma condição de total desproteção e falta de perspectivas). Nos colocamos contra a terceirização e em favor da efetivação sem concurso destes trabalhadores, e isso deve nos guiar na defesa dos trabalhadores e da nossa própria universidade. Ainda, diante das falsas afirmativas de falta de orçamento, lembramos dos pagamentos dos super salários, que burlam a própria lei.

Quando falamos de terceirização também falamos de divisão dentro do conjunto dos trabalhadores, o que fica mais evidente em momentos como o que estamos passando, em que a despeito dos trâmites burocráticos da universidade, as trabalhadoras estão sofrendo um grave ataque e não conseguem se organizar entre si ou com o restante dos trabalhadores efetivos da UNICAMP. Um aspecto-chave colocado por juristas que estudam a questão da terceirização é que ela escraviza, divide e humilha. Acreditamos que, neste e em outros momentos de ataque às terceirizadas, os estudantes podem criar uma rede de solidariedade muito forte com elas, sendo parte do processo de superação dessa condição de trabalho precário e sem proteções trabalhistas reais.

A posição que tomamos se coloca contra a passividade dos estudantes diante do atual projeto de universidade (universidade a que todos fazemos parte), pois entendemos que devemos ligar a produção acadêmica aos interesses da classe trabalhadora, levando o conhecimento aqui produzido para além das prateleiras de nossas bibliotecas.

Na mesma direção, nos guiamos contra os ataques à educação pública que o governo do Estado de São Paulo está promovendo com a reestruturação das escolas, num projeto que implica o fechamento de escolas e deslocamento de alunos (levando-os forçosamente a estudar longe de casa), demissão de professores, mais salas superlotadas. Em síntese, somos contra este projeto que aprofunda a precarização do ensino. A situação das escolas públicas do estado já são de longe conhecidas, também como são as condições dos professores, que neste ano empreenderam uma dura greve de quase 100 dias contra a intransigência do governo do estado. Os estudantes secundaristas já mostraram sua disposição e estão neste momento promovendo diversas marchas contra o fechamento de suas escolas, contra esse projeto que nega um futuro a estes jovens ao ceifar o melhor instrumento de conquista de sua autonomia e liberdade, a educação. A proposta na cidade de Campinas é de fechar a escola Eliseu, maior escola da cidade, localizada no Distrito Industrial de Campinas.

Os ataques na educação são justificados pela “política de ajuste” que PT, PMDB e PSDB querem passar. Há o consenso de que os direitos dos trabalhadores devem ser rifados, jogados fora junto com os direitos da juventude. Muitos dizem que este consenso neoliberal sobre os ajustes foi um giro à direita do segundo governo Dilma, mas esse giro, na verdade, corresponde ao movimento que empresários e banqueiros querem empreender frente à conjuntura econômica. O PT sempre foi defensor das políticas dos empresários e banqueiros, deixando migalhas à maioria da população. Por exemplo, se o projeto após 1990, capitaneado pelo PSDB, era precarizar as condições de trabalho, foi durante o governo do PT que a terceirização triplicou em tamanho, passando de 4 milhões em 2003 para 12 milhões no final do ano passado. Isso mostra que precisamos nos organizar independentemente dos governos e dos empresários para superar as condições atuais de crise.

Para isto chamamos todos os estudantes de economia a se solidarizar com as terceirizadas e debater estas e outras questões que são de total importância para a construção de ações coletivas que nos permitam transformar esse cenário de crise, para formar uma saída conjunta dos trabalhadores e estudantes. Convidamos todos estudantes para a assembleia que vai acontecer na próxima quinta-feira (15/10), pautando o ataque às terceirizadas e os ataques à educação e nos somamos ao coletivo EJA na costrução da mobilização dos estudantes para tirarmos proposições dessa assembleia para que as terceirizadas não estejam sozinhas.




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