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Nós, do Pão e Rosas Brasil, somos parte de um grupo internacional de mulheres presente em 11 países, que busca aliar a luta das mulheres com a luta da classe trabalhadora. Defendemos um feminismo socialista, que no Brasil se enfrente com Bolsonaro, Mourão e com todos os que foram parte do golpe institucional como o judiciário, o Congresso Nacional e os governadores, que levaram Temer à presidência para aprofundar reformas e ataques duríssimos ao conjunto dos trabalhadores e às mulheres trabalhadoras em especial.

Pão e Rosas@Pao_e_Rosas

segunda-feira 1º de março de 2021 | Edição do dia

Para enfrentar tamanhos ataques, acreditamos que nossa estratégia não pode ser a de esperar as eleições de 2022 para dar uma saída institucional, mas a de derrotar Bolsonaro, Mourão e os golpistas a partir da intervenção das massas trabalhadoras com a força imparável das mulheres, como as trabalhadoras da saúde que são a linha de frente do combate à pandemia.

Esse conteúdo é o que viemos apresentando em diversas reuniões regionais e em todas as reuniões de organização do ato nacional do 8 de março, que são dirigidas pelo grupo Marcha Mundial das Mulheres (PT) e também pelo PCdoB através de diversos sindicatos. Essas reuniões buscaram produzir um manifesto em comum, com o método do "consenso", um método que impede que as ideias e divergências sejam debatidas e que as posições sejam votadas de maneira democrática. Assim, a proposta apresentada, mesmo após os debates em que colocamos nossa visão, não continha nenhuma citação sobre o golpe e o enfrentamento à Mourão, ao judiciário, ou aos governadores, nem mesmo alguma perspectiva de organização das mulheres e dos trabalhadores para enfrentar os ataques, primando a estratégia do PT com saídas meramente institucionais e passivas nas entidades e sindicatos que dirigem.

É chamativo que a Marcha, que é dirigida pelo partido que foi alvo do impeachment de Dilma, que sabemos que foi um golpe para atacar a classe trabalhadora, se negue até mesmo a denunciar e colocar isso na convocação do 8M, o que mostra que sua estratégia não é a de enfrentar esse regime. Pelo contrário: defendem o impeachment de Bolsonaro, deixando Mourão e o regime do golpe intactos e acabam por fortalecer e apoiar setores como Rodrigo Pacheco, candidato de Bolsonaro no Senado.

Como acreditamos que ninguém pode ser obrigado a assinar algo que não concorde, depois de muitos debates, decidimos por não assinar o manifesto proposto, mas seguimos ativamente nas reuniões, expressando que somos parte da construção do 8M. Frente aos inúmeros ataques, milhares de mortes por Covid, precarização e carestia de vida, defendemos que nossa força se expressasse em atos de rua e mobilização real - única maneira de derrotar a extrema direita negacionista e o conjunto do regime, mesmo em que pese a pandemia. Proposta que também foi negada.

Para nós, a unidade é fundamental, buscamos essa construção sempre na luta, unificando a classe trabalhadora, com as mulheres, negros, com a juventude e LGBTs, os únicos que podem reunir forças para combater os ataques e reformas.

Porém, na última reunião nacional do dia 26, fomos surpreendidas pela proposta da Marcha Mundial de Mulheres de que nós fossemos vetadas do ato virtual nacional, porque não assinamos o tal manifesto, uma proposta que consideramos antidemocrática, já que busca vetar a voz de mulheres que vieram construindo e defendendo suas ideias nas reuniões na perspectiva de fortalecer a luta contra o machismo e o capitalismo. Fomos vetadas de um ato virtual que expressará distintas organizações, com suas diferentes visões, excluindo a nossa e de quem mais, mesmo construindo a luta das mulheres e da esquerda, não concordar com o manifesto. Nos surpreendemos ainda mais pelo fato dessa proposta ter sido aprovada “por consenso” apesar de nossa insistência para que fosse votado, mesmo após nossa companheira Letícia Parks, reconhecida militante do movimento negro, fazer uma intervenção contra a proposta de veto.

Além disso, nós ainda fomos retiradas sumariamente do grupo de WhatsApp da organização nacional do 8M, decisão essa que não foi tirada nem mesmo da reunião. Achamos um absurdo essa série de acontecimentos e fazemos um chamado às organizações de esquerda que são parte do PSOL, ao PSTU e outras organizações de esquerda que atuam no movimento de mulheres a rechaçarem esse método burocrático da direção da organização do ato nacional. Um método de cerceamento e censura que veta as correntes que não fazem parte do consenso que esconde as diferenças políticas.

Leia também: PSTU RN se posiciona contra o veto ao Pão e Rosas no 8 de março

A prática do cerceamento do debate de ideias não pode ser aceitável no movimento de mulheres, que é plural e que deve buscar justamente combater nosso silenciamento promovido pelo Estado capitalista e por governos como de Bolsonaro.

Não pode ser que diante de uma extrema direita que quer nos ver cada vez mais oprimidas e exploradas, que quer cercear a voz das mulheres, um grupo de mulheres socialistas e revolucionárias seja excluído e silenciado apenas por ter uma visão distinta. Isso impede que possamos avançar sobre a melhor estratégia para que as mulheres possam responder a dura realidade que nos coloca.

Acreditamos que quem busca a unidade contra o machismo não pode cometer tamanho silenciamento de um grupo de mulheres que sempre esteve presente nas lutas das mulheres terceirizadas, entregadoras, trabalhadoras da saúde e que hoje é parte das greves das professoras contra o retorno inseguro das escolas. Defendemos um 8 de março democrático, onde as diferenças no campo das lutadoras possam se apresentar, e reafirmamos nossos compromisso com a luta das mulheres internacionalmente e com o combate a Bolsonaro e o regime golpista em suas distintas alas.

Veja abaixo nossas intervenções na reunião nacional em que fomos vetadas:




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