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GUERRA COMERCIAL | Capital chinês cresce no Brasil: país como terreno da disputa na guerra comercial

Cresce a presença do capital chinês no país. Crescem também as contradições para seu avanço em terreno já conquistado pelo imperialismo americano e europeu.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quinta-feira 19 de julho de 2018 | Edição do dia

Foto: Beto Barata

A China já é a maior parceira comercial do país faz anos. Em 2017 foi destino de 21,8% das exportações e 18,2% das importações, segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior. O país tem desenvolvido novas tecnologias e exportado capitais. Onde não encontra proibições como nos EUA e na Europa tem conseguido avançar sobre capitais nativos. O Brasil é um dos grandes destinos de seus capitais. É o quarto país com maior estoque de investimentos chineses, só atrás de EUA, Austrália e Reino Unido, segundo o “think tank” imperialista americano AEI.

Uma imensa contradição está colocada no caminho da China para avançar, além das dificuldades de sua transformação interna que não trataremos aqui, o mundo já está dividido entre as potências. Seu avanço terá que se fazer sobre outras potências. A guerra comercial com os EUA é só um primeiro sinal de alerta que coloca vários países, e particularmente o Brasil, como terreno de disputa. O dilema de Tucidides, elaborado a 2500 anos se recoloca: não há avanço de potência sem enfrentar-se com outras.

Desenvolve-se uma tendência à guerra comercial. Os tempos de “globalização” e supostamente harmônico desenvolvimento do comércio mundial foram para o lixo. O “America First” de Trump é seguido de medidas retaliatórias da China e novos passos da União Europeia, em acordo de livre comércio com o Japão e multibilionária multa à ianque Google.

O capital chinês, muitas vezes escondido como capital “luxemburguês” ou de outros países como mostrou estudo do Banco Central, está avançando no Brasil. Segundo o “Broadcast/Estadão” é provável que em poucos anos a China ultrapasse os EUA e toda União Europeia em “estoque” de capital investido no país. Mas há dois grandes empecilhos para a China no Brasil, ela não foi autorizada a entrar no setor financeiro brasileiro e há um limite de quanto ela pode avançar no país sem aumentar tensões com imperialismos europeus e ianques.

Segundo a AEI (para dados completos ver este link:), o estoque investido aqui alcança US$ 64,49 bilhões, quase todos concentrados no setor de energia (petróleo, geração e distribuição de energia elétrica) que concentra 45 bilhões do total. O avanço destes investimentos aconteceu na década lulista e depois com Temer, concentrando 75% do total investido neste período.

Um investimento que nada tem de produtivo, como lamentam-se funcionários de Temer em matéria do Estadão. Deste total 89% do capital é usado só em aquisição de empresas e quase nada, 11% em investimentos propriamente ditos.

Recentemente a estatal State Grid comprou a CPFL, a China Three Gorges comprou hidrelétricas e a petroleira CNOOC avança sob vários campos do pré-sal.

A contradição posta para a China é que além de ter seu avanço no lucrativo negócio bancário e da dívida brasileira barrada (está excluída do mecanismo dos “dealers” imperialistas e nacionais por onde passa todo o negócio) terá que avançar sobre capitais imperialistas para avançar no Brasil.

Das 50 maiores empresas de capital aberto, não-financeiras e não-estatais no país nenhuma é chinesa. Dentre estas gigantes no país, somente 20 tem “brasileiros” como maior acionistas (mesmo que morem em Zurique como Lehmann). Destas 20 “brasileiras”, 2 pertencem aos magnatas Sucupira, Telles e Lehmann da AbInvev, uma delas é Vale que consta ter ao menos 46% de capital estrangeiro e dentro do seu bloco controlador “brasileiro” consta o banco japonês Mitsui; duas outras empresas “brasileiras” pertencem ao grupo Ultra que por sua vez é quase 50% controlado por fundos de investimento anglo-saxões como o gigante BlackRock. Gigantes como a Embraer e Braskem já foram abocanhados pela americana Boeing e a holandesa Lyondell.

Para avançar no Brasil não há um caminho fácil para o capital chinês. Terá que passar por cima de outros capitais, e não sem resistência de suas empresas e Estados nacionais. E desta maneira as contradições colocadas no plano internacional prometem se colocar também como contradições no terreno brasileiro. A crescente tendência à guerra comercial pode ter um relevante capítulo brasileiro com diversas implicações na política.

No campo a contradição já está instalada. As sementes transgênicas são americanas e europeias, os agrotóxicos também, a maquinaria e a logística americana, europeia e brasileira, mas os compradores são sobretudo chineses. Os interesses comerciais contraditórios no plano internacional e a crescente penetração do capital chinês e seu conflito com capital americanos e europeus pode ser um novo fator para a profunda e duradoura “crise orgânica” brasileira.

Também pode te interessar uma análise sobre as contradições no campo, no agronegócio e na política brasileira em meio à guerra comercial: -O agronegócio na economia e política brasileira em meio à guerra comercial EUA-China -O agronegócio na economia e política brasileira em meio à guerra comercial EUA-China (Parte II)




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