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sexta-feira 24 de julho de 2015 | 08:48

Os sindicatos de trabalhadores dos Correios são atualmente divididos em duas federações – FENTECT e FINDECT – sendo a primeira a federação tradicional onde estão organizados a maioria dos sindicatos, atualmente dirigida majoritariamente pelo PT/CUT, e a segunda uma divisão feita pelos sindicalistas do PCdoB/CTB. Ambas já protocolaram suas respectivas pautas de reivindicações, que são parecidas no conteúdo, dando início a campanha salarial 2015.

Nos dois casos, a pauta foi construída em congresso e contem reivindicações históricas da categoria. No entanto, toda a discussão teve pouca participação ativa dos trabalhadores, um reflexo de um sindicalismo por um lado burocrático, por outro lado rotineiro, onde sempre os mesmos participam e os debates são sempre restritos a direção sindical e assembleias de vanguarda. A maior expressão da falta de democracia operária é que a pauta foi protocolada antes mesmo de ser aprovada nas assembleias de base, e antes ainda dos trabalhadores terem oportunidade de eleger seus representantes no comando que negociará com a empresa. No caso da FENTECT, essa lógica de aprovar nas bases e eleger o comando estava determinada pelo calendário do congresso, mas já não se concretizou na prática.

O correto teria sido, em primeiro lugar, que o congresso tivesse sido discutido com antecedência em todas as unidades, e os trabalhadores tivessem elegido delegados em base um programa para vencer, com uma discussão viva sobre o momento político e econômico do país, e sobre a realidade de ataques e privatização da ECT. Em seguida, que a direção da federação expressasse a politização dos trabalhadores, a insatisfação com o governo e com a direção da empresa, e o que vemos é obviamente o contrário, foram eleitos os mesmos burocratas de sempre, um retrocesso, já que na gestão passada os principais cargos ficaram com representantes da esquerda.

Em seguida, as assembleias de base deveriam avaliar a pauta proposta, e eleger representantes que expressassem a vontade da maioria sobre como conduzir a negociação, representantes que devem sempre estar ligados ao que se decide em assembleia, e que possam ser revogados se a base assim deseja.

Porém, esse tipo de democracia real na base não interessa aos burocratas que tem servido nos últimos anos apenas para negociar pelas costas dos trabalhadores, controlar e trair as greves, e dividir a categoria. A CUT e a CTB hoje são braços sindicais do governo petista que está sendo profundamente questionado pelos trabalhadores, não lhes interessa dar vazão aos questionamentos, e nem colocar em cheque a direção da empresa e o governo. Por isso cabe a oposição, em especial CSP-Conlutas e Intersindical, que são direção em importantes sindicatos e hoje também compõe a direção da FENTECT, ainda que como minoria, dar exemplos de organização pela base, combatendo cada passo da burocracia. Se não fizerem isso, estarão se adaptando a lógica da burocracia.

Por outro lado, este ano foi proposto que as duas federações negociem juntas. As pautas não são muito diferentes, e a categoria é uma só. Isso deve ser uma oportunidade para se fazer uma mobilização unificada nacionalmente, depois de alguns anos de divisão. As primeiras mesas de negociação já ocorreram – a primeira tratando da Reestruturação da empresa, a segunda principalmente sobre PLR e abertura de concurso. Mas o mais importante não é a unidade dos burocratas, o importante é a unidade dos trabalhadores na luta.

O país atravessa um momento de crise, com cortes nos direitos trabalhistas, aumentos de taxas de serviços e uma inflação que deve chegar a 9%. Tudo isso indica que os trabalhadores dos Correios terão batalhas importantes na campanha salarial deste ano. Desde o PL4330 da terceirização, passando pelas MPs 664 e 665 que retiram direitos elementares, como a pensão por morte e o seguro desemprego, e agora com a MP680, que pretende reduzir a jornada de trabalho e o salário por meio do PPE, os ataques não param.

Todos esses golpes direcionados aos trabalhadores tem sido implementados pelo governo do PT de Dilma Roussef, que foi eleita dizendo que isso seria aplicado por Aécio Neves do PSDB. Mas se tem algo que os partidos da ordem (PT, PSDB, PMDB, e outros) possuem em comum é que o ajuste será executado contra os trabalhadores e não contra os patrões.

Por isso as trabalhadoras e trabalhadores dos Correios terão que estar muito bem organizados para travar uma verdadeira guerra este ano. Não apenas contra a empresa que não respeita os direitos dos ecetistas, como ficou claro quando direciona seus lucros para as Olímpiadas, mas também contra os burocratas governistas que estão dirigindo as duas federações. Os trabalhadores que protagonizaram as últimas lutas e puderam tirar algumas lições, e em especial os sindicatos que constroem as centrais sindicais antigovernistas, como CSP-Conlutas e Intersindical, precisam se organizar para ter um plano comum de intervenção, principalmente com os trabalhadores da base de São Paulo - que nas últimas campanhas foi isolada pela direção do sindicato do restante do país, tendo inclusive suas votações distorcidas - para que esta campanha salarial seja massiva, controlada pela base, e que se enfrente diretamente com os ataques da empresa e do governo, e se direcionem aos trabalhadores de outras categorias, como bancários e petroleiros, para uma ação unificada, que possa servir de base a uma terceira via frente ao cenário político nacional, ou seja, uma alternativa para os trabalhadores se enfrentarem com os ataques do governo sem cair nos discursos da oposição de direita, mas construindo ferramentas próprias confiando em suas forças.




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