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GOVERNO TEMER | Cai o segundo ministro de Temer: quem se fortalece?

Hoje novo ministro foi colocado na fritadeira e após resistência de Temer, sob pressão do “partido judiciário” e do “partido da mídia”, caiu. O que estes eventos apontam de contradições do governo Temer e qual política está sendo levada pelo “partido judiciário” e pelo “partido da mídia”?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

segunda-feira 30 de maio de 2016 | Edição do dia

Áudios vazados “oportunamente” depois do golpe na Câmara e Senado

O ex-tucano Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, subsidiária de logística da Petrobras entrou em um acordo de delação premiada com a Justiça. O acordo foi aprovado por Teori Zavacki, relator da Lava Jato no STF, ministro que os caciques do PMDB se queixam por ser “inacessível” segundo alguns áudios revelados. Para selar este acordo de delação Machado virou um gravador ambulante nos dias anteriores à votação do impeachment na Câmara.

A justiça e a mídia, diferente do que haviam feito com os áudios de Dilma e Lula, sentaram-se em cima de seus “áudios-bomba” contra o PMDB, esperando a votação e primeiros dias de Temer. Se estes áudios tivessem vindo à tona quando foram coletados dificilmente o impeachment teria sido aprovado, ou ao menos teria encontrado maior desgaste que já encontrou.

Ontem à noite, em horário nobre na TV foram divulgados áudios onde o ministro da Transparência, Fiscalização e Controle deixava claro e límpido como ele também pretendia o fim das investigações e como pessoalmente aconselhou Renan Calheiros e o apadrinhado de seu padrinho político, Sérgio Machado a como se portar frente ao Ministério Público e à justiça. Quando foram gravados estes áudios, Silveira era membro da Comissão Nacional de Justiça, órgão de corregedoria sobre os distintos ramos do judiciário. Ele tinha este cargo sob indicação de Renan Calheiros, sendo antes disso funcionário de carreira do Senado, presidido por Renan atualmente e diversas vezes nas últimas décadas (outro eterno presidente do Senado é o também gravado ex-presidente da República José Sarney). Na democracia do suborno brasileira, retornava-lhes o favor.

Este evidente desvio de funcionalidade à serviço da corrupção, pressionando os órgãos que ele deveria “corrigir” a não “corrigirem” seus padrinhos e co-apadrinhados seguiu mais algumas horas à frente do ministério que teria como missão mostrar transparência no combate à corrupção.

Não se sabe quanto dos áudios de Machado já foram divulgados, e quais ainda existiriam. A mídia e o judiciário os divulgam conforme seus interesses. Porém, o livre-trânsito de Machado com toda cúpula do PMDB, possivelmente com o próprio Temer, deve deixar luzes amarelas acessadas em muitos gabinetes, inclusive no Palácio do Planalto.

Temer perdeu o cabo de guerra no caso Silveira

Diferentemente do caso de Jucá, quando Temer prontamente o removeu, desta vez Temer pagou para ver, pelo menos por algumas horas. Parte dos membros de seu governo foram à mídia declarar que não poderia demitir assim, tão logo aumentasse a pressão pois daria um sinal ruim de um governo facilmente pressionável. Temer pagou para ver e mostrar-se forte. Sem sucesso, porque sua resposta encontrou uma resistência pré-montada e pronta para escalar medidas. Armaram-lhe uma arapuca.

Até domingo parecia que todos “furos” de áudios contra o PMDB viriam da mídia que era menos pró-impeachment, e mais favorável a novas eleições, a Folha de São Paulo. No entanto, a TV Globo levou ao ar o áudio do “ministro da Transparência”. Durante esta segunda-feira a mesma Globo, através do expediente incomum de editar um novo editorial durante o dia, exigiu a queda do ministro. Repetiu a inovação que tinham feito no caso Jucá. Horas depois, com Temer dando sinais que pagaria para ver, ONGs internacionais de “transparência” replicavam a exigência, e para agravar, os chefes dos ministérios em ao menos dez estados entregaram seus cargos. Algumas fontes da grande mídia falaram em 250 pedidos de demissão.

Mais que um cabo de guerra pareceu que Temer caiu em uma arapuca. Resistiu e o atacante mostrou forças ocultas muito maiores que o previsto. O partido da mídia e o partido do judiciário prepararam o terreno. Temer teria que segurar um ministro que poderia ter áudios muito mais comprometedores e assumir ainda mais a pecha de governo golpista e corrupto, com todos funcionários de “combate à corrupção” pedindo demissão. O partido da mídia e o do judiciário emplacaram mais um gol contra o governo que eles mesmo ajudaram a erguer.

O jogos da mídia e do judiciário

Esta movimentação de um ministério ligado ao “partido judiciário” e toda arapuca armada contra Temer, mostra como há interesses se articulando para além do golpe imediato que foi a deposição de Dilma. Por meses o judiciário e seus parceiros da mídia capturaram informações de forma autoritária e discricionária os usaram conforme quiserem. Se ainda faltava alguma prova a alguém esta é mais uma evidência como não será das mãos de Moro, do STF, e da mídia que haverá nenhum combate à corrupção. Esta tarefa estas nas mãos de uma esquerda que não bata palmas à Lava Jato, como faz quase toda ela, com destaque a Luciana Genro e sua corrente no PSOL e ao PSTU, que vem nestas quedas com juízes, corregedores, e com a Globo à frente como um fortalecimento de sua política de “eleições gerais” e não um fortalecimento de um braço autoritário do Estado, que se voltará cedo ou tarde contra os trabalhadores.

O judiciário e a mídia trabalharam todos estes meses para limpar o golpe institucional, para lhe oferecer uma cara de constitucionalidade e imparcialidade, fizeram isto à revelia da verdade e informação, e agora podem estar dando mostras de ensaiar uma outra política, de enfraquecer Temer para preparar uma melhor transição a um governo tucano, seja por vias normais (2018) ou de eleições antecipadas via cassação no TSE. De um modo ou outro, o judiciário e a mídia trabalharam e trabalham com um golpismo à serviço de um governo mais forte para executar os ajustes que desejam, e substituir um esquema de corrupção por outro.

Embarcando nas eleições gerais e na “lava jato até o final”?

Não há ainda alas relevantes da elite nativa que defendam abertamente as eleições antecipadas. O imperialismo americano e alemão depois de semanas de silêncio reconheceram o governo Temer, e esta semana mesmo uma importante funcionária do Departamento de Estado americano virá ao Brasil. Não se encontrará com Temer, mas com Serra. Há avanços do golpismo em Washington, mas para qual política: estabilizar Temer, ou substituí-lo por um governo eleito (tucano)?

Gilmar Mendes deu mostras que pretende garantir a impunidade de todos importantes políticos que sejam atingidos nos áudios, impedindo as investigações sobre Aécio pela segunda vez e já declarando que não viu crime de Jucá. Esta atitude do arqui-golpista ministro do STF lhe rendeu críticas em editorial de domingo da Folha de São Paulo. Haveria uma divisão no Supremo e no partido judiciário, estaria Gilmar Mendes trabalhando por um “estancamento” da Lava Jato, enquanto Teori tem ajudado a vazar estes áudios diários?

Os áudios desta semana, diferente de todos anteriores que estavam sob cuidados de Moro agora são de uma delação que está nas mãos do ministro do Supremo, o vazamento deve partir daí, ou no mínimo não está encontrando nenhuma crítica deste. Estaria uma ala do Supremo e a mídia tentando disciplinar Gilmar Mendes por uma solução que leve a novas eleições e até mesmo a alguma punição a Aécio, como boi de piranha para mostrar um judiciário que pune tucanos (desde que não sejam os paulistas, é claro), seria a prisão de ex-presidente do PSDB mineiro hoje mesmo uma mostra desta nova política do “partido judiciário”?

Tal como argumentaram diversas mídias imperialistas depois do golpe, talvez o melhor para as elites seria um governo respaldado pelo sufrágio, melhor não descartar esta alternativa, mas antes de decidir pela mesma, vale seguir a pressão por ajustes, e porque não aproveitar o ensejo para atacar algumas figuras do PMDB que sempre agradaram os interesses imperialistas e da elite nativa, mas que eram poderosos demais e cobravam “pedágios” legais e ilegais pelos seus favores. Trata-se de “disciplinamento de Temer” ou um caminho a uma “mãos limpas” à la Brasília, que diferentemente da Itália onde acabou com os dois principais partidos do regime (e não prendeu quase ninguém) aqui além de deixar sem punição os corruptos deixaria intacta a ala mais pró-imperialista do regime, o tucanato paulista?

Ainda não é possível determinar qual jogo estão jogando estes jogadores ocultos da política nacional quanto de um “disciplinamento” e quanto de “ir por mais”. Mas algo é certo, o que menos lhe importa é o combate à corrupção e enquanto colocam ovos em todos cestos, o que seguirão batalhando é por ajustes e ataques aos direitos da classe trabalhadora e fortalecer a substituição de um esquema de corrupção por outros, desta vez mais ligados aos interesses americanos como fartamente documentado em denúncias do Wikileaks envolvendo Serra, Moro e vários outros agentes do golpismo.




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