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GREVE DOS PROFESSORES DE SP | Cadê a nossa educação? Resposta ao editorial do Estadão.

quarta-feira 29 de abril de 2015 | 00:01

Nesse ultimo domingo, o editorial do Estadão comentou a greve dos professores, contudo esteve longe de serem elogios. A chamada do editorial é “A baderna da APEOSP”, visando claramente criminalizar o movimento de greve e jogar a população contra os professores do Estado. O editorial tenta traçar um quadro de um movimento medieval: diz que é um movimento prejudicial à formação das crianças e jovens do ensino publico; um movimento violento; que faz culto a baderna; que não tem nada a reclamar, pois "os salários dos professores estão valorizados de acordo com o piso nacional"; e dizem que o bônus desse ano é o maior da história e que a pauta de valorização salarial de 75,33% é "irreal". Para o Estadão, não há motivos para esta greve.

A clareza com que o dito jornal defende o governo do Estado e demais medidas que estejam contra os trabalhadores se salta aos olhos. Isso explica o motivo de toda blindagem midiática que os grandes veículos de informação fazem. Exemplos como a marcha de 32 pessoas pelo Impeachment rendeu diversas notícias a estes veículos de informação, que o saldou como “movimento democrático”, em contraste a greve dos professores, que reúne toda sexta-feira, nestes últimos 45 dias, 60 mil pessoas, e isto não é nem digno de nota de rodapé. Não foi digno de nota, na “Pátria Educadora” do PT, a crise que as universidades federais devido aos cortes de 30% do orçamento - passo que impactou em não pagamento de salários dos trabalhadores terceirizados. Muito menos repudio ao Projeto de Lei 4330, que autoriza a terceirização total, ou Medida Provisória 664, do governo Dilma, que aumenta o tempo de 6 meses para 18 meses para se ter o direito ao seguro desemprego. Também não é nota de pesar o falecimento do jovem professor em greve Paulo Daniel de Souza Ferreira, de 29 anos.

O editorial demonstra seu desrespeito à carreira docente e à educação pública, lembrando-se da “agressão” por parte dos professores contra o Mário Covas, em 2000. Para aqueles que não se lembram, Mário Covas, junto à secretária Rose Neubauer, foram as mesmas pessoas que sobre as palavras de “maior eficiência”, “diminuição de gastos” e “reorganização da educação básica” criaram o SARESP, fecharam 7500 classes de aula, desativaram 120 escolas e deixou de construir 1400 novas salas de aula. O Estadão talvez não se lembre como foi agressivo para os professores do Estado ter de se deslocar mais pela “reorganização do ensino” sem receber auxílio transporte, e nem os alunos, em salas superlotadas, já em 1996. Quem prejudica a educação, afinal? Quem são aqueles comprometidos com ensino de qualidade?

Para aqueles que assistem a educação publica, em 2015, todos os dias veem como o não reajuste salarial começa a pesar no bolso com aumento da inflação, e pesa ainda mais com a situação na qual se encontram as classes após o fechamento de 3900 salas, a piora considerável das condições de trabalho com o numero elevado de alunos em sala, impossibilitando qualquer ensino de qualidade. A jogada textual de rotular o movimento grevista como uma correia de transmissão da CUT e do PT, serve apenas para desmerecer todos os professores que hoje mobilizam pela base da categoria e por fora do sindicato e tentar transformar a greve em apenas uma briga partidária.

A política salarial, comentada no texto, parece que existe somente nas folhas deste jornal. É equivocado insinuar que a política de valorização salarial via bônus é justa, medido pelo SARESP, como é, igualmente, difícil achar alguém que ganhou alguma quantia significativa pelo bônus, que neste ano está na cifra histórica de 1 bilhão de reais. Se havia 1 bilhão de reais em caixa, por que ele não foi incorporado ao salário de toda a categoria? Isso não poderia ser uma política salarial mais justa para a categoria?
Veja como funciona o pagamento dos salários dos professores:

O editorial vem para defender a história do PSDB no Estado e, por fim, jogar a culpa do caos da educação pública em cima das costas dos professores, enquanto o governador nega os fatos da realidade. O governador também omite que a prioridade do governo está longe de ser a educação. De 2014 para 2015, o governo aumentou o orçamento da educação em apenas 5,15%, ficando abaixo da inflação do período de 6,56%, enquanto a Secretaria da Segurança Pública teve um aumento de 14,80%. Os dados somente reforçam que a prioridade do governo não é educação.

Com o avanço da crise econômica, o aumento de greves e atos de rua, a polícia serve apenas como o grande braço armado do Estado. Não nos esqueçamos dos números alarmantes de assassinatos da Policia Militar, que é responsável por cada 2 de cada 13 assassinatos no Estado, e do aumento de 97% de 2013 para 2014 de mortos em confrontos com a polícia. A mando do governador, com esta mesma polícia, fechou o vão do MASP para a assembleia dos professores. Se tivéssemos uma educação melhor, não teríamos menos crimes e menos prisões? Será que se tivéssemos melhores escolas, estaríamos discutindo a redução da maioridade penal? Qual é nossa prioridade? Crianças em escolas ou em cadeias?

A greve dos professores trouxe consigo uma nova gama de jovens ativistas que vêm demonstrando exemplos de organização pela base, rompendo com o rotineirismo, por fora da burocracia da CUT, dando exemplos de unificações com as lutas nacionais contra a PL4330 e contra a redução da maioridade penal. Ao mesmo tempo do esforço heroico dos professores para colocar comida na mesa de suas famílias e por isso da greve o governador do Estado corta o ponto deles, mesmo contra o STF (http://www.esquerdadiario.com.br/spip.php?page=movil-nota&id_article=514).




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