×

DEPOIS DO 14J, SILÊNCIO DAS CENTRAIS | CUT e CTB: Onde está o plano de luta para derrubar a reforma da previdência?

Após o 14J, as centrais sindicais voltaram à visão cômoda de "trabalho feito": soltam fogos de artifício a si mesmos enquanto a tramitação da reforma da previdência ganha novo fôlego com o apoio de seus próprios partidos, e cuidadosamente deixando de lado qualquer discussão sobre a questão candente: e agora?

Flavia ValleProfessora, Minas Gerais

Marcello Pablito Trabalhador da USP e membro da Secretaria de Negras, Negros e Combate ao Racismo do Sintusp.

terça-feira 18 de junho de 2019 | Edição do dia

Após o 14J, as centrais sindicais voltaram à visão cômoda de "trabalho feito": soltam fogos de artifício a si mesmos enquanto a tramitação da reforma da previdência ganha novo fôlego com o apoio de seus próprios partidos, e cuidadosamente deixando de lado qualquer discussão sobre a questão candente: e agora?

A expressão de repúdio à reforma da previdência que emergiu na jornada de paralisação nacional viu contra si dois obstáculos "internos": o primeiro, a traição das centrais, em primeiro lugar da UGT (que freou a entrada em cena dos rodoviários em várias capitais do país) e da Força Sindical, durante o 14J, que poderia ter sido muito mais expressivo não fosse a linha das centrais de que os trabalhadores e jovens "ficassem em casa", mesmo com o escândalo dos vazamentos de conversas entre Moro e Dallagnol que escancararam a política golpista e pró-imperialista da Lava Jato; em segundo lugar, a aceitação por parte do PT e do PCdoB (além do PDT) do novo relatório da reforma da previdência apresentado pela comissão especial da Câmara, o que mostra que estes partidos não tinham qualquer interesse real em derrubar a reforma.

Enquanto enganam trabalhadores e jovens com discursos de oposição à reforma da previdência, o PT e o PCdoB negociaram todos estes últimos meses as modificações para que aceitassem a implementação da reforma em seus Estados. Adotando parte da narrativa do governo bolsonarista, de que seria possível "uma reforma para acabar com os privilégios", passaram de anunciar propostas alternativas à reforma para, no final, acatar a proposta que o Executivo discute com o Legislativo e que representa a destruição das aposentadorias para milhões de trabalhadores. Os governadores do PT e do PCdoB negociam agora com Maia a inclusão dos seus Estados na reforma federal. Uma vergonha. Nem é preciso mencionar o PDT de Ciro Gomes, que tem na figura da deputada Tábata Amaral uma fervorosa defensora da reforma da previdência, tem que debate a portas abertas com ninguém menos que Rodrigo Maia e Paulo Guedes.

A proposta apresentada pelo relator Samuel Moreira (PSDB-SP) atende a proposta dos governadores do nordeste, ou seja do PT e PCdoB, e estes governadores apoiaram publicamente o imenso ataque à previdência. Com as alterações a fortuna que será desviada das aposentadorias para entregar aos donos da dívida passaria dos R$ 1,2 trilhão planejados por Guedes e Bolsonaro pela ainda gigantesca soma de R$850 bilhões, segundo algumas estimativas.

O ataque é enorme e representa, assim como a proposta da reforma da previdência de Bolsonaro, a destruição da aposentadoria de milhões de trabalhadores. Nessa proposta, permanecem como antes o Benefício de Prestação Continuada (BPC), a aposentadoria rural (permanece vinculada à Constituição qualquer mudança na previdência) e elimina-se provisoriamente o debate sobre a capitalização.

Entretanto, está garantido o ataque com a idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 anos está mantida, núcleo da reforma, e a exigência de 40 anos de contribuição para atingir a aposentadoria integral. A regra que impõe um confisco ao valor das aposentadorias está integralmente mantida. A regra atual garante aposentadoria no valor da média das 80% maiores contribuições, ou seja, descarta 20% de menores valores, pela nova regra impõem-se a média simples e de todas contribuições.

Como se pode considerar uma "vitória da pressão sindical" uma tal aberração? A reforma da previdência, nessa e nas versões "desidratadas" de Paulinho da Força, da deputada Tábata Amaral do PDT, e dos governadores do PT, é brutal contra os direitos da classe trabalhadora. A única coisa que essa conduta de "cantar vitória" demonstra é que as centrais sindicais seguem negociando com o Centrão e com Rodrigo Maia o nosso futuro pelas nossas costas. O senador Paulo Paim (PT-RS) chegou ao absurdo de avaliar positivamente esse novo relatório da reforma da Previdência.

Nosso objetivo não é conseguir uma reforma "alternativa". É absolutamente vergonhoso o apoio dos governadores do PT e do PCdoB à proposta de reforma da previdência federal - para que seja aplicada nos Estados que governam - junto a todos os outros governadores da direita nacional. PT e PCdoB (além do PDT) assumem para si parte essencial dos ajustes neoliberais do governo Bolsonaro. O PSOL, principal partido à esquerda do PT, deveria como mínimo romper com o bloco parlamentar que tem com o PT e denunciar essa política.

Não admira que num dia importante como o 14J as centrais ligadas a esses partidos tenham chamado os trabalhadores a "ficar em casa": trata-se da melhor receita para não incomodar o acordo em que chegaram com o Congresso pela proposta "alterada" da reforma da previdência.

Basta! É urgente um plano de luta organizado pela base que trace o caminho das batalhas até derrubarmos a reforma da previdência, justamente um plano com o qual não estão preocupadas as centrais!

Diante desse quadro, em que avança a reforma de Maia e do Centrão, qual o motivo do silêncio das centrais? CUT e CTB vão continuar calados? Precisam apresentar um plano de luta que continue a organização pela derrubada da reforma! A CSP-Conlutas, dirigida pelo PSTU, não fala uma vírgula crítica à conduta traidora das centrais no 14J, ao invés disso se dedica a louvar acriticamente a "unidade de aparato" das burocracias sindicais - que levou à divisão por baixo dos trabalhadores, com a exclusão dos rodoviários da greve - e considera, como faz em seu artigo público, que a saída agora é um abaixo-assinado contra a reforma para Rodrigo Maia...Isso não é mais que cobrir pela esquerda a traição da UGT, Força Sindical, com a cumplicidade da CUT e da CTB. Isso não levará a avançarmos a unidade dos trabalhadores por objetivos claros na luta de classes, e sim apenas fortalecer as burocracias que nos impedem. A CSP-Conlutas deve usar seu aparato para exigir um plano prático de ação pela derrubada da reforma.

Não podemos separar a luta econômica da batalha política. Contra os ajustes neoliberais do governo e os cortes à educação, precisamos levantar um programa para que os capitalistas paguem pela crise. O governo quer uma nova "geração perdida", esmagada pelo desemprego e a precarização do trabalho (como nos serviços de aplicativo Rappi, iFood, etc.). Contra a reforma da previdência, exigimos o não pagamento da fraudulenta dívida pública, a redução da jornada de trabalho sem redução salarial para atacar o flagelo do desemprego e da precarização na juventude.

Defendemos a liberdade imediata de Lula, sem qualquer apoio político ao PT, que abriu caminho ao golpe institucional com sua estratégia de conciliação de classes.

Diante da crise aberta com a Lava Jato pró-imperialista, é preciso dizer: contra essa democracia manipulada por juízes politicamente interessados, exigimos que os juízes sejam eleitos pelo povo, revogáveis a qualquer momento e recebam o mesmo salário de uma professora, abolindo suas verbas auxiliares. Para acabar com a farra de empresários e políticos corruptos, que atinge todos os partidos dominantes, todos os julgamentos por corrupção devem ser realizados por júris populares, abolindo os tribunais superiores.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias