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MOVIMENTO ESTUDANTIL E DOS PROFESSORES | CHILE: 200.000 pessoas estremecem as ruas de Santiago

Milhares de pessoas se mobilizaram contra as reformas educacionais que o governo propõe, tanto em Santiago como em diversas regiões do país. Os professores tomaram a dianteira, expressando firmemente que a atual Carreira Profissional Docente não os representa e que as manifestações continuarão, enquanto que os estudantes ombro a ombro marcharam pela educação gratuita e contra a repressão policial. O governo seguirá se fazendo de surdo às demandas impostas nas ruas?

sábado 13 de junho de 2015 | 00:00

Ainda que o governo junto à imprensa tradicional tenham lançado toda uma campanha anti-movimento estudantil depois da marcha de 28 de maio, acusando de “violentos” e “vândalos” os estudantes, e apesar que as autoridades tenham mudado o trajeto da marcha e tenham impedido a mobilização pela Alameda [principal via da capital chilena – nota do tradutor]; foram ao redor de 200.000 as pessoas que protestaram pelas ruas de Santiago, em uma das maiores marchas deste 2015.

A marcha nacional pela educação começou perto das 11h30 e teve uma mudança de trajeto, porque as autoridades em acordo com as direções da Confech decidiram que a mobilização começaria em frente à Usach (Universidade de Santiago do Chile), passando por uma parte da Alameda até chegar à Avenida Espanha, rua por onde transitou o grosso da manifestação, que finalmente chegou até Blanco Encalada onde realizou-se um ato por volta das 14h.

A potente presença de professores passando pelas ruas

Enquanto o governo junto às direções do Colégio de Professores buscam uma maneira de chegar a um acordo sobre a Carreira Profissional Docente, motivo pelo qual o Ministro de Educação disse que “podem haver modificações sobre trechos e certificações” no projeto, e Gajardo por sua vez busca apoio de parlamentares; milhares de professores saíram novamente a marchar em rechaço à atual proposta do governo, pois têm mais que claro que só a mobilização nacional poderá impor as demandas e exigências dos professores de base.

Neste sentido, a presença de professores foi impactante, tanto em termos de quantidade como também em diversidade de estabelecimentos educacionais, coordenadoras, municípios e organizações de docentes. Na mobilização realizada em Santiago fizeram-se presentes colégios e liceus como Liceu 7 de Santiago, Liceu 7 de Providência, Liceu Aplicação, Instituto Nacional, Colégio El Líbano, Colégio León Humberto Valenzuela, Liceu Nacional de Maipú, Escola Exército Libertador de Puente Alto, Escola Grécia, Escola República da Áustria E-34, etc.

Além disso, os docentes foram marchar com seus respectivos bairros e organismos, demonstrando a forte organização de base que vem se gestando nos estabelecimentos educacionais. Houve diversos munícipios presentes, como por exemplo de La Pintana, La Florida, Maipú, Macul, Til Til, Peñaflor, Pirque, Calera de Tango, Qulicura, Puente Alto, Colina, Buin, Santiago, Curacaví, entre outros.
Os professores marcharam com muito ímpeto e convicção, manifestando sua raiva depois de não serem escutados pelas autoridades do país. Levaram faixas, cartazes, bandeiras e estiveram em todo momento animando a mobilização com diversos cantos contra a Carreira Profissional Docente, contra a sobrecarga de trabalho e a forte exploração que vivem dia a dia. Esta precária situação foi muito bem explicada por Valesca González, professora do Colégio El Mañío, estabelecimento municipal de Quilicura, quem disse que “uma das coisas mais importantes por que temos brigado é contra a sobrecarga de trabalho (…), nós todos os dias temos que levar trabalho para nossas casas, problemas e preocupações, porque trabalhamos com pessoas e em um setor com alta vulnerabilidade”.

Valesca comentou que “também estão nos pedindo que cumpramos com pré-requisitos que as pessoas que estão no governo exigem, sem saber o que é melhor para a aprendizagem. Para nós é importante que nossos alunos aprendam conhecimentos, mas é mais importante que eles consigam ser pessoas felizes (…) Nos dão 90 minutos para dar aulas, mas acaba que a maioria do tempo ocupamos em conter nossos alunos quando vêm tristes, com fome, quando vêm violentos, então não nos podem comparar com todos os colégios”, completando que “precisamos de ‘50 e 50 de horas’ [metade do tempo de trabalho do professor contado fora de sala de aula – nota do tradutor] para assim poder ensinar melhor e descansar como corresponde, precisamos também que se reduza a quantidade de alunos por sala, mas o governo não escuta”.

Mauricio Páez, Presidente da Coordenadora Docentes de Maipú – que agrupa 27 colégios municipais – também conversou com o Esquerda Diário – Chile sobre a proposta do governo, argumentando que “me parece um despropósito a proposta do governo, porque é uma proposta fundamentada em aspectos de mercado que não toca o que realmente acontece nas escolas, que é uma carreira sem consulta que mais de 50.000 professores rechaçamos, portanto me parece absurdo que o governo siga obcecado em aprovar uma carreira sem o apoio dos professores”, dizendo que “nós não vamos desistir do ‘50 y 50’, vamos exigir aposentadorias dignas e, claro, que se diminua a quantidade de alunos nas salas”.

Docentes da educação diferencial também marcharam com o objetivo de serem escutados. Carolina Escobar, professora de diferencial da Corporação de Ponte Alto comentou que um dos problemas principais para eles é que “não nos consideram dentro da reforma, não nos consideram dentro dos planos que fazem no Mineduc (Ministério da Educação), aconteceram mesas de trabalho, mas nelas não se refletem as carências que temos na educação especial”. Além disso, Carolina afirmou que “precisamos de outro tipo de avaliação docente para os profissionais que trabalhamos na educação diferencial, acabar com a sobrecarga de trabalho, já que nós temos muito trabalho administrativo, muita papelada e pouco tempo”.

Os professores também marcharam em outras cidades como em Temuco, onde cerca de 6.000 docentes saíram à ruas, Iquique, Valparaíso, Puerto Montt, Antofagasta, Arica, entre outros lugares do país.

A força dos estudantes e as recentes ocupações

Estudantes da Usach, Universidade do Chile, Universidade Central, Finis Terrae, Universidade Diego Portales, Universidade Católica, Universidade Alberto Hurtado, Universidade Tecnológica Metropolitana, ex-Pedagógico, foram algumas das instituições de educação superior que passaram pelas ruas do centro de Santiago. Ademais também marchou a ACES e CONES em representação de estudantes secundaristas.

Houve também forte presença de organizações políticas como a Agrupação Combativa e Revolucionária, Juventude Guevarista, NAU, Esquerda Autônoma, Juventude Rebelde, Juventudes Comunistas, Revolução Democrática, entre outras.

A criatividade, os grupos de dança, grupos musicais e números artísticos animaram a mobilização do começo ao fim. Foi assim que os estudantes de teatro da Universidade Finis Terrae realizaram uma intervenção artística, onde os jovens se fantasiaram de empresários, políticos e pessoas da classe alta com o propósito de expressar a hipocrisia daqueles setores que lucram com o direito a educar-se, enquanto falam de querer melhoras para a população. O Presidente do Centro de Estudantes de Teatro, Juan José comentou que “nossa ideia é poder mostrar a cara oposta e a cara mais grotesca do que acontece no país, mostrar esta imagem de empresários rindo das pessoas com a finalidade de que as pessoas possam dar conta do que está acontecendo. Ademais, fazemos isto porque consideramos que em nossa universidade falta mais democracia, pois funciona como uma empresa e também porque acreditamos que não se pode excluir as universidades privadas da educação gratuita”.

A recente mobilização está marcada por uma série de ocupações estudantis que se vem realizando como forma de radicalizar os métodos de luta. É assim que agora por último a Universidade Alberto Hurtado, a Faculdade de Direito, Ciências Sociais e Comunicação da Universidade Diego Portales, o Liceu Cervantes, Darío Salas, a Faculdade de Direito da Universidade do Chile, são alguns dos estabelecimentos educacionais que foram ocupados pelos estudantes.




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