terça-feira 23 de fevereiro de 2016 | 01:34
Hoje (23), chega ao Brasil a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) Margareth Chan, com agenda oficial ainda não divulgada, mas será recebida por Dilma Rousseff, em Brasília. A próxima parada da médica sanitarista será em Recife, capital do estado que tem o maior número de registro de caso de microcefalia associado ao Zika vírus. Margareth vem a convite do governo brasileiro acompanhada de Carissa Etienne, diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). A visita, segundo o Ministério da Saúde, discutir como coordenar os esforços brasileiros para combate à doença com o plano global contra o vírus.
Esta visita se dá dentro de uma discussão que começou no início da epidemia de Zika vírus e que evoluiu por causa de sua associação aos casos dos fetos com microcefalia. Em 1º de fevereiro, a OMS declarou emergência de saúde pública internacional devido ao aumento de casos de microcefalia [1]. Frente a isso, quatro dias depois, a ONU recomendou que fosse permitido o aborto nos países assolados pelo Zika vírus [2].
De acordo com próprio site da OMS, as orientações para os países que visam controlar está crise são, entre outras: formação de capacidades dos laboratórios para detectar o vírus; preparação de recomendações para cuidados clínicos e monitorização das pessoas com infecção pelo vírus Zika; e definição e apoio de áreas prioritárias de investigação da doença do vírus Zika e possíveis complicações [3]
Vai dar zika nas Olimpíadas?
Se o governo brasileiro fosse realmente consequente em relação ao combate ao Zika vírus, iniciaria, minimamente, cumprindo as resoluções propostas acima. Porém, o maior empecilho para que haja um efetivo combate a proliferação da doença, assim como o devido estudo dos efeitos em fetos e adultos, é a precariedade do sistema de saúde. Em meio aos cortes, ajustes fiscais e orçamentos com gastos públicos apertados para garantir o pagamento da dívida pública [4], não há um plano coerente para combater a crise que enfrentam os hospitais. Além disso, não há nenhum pronunciamento em relação a recomendação da ONU, organização que criou e dirige a OMS, sobre legalização do aborto, mantendo centenas de mulheres sem poderem decidir sobre suas vidas.
Por outro lado, dada as diversas ameaças de comitês olímpicos dos diferentes países [5] de não comparecerem as Olímpiadas no Rio de Janeiro (estado que também se destaca nos casos da doença) a visita da OMS mais parece uma tentativa de atestar que toda situação estará sob controle até agosto. Em declaração prévia, a OMS diz não temer a Zika nas Olimpíadas, como publicado no periódico pernambucano [6], já mostrando como está confiante que no período das Olimpíadas, que ocorrerá no inverno, a proliferação do mosquito transmissor da doença estará naturalmente reduzida.
É necessário denunciar o possível caráter dessa visita, assim como as diversas contradições que se expressam em como lidar com está terrível doença. A mesma OMS que declara emergência de saúde pública expressa, em declaração de seu diretor Bruce Aylward, que teremos condições sanitárias “fantásticas” para as Olimpíadas [7]. Os mesmo Jogos Olímpicos que serviram como desculpa para gastos em obras faraônicas que pouco servem a população continua sendo motivo de manipulação midiática do governo brasileiros e órgãos internacionais. Muito se fala sobre o legado dos grandes eventos nos países, porém o que vemos aqui é um espetáculo do descaso dos governantes, vendidos como uma grande festa que será paga com muitas vidas.
[1]http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160201_oms_zika_mw_rb
[3] http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/pt/
[4] http://www.esquerdadiario.com.br/Ajuste-contra-os-banqueiros-pelo-nao-pagamento-da-divida-publica
