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Bolsonaro usa hipóteses da OMS para reforçar negacionismo e pedir reabertura rápida para os empresários

Em reunião na manhã desta terça-feira, dia 9, Bolsonaro se apoiou na declaração de epidemiologista da OMS que alegou ser rara a transmissão da COVID-19 por pacientes assintomáticos. Porém, além da organização ter mantido a recomendação de isolamento, a hipótese é contestada por outros estudos.

terça-feira 9 de junho de 2020 | Edição do dia

Não é de hoje que o presidente vem apostando na subnotificação como forma de sustentar seu negacionismo e defesa de uma pretensa “normalidade”. Pressionado cada dia mais pela sua base reacionária, Bolsonaro já chamou a COVID-19 de “gripezinha”, já alegou que “apenas idosos” morreriam, além de ter surgido uma corrente no Twitter semanas atrás que indicava uma suposta supernotificação. Agora Bolsonaro resolveu anunciar uma mudança no método de contagem que basicamente é uma oficialização da subnotificação, com dados muito abaixo do que vinha sendo notificado anteriormente e ausência de alguns estados na contagem.

O presidente e sua equipe deram uma reunião nesta terça-feira na qual se ele se apoiou em hipóteses não confirmadas pela OMS para defender a volta a “normalidade” e a dissipação do “pânico pregado pela grande mídia”. No dia anterior Maria van Kerkhove, epidemiologista da OMS, havia alegado que a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas parecia ser rara, essa hipótese foi levantada com base em um pequeno estudo realizado. Ela ainda ressaltou que era necessário diferenciar os pacientes sem sintomas dos pré-sintomáticos, e que o isolamento deveria seguir com ajuda de testes para acelerar a contenção do vírus.

Outros estudos, porém, apontam que não é preciso manifestação de sintomas graves para ocorrer a transmissão e que o pico da produção de partículas virais ocorre nos primeiros dias de manifestação dos sintomas, podendo ocorrer anteriormente a ela. Apesar das recomendações dos órgãos de saúde e dos resultados de diversos estudos que vem sendo feitos, no Brasil, seja pela via do negacionismo do presidente ou pela via da quarentena indiscriminada dos governadores como Doria e Witzel, não se estabelece um plano sério de combate à doença com testes para toda a demanda, aumento dos leitos, reconversão de setores da indústria para a produção de respiradores ou novas contratações de profissionais da saúde.

Até mesmo nos estados que instauraram apenas essa quarentena “as cegas”, como em São Paulo, os governadores já se preparam para uma reabertura gradual pressionados mais uma vez pelos empresários e sua base direitista, mesmo com o Brasil sendo o epicentro mundial da doença no momento, privilegia-se o lucro em detrimento da vida dos trabalhadores e do povo pobre.

A reunião desta terça-feira foi televisionada, além ter sido bem mais contida que a polêmica reunião ministerial de 22 de abril, sendo que nem todos os ministros fizeram falas. O presidente ainda reforçou o uso da cloroquina, mesmo afirmando que sua eficácia não é comprovada, e mesmo com o presidente se apoiando na OMS, o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo alegou que o órgão não tem transparência ou coerência, questionando dados sobre a origem do vírus.

Por falar em coerência, Bolsonaro terminou a reunião reconhecendo que os dados nos quais se apoiou não são oficiais, assim como os dados acerca da eficácia da cloroquina. Apesar disso, o presidente segue sendo consistente com seu interesse em rifar a vida dos brasileiros em nome do lucro dos seus amigos empresários como Luciano Hang, o famoso “veio da Havan”. Enquanto isso se iniciam mobilizações ao redor do país contra a violência policial e as tendências fascistizantes do governo, com destaque os trabalhadores precarizados de aplicativos como Rappi e iFood, que têm estado na linha de frente das manifestações a despeito de PT e PCdoB que pedem para os brasileiros ficarem em casa e colocam o saldo da repressão policial nos próprios manifestantes.

Apenas a auto-organização dos trabalhadores e da juventude, fortalecendo as mobilizações no sentido de exigência de um plano emergencial que garanta testes, tratamento, respiradores e leitos para toda a população assim como a luta pelo fim da instituição racista e assassina que é a polícia, pode dar uma saída de fundo para a profunda crise sanitária, econômica e política no qual o país se encontra. Por isso é extremamente necessário o fortalecimento das manifestações como as que ocorrerão mais uma vez no próximo domingo, colocando pela via da luta de classes as demandas mais urgentes da população.




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