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Editorial de Juventude | Bolsonaro prometeu entregar o futuro da juventude em Davos, a UNE adia a luta

No início de fevereiro, dos dias 6 a 10, ocorrerá o CONEB, Conselho de Entidades de Base da UNE, cujo tema será “a organização estudantil na resistência democrática”. Esse espaço precisa preparar um forte plano de lutas que unifique o movimento estudantil na luta com os trabalhadores, junto aos movimentos sociais, em combate contra o governo Bolsonaro e a extrema direita.

Faísca Revolucionária@faiscarevolucionaria

segunda-feira 28 de janeiro de 2019 | Edição do dia

No início de fevereiro, dos dias 6 a 10, ocorrerá o CONEB, Conselho de Entidades de Base da UNE, cujo tema será “a organização estudantil na resistência democrática”. Esse espaço precisa preparar um forte plano de lutas que unifique o movimento estudantil na luta com os trabalhadores, junto aos movimentos sociais, em combate contra o governo Bolsonaro e a extrema direita.

Vivemos o primeiro mês do governo Bolsonaro, herdeiro do golpe institucional e de eleições marcadas por mil manobras do Judiciário, que apesar das vantagens de viver a “lua de mel” de seu governo, já começa enfrentando a sua primeira grande crise. Seu filho Flávio teve exposto seus esquemas de desvio milionários de verbas públicas, dos quais o próprio governo tenta se distanciar, e que levaram a gravidade de se erguerem suspeitas de envolvimento de Flávio com milícias cariocas acusadas de terem assassinado Marielle Franco. A sua morte é ainda uma ferida aberta do golpe, em que o próprio Estado brasileiro não consegue oferecer respostas com medo de expor-se a si mesmo, de modo que cabe a juventude e as mulheres batalhar para saber quem mandou matar Marielle Franco.

Em Davos juntamente com seu “posto Ipiranga” Paulo Guedes, com Moro e Ernesto Araújo, Bolsonaro ajoelhou-se diante de grandes capitalistas e potências imperialistas, em sua sanha por reformas, privatizações e entrega dos direitos dos trabalhadores e da juventude. Têm como tarefa garantir que 26 empresários sigam detendo o mesmo que metade da população mundial, afinal. Esperam ansiosamente pela Reforma da Previdência de Bolsonaro para que trabalhemos até morrer e este promete adaptar a juventude à chamada 4ª Revolução Industrial, prometendo aos “investidores” mais precarização do trabalho, privatização da educação, e um ensino básico voltado ao mercado de trabalho em detrimento do que resta de acesso e direito da juventude ao ensino superior público.

Seu discurso sobre a preocupação do Brasil com o meio ambiente, foi desmascarado pela lama da Vale, que mais um vez assola a população de Minas Gerais e agora destruiu a cidade de Brumadinho, deixando 58 mortos e mais de 300 desaparecidos, em uma tragédia capitalista que assassinou centenas de trabalhadores. Mais um grandioso crime ambiental e social, cuja responsabilidade é a sede de lucro das mineradoras, garantido pela privatização de FHC e aprofundada nos anos de PT no governo, com terceirização e demissões. Bolsonaro e Guedes, que aos imperialistas de Davos prometeram flexibilizar ainda mais as licenças ambientais e privatizar literalmente tudo que puderem, gestam novas tragédias como essa.

Sua disposição de serem capachos do imperialismo de Donald Trump se mostrou mais um vez com sua prontidão para apoiar a ingerência imperialista na Venezuela. Ou na campanha absolutamente LGBTfóbica após o anuncio de que Jean Wyllys não assumiria seu mandado como deputado federal e iria para fora do país. Sendo que esse discurso de ódio dos bolsonaristas parte dos principais responsáveis pelo Brasil seguir como um dos países que mais mata LGBTs em todo o mundo.

Enquanto os grandes ideólogos do governo teorizam contra o marxismo e Gramsci, contra a militância política de esquerda nas universidades, em uma verdadeira batalha cultural, Bolsonaro já avança, em nota técnica, contra a escolha de reitores nas federais e ameaça sempre que pode os ativistas e militantes do movimento estudantil. Contra os mais mínimos traços democráticos em nosso regime degradado, que mantém Lula preso arbitrariamente, Bolsonaro ganhou eleições manipuladas pelo Judiciário e tuteladas pelas Forças Armadas para impor uma mudança decisiva disputa entre os trabalhadores e a juventude contra a burguesia que o autorize maior perseguição às entidades estudantis, aos sindicatos, partidos e movimentos sociais e de esquerda (e toda empreitada “anti-socialista” e patriarcal do seu time de evangélicos e “trumpistas”). Assim, facilitará penetração do imperialismo também na educação, satisfazendo os lucros dos grandes monopólios privados de educação (erguidos sobre as políticas educacionais petistas) e a necessidade de formar a juventude aos moldes do que pede a Reforma Trabalhista, para que a crise capitalista seja descarregada sobre os trabalhadores, as mulheres, os negros e a população pobre.

Nesse cenário se torna urgente erguermos um forte movimento estudantil que, aliado com o conjunto da classe trabalhadora, das mulheres, dos negros e dos LGBT’s, possa barrar os ataques do governo Bolsonaro e fazer com que os capitalistas paguem pela crise. As entidades de base e os DCE’s de todo o país tem a tarefa de preparar desde já essa batalha, tendo em vista a Reforma da Previdência que se avizinha deverá ser a batalha decisiva do novo governo para alterar essa correlação de forças favorável aos capitalistas para massacrar a juventude e os trabalhadores. A juventude que se chocou com a tragédia gerada pela Vale e os governo em MG fica indignada com as tragédias como Mariana e Brumadinho em nome dos lucros capitalistas. Basta de privatizações, temos que lutar pela reestatização da Vale sob controle dos trabalhadores e da população. Podemos com a força das mulheres rumo ao 8 de março construir fortes atos unificados em todo país, se apoiando no movimento internacional de mulheres, para nos colocarmos contra Trump e Bolsonaro e por justiça pela Marielle.

Oposto à preparação dessa mobilização, o que se vê pela página e atuação da UNE nas estruturas, é que mal mencionam o atual governo e muito menos seus ataques anunciados, fazendo coro à atual estratégia das centrais sindicais como CUT e CTB, que garantem ensurdecedor silêncio e tomam parte em uma trégua na qual propõem negociar sua “própria” Reforma da Previdência com Bolsonaro. A última reunião das centrais sindicais convocou uma plenária para o dia 20 de fevereiro, com um chamado que até essa data se realize reuniões e assembleias de base. A UNE deveria se unificar a esse chamado e começar a construir desde agora essas atividades, a partir de todas as entidades estudantis da qual faz parte. O CONEB deveria ser um espaço privilegiado para que os estudantes de todos os lugares do país pudessem debater um plano de luta, pois mesmo com as férias é perceptível a enorme politização da juventude e se nossas entidades estudantis estivessem na linha de frente do chamado poderíamos construir desde agora um forte plano de lutas em unidade com a classe trabalhadora. No entanto, quando dizem que querem “pressionar” e chamam reuniões que não tiram nenhum plano de lutas concreto, vêm garantindo a paz que permite ao governo, em meio a seus próprios desafios internos, ganhar tempo para se articular em uma ofensiva e possivelmente prolongar a lua-de-mel de setores massivos.

A separação do combate no terreno dos direitos democráticos dos ataques econômicos, como fez Lula aconselhando sua militância a focar nas pautas econômicas, a estratégia das direções dessas entidades abre espaço para negociação com alas burguesas que no projeto privatista estão alinhadas com a sanha dos capitalistas, que apostam suas fichas em Bolsonaro que hoje dão uma chance ao bolsonarismo (e já declararam seu apoio a Renan Calheiros para a Presidência da Câmara). Não à toa, o PCdoB, que é direção da CTB e também da UNE, com a UJS, tanto quer construir sua “resistência democrática” no terreno unicamente institucional, que declarou seu apoio a Maia na Câmara, mesmo candidato que o PSL apoia - mostrando que de “resistência” nada há. Mas não será com manobras institucionais e alianças com golpistas no Congresso que vamos barrar os planos de Bolsonaro e Paulo Guedes, e sim com a mobilização dos estudantes junto com os trabalhadores.

Também o PT busca encabeçar as mais diversas negociações no campo da chamada oposição parlamentar com alas burguesas, enquanto seus 47 milhões de eleitores, dentre eles uma imensa parcela de jovens, que podem constituir uma força real desarmando os planos do governo e avançando para um programa próprio. O PSOL, com seus parlamentares e como parte da Oposição de Esquerda da UNE, tomam parte nessa estratégia, não exigindo e denunciando a trégua existente e sua passividade imposta. E se com seus parlamentares impulsionassem a luta extra-parlamentar, construindo um polo que pudesse fazer frente às burocracias que freiam nossas lutas no país? Pelo contrário, são hoje ala dessa estratégia unicamente parlamentar, junto ao PT.

Assim, é tarefa urgente do CONEB, apesar de ter sido convocado majoritariamente por fora das bases dos cursos representados pelas entidades, em reuniões fechadas, avançar em um plano de lutas concreto que tenha no retorno a cada curso, Faculdade e Instituto uma construção que de fato possa “ganhar maioria”, com assembleias e reuniões, com cada estudante tomando para si a exigência pela realização desse plano e organizando a luta contra Bolsonaro. Cada jovem que vai ao CONEB buscando se preparar para os combates que virão deve ver como tarefa imediata impor uma frente única que unifique jovens e trabalhadores contra a burguesia e seus partidos, que nos odeiam e querem os ajustes. Isso significa entender desde já seu papel retomando as entidades como ferramentas de luta, construindo um movimento estudantil anti-burocrático, onde os próprios estudantes possam definir seus rumos e se coloquem ombro a ombro com a classe trabalhadora, confiando nas suas próprias forças e não o caminho das alianças burguesas, que já nos trouxe para onde estamos. O movimento estudantil tem diversas tarefas mais que urgentes.

Uma das primeiras tarefas do movimento estudantil nacional hoje é erguer grandes colunas no 8 de março, com mulheres a frente, que combata Bolsonaro e Trump e todo o plano neoliberal draconiano que só nos reserva um futuro de maior exploração e opressão, contra a reforma da previdência e em defesa da igualdade salarial. O movimento estudantil pode cumprir um papel importante nesse 8 de março junto às mulheres e às trabalhadoras de todo o país, com as jovens que protagonizaram a primavera feminista dos últimos anos, na linha de frente contra Trump e Bolsonaro e por justiça pela Marielle. O estado é responsável pela morte de Marielle e Anderson e pela ausência de justiça e verdade sobre seus assassinatos.

Combinado a isso é preciso se colocar na linha de frente da defesa de cada direito democrático mais elementar, como pela liberdade imediata de Lula e contra cada avanço arbitrário do Judiciário, com as jovens mulheres e LGBTs na linha de frente de cada batalha. Internacionalmente, as mulheres têm mostrado sua força e podem ser um fator que pese para que a classe trabalhadora entre em cena contra Bolsonaro. Por isso, não se trata de “cortina de fumaça”, visto que apenas nestas primeiras três semanas do ano, 68 mulheres foram vítimas de feminicídio e 39 sofreram tentativas, assim como se acumulam casos atrozes de agressões e assassinatos de LGBTs. Esse discurso serve àqueles que aceitaram o avanço do golpe institucional sem organizar o combate, apostando na estratégia eleitoral, e hoje discursam pela necessidade de aceitar o resultado das eleições, marcadas pela manipulação do Judiciário, como faz a UNE.

Abaixo as políticas privatistas defendidas pelo governo, não aceitaremos mais outras Marianas e Brumadinhos, pela reestatização da Vale sob controle operário e popular. A mesma direção da UNE, com PCdoB e PT, que colocam como objetivo de sua resistência defender a universidade pública e gratuita foram parte nos governos petistas de um profundo processo de privatização do Ensino Superior com a transferência de dinheiro a Kroton, do início dos ajustes bilionários na educação que precarizam as federais e em defesa do vestibular como filtro social que mantém cada vez mais jovens fora da universidade - e agora Bolsonaro afirma absurdamente querer acabar com as cotas. Lutemos em defesa das cotas raciais, pelo fim do filtro social do vestibular e estatização de todos os monopólios privados de educação sob controle dos trabalhadores e estudantes.

A majoritária da UNE, composta pelo PT, UJS e Levante Popular da Juventude estão à frente da imensa maioria das entidades em todo o país. E combinado com suas posições traidoras na política nacional, desarticularam a mobilização surgida durante as eleições, em um momento em que mais do nunca era e é necessário que estes existissem, para politizar coletivamente as bases estudantis para acompanhar a complexa situação nacional e internacional que se complexifica justamente para nos atacar mais rápido. Por isso exigimos que as entidades estudantis garantam a ida de todo e qualquer estudante que queira participar das discussões do CONEB e promova espaços verdadeiramente democráticos de discussão, onde os participantes possam se ouvir e se armar. Assim como a convocação imediata de Assembleias de base em cada universidade ao passo que retornarem as aulas.




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