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Bolsonaro diz ter "afinidade" com príncipe saudita responsável pelo esquartejamento de jornalista

Bolsonaro afirma ter "afinidade" com o príncipe saudita Mohammed bin Salma, que recentemente assumiu a responsabilidade pelo brutal assassinato de um jornalista dentro do seu próprio consulado. Para completar, disse que mulheres adorariam passar uma tarde com o príncipe, expondo novamente, o caráter sexista de suas declarações.

terça-feira 29 de outubro de 2019 | Edição do dia

Antes de se reunir com o mandatário da Arábia Saudita, o presidente Jair Bolsonaro falou nesta terça-feira, 29, que possui "certa afinidade" com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salma. Segundo Bolsonaro, "todo mundo" gostaria de passar uma tarde com um príncipe, "principalmente as mulheres".

"Acho que todo mundo gostaria de passar uma tarde com um príncipe, principalmente vocês, mulheres. Vou ter essa oportunidade hoje. Nós dois temos certa afinidade", disse Bolsonaro a jornalistas na saída do hotel onde está hospedado.

Bolsonaro se diz "próximo" de um príncipe que, há cerca de um mês, assumiu "total responsabilidade" pela morte do jornalista Jamal Khashoggi em 2018. Mas, negou ter dado a ordem para que ele fosse morto. Jamal Khashoggi foi morto de maneira extremamente violenta, torturado e esquartejado dentro do Consulado de seu país em Istambul. Gravações chocantes vazadas mostraram que os assassinos se "divertiram" durante o crime.

"Este foi um crime hediondo. Assumo total responsabilidade como líder da Arábia Saudita", afirmou o príncipe durante uma entrevista exibida em TV.

Um dos pontos em discussão é agronegócio, que é um setor do mercado que Bolsonaro favorece e impulsiona fortemente no Brasil. As queimadas da Amazônia que tiveram repercussão internacional, são acusadas de terem sido realizadas de maneira criminosa por ruralistas apoiadores do presidente.

Segundo Bolsonaro, os sauditas buscam maior "segurança alimentar". "O Brasil é um mar de oportunidades e eles descobriram isso. É um novo governo que está transmitindo confiança para eles e que os encoraja a investir no Brasil. Estamos muito bem com a Arábia Saudita."

A hipocrisia irrefreável de Bolsonaro que associa o avanço do agronegócio com segurança alimentar, quando na prática significa, via ministérios, garantir a liberação de dezenas de novos agrotóxicos para envenenar a comida e os trabalhadores rurais que manejam tais substâncias tóxicas. Bolsonaro busca, na realidade, mais alianças para avançar com o aprofundamento do projeto de reprimarização da economia brasileira, fortalecendo os ruralistas, entregando estatais para as mãos de grandes empresas estrangeiras e acabando com direitos dos trabalhadores. Tudo isso para transformar o Brasil na "fazenda do mundo".

A condição das mulheres na Arábia Saudita e o machismo de Bolsonaro

Para completar a absurda frase de que se identifica em algum nível com o príncipe saudita, Bolsonaro também afirmou que "todos gostariam de passar uma tarde" com ele, ressaltando em especial, as mulheres.

A declaração de Bolsonaro segue reforçando o machismo que persiste nas suas falas e na forma como enxerga as mulheres, bem como a política que leva em seu governo contra as mulheres sob a figura de Damares.

As mulheres sauditas ainda enfrentam uma situação profunda de repressão, conquistando recentemente direitos básicos. No ano passado, a Arábia Saudita foi o último país a permitir que as mulheres possam dirigir automóveis. E foi somente em agosto deste ano que as sauditas passaram a ter a possibilidade legal de viajar sem a autorização de um homem, como era exigido até então.

Bolsonaro avança se pautando pelo que há de mais atrasado em termos das condições das mulheres, se mostrando ligado à um país onde as condições de atraso impostas para as mulheres chegam a ser quase impossíveis de se acreditar.

Os ataques de Bolsonaro contra as mulheres, entretanto, não se dá somente no plano ideológico, reforçando esta visão reacionária e sexista, mas também no plano econômico. As reformas e ajustes, como a previdenciária, estão a serviço de garantir um aprofundamento ainda maior das precárias condições de vida dos trabalhadores, em especial de setores como mulheres, negros, LGBTs e indígenas.




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