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Bolívia: a dias das eleições debates pró-empresariais e ameaças golpistas

No fim de semana ocorreram os debates presidenciais. Faltando 12 dias para as eleições, seguem as ameaças golpistas do ministro de Governo, os conflitos sociais e a repressão.

quarta-feira 7 de outubro de 2020 | Edição do dia

Em 3 de outubro foi realizado o primeiro debate presidencial da história eleitoral da Bolívia. Recebido com expectativa, deixou um sabor de "nada" traduzindo-se nas redes sociais em piadas e críticas aos candidatos, que cantaram, rezaram e recitaram. O debate se transformou em matéria-prima para especialistas em memes. Posteriormente, no domingo(4) ocorreu o segundo debate presidencial onde já não participaram Luis Arce Catacora, candidato do MAS, nem Luis Fernando Camacho do "creemos".

A menos de duas semanas dos comícios as projeções apontam como favorito a Luis Arce com cerca de 30%, seguido pelos golpistas Carlos Mesa rondando os 24% e Camacho com 12%. Com estas cifras haverá um segundo turno já que para ser eleito no primeiro o candidato deve superar os 50% ou os 40% com uma distância maior do que 10 pontos do segundo mais votado.

Em ambos os debates estiveram ausentes os temas e as preocupações mais urgentes das e dos trabalhadores e o povo, como a saúde, os direitos das mulheres, as demissões, as perdas salariais e os ataques repressivos às demandas das e dos trabalhadores, como na têxtil Altifibers, laboratórios Vita, a vidraria Vitrolux e centenas de empresas com crise.

Em ambos os debates, os candidatos se alongaram em diversas medidas muito ao gosto dos empresários e revelando ao mesmo tempo posições abertamente machistas. temos, por um lado, a proposta de eliminar a Lei Geral do trabalho e substituir as relações trabalhistas por contratos civis, voltando ao século XIX, como propôs o candidato evangélico coreano-boliviano Chi Hyun Chungu; ou, regulamentar o trabalho por horas como propôs o ex-lider cívico Camacho "para que as mulheres possam atender as tarefas do lar". Quer dizer, mais flexibilização e precarização das relações laborais.

Todos coincidiram em alentar a produção sobre a base dos apoios aos empresários mediante créditos e fortalecimento do mercado interno. Ninguém, nem sequer os candidatos do MAS fizeram referência a grave situação que vem atravessando dezenas de milhares de trabalhadores que hoje estão sendo demitidos. o MAS apontou a sugerir, como "novidade", impulsi9onar um regime de industrialização por substituição de importações, cujo projeto "estrela" seria a produção de diesel orgânico sobre a base da reciclagem de óleo de cozinha, como aventurou Luis Arce. Lamentavelmente não houve referências a exigência de julgamento e punição aos responsáveis dos massacres de Ovejuyo, Sacaba e Senkata, como tampouco referências a tremenda perseguição política e judicial de dezenas de opopsitores políticos ao regime golpista.

Estes pobres debates presidenciais, foram armados cuidadosamente para que não fizessem referências ao papel do imperialismo e da OEA não só no golpe de Estado de novembro mas inclusive hoje. Recordemos que há alguns dias o ministro de Governo, Murillo, e Marinkovic (ministro da Economia de Áñez que voltou do exílio após o golpe de Estado) viajaram aos Estados Unidos para realizar uma "missão oficial". Sobre isso é preciso mencionar que pareceu que a referida missão teria o objetivo de receber instruções de como proceder frente a uma nova jornada eleitoral que tem um fim aberto e imprescindível.

Eurodeputados pediram garantias ao Governo de que respeitará os resultados

Murillo após seu regresso dos Estados Unidos afirmou que "defenderiam a democracia custe o que custar" em uma ameaça aberta de repressão diante dos próximos comícios. Já um diário londrino publicou uma semana atrás a denúncia de que grupos de ultradireita e o mesmo Governo preparariam atos violentos para responsabilizar ao MAS e que teriam o objetivo de postergar novamente as eleições, ou inclusive desconhecer os resultados frente a uma eventual vitória da dupola presidencial do MAS.

Em linha com o anterior, parlamentares da União Européia interpelaram a chanceler, Karen Longaric, depois que esta deu sua intervenção em sua viagem com motivo de coordenar a missão de observadores internacionais para os comícios de outubro. Os parlamentares expressaram sua preocupação depois de escutar a Longaric sinalizando que mais que ser uma viagem com o mencionado fim, parecia uma "campanha proselitista". Nesse marco solicitaram um pronunciamento explícito para saber se o Governo Áñez vai respeitar os resultados eleitorais em mcaso de que vença o MAS. Esta pergunta também foi formulada a todos os candidatos nos debates presidenciais.

O cenário de tensão e incerteza vai acentuando a cada dia que passa. Bolívia atravessa um novo ciclo de profunda crise política que se instalou depois do golpe de Estado e dos comícios de outubro são um segundo capítulo neste novo cenário no qual todos os analistas tanto de direita quanto afins ao MAS coincidem em afirmar que a conflitividade social do país tenderá a aumentar depois das eleições, ganhe quem ganhe. Nos últimos dias estamosvendo um crescimento acelerado dos conflitos contra as massivas demissões e pelo pagamento de salários atrasados em repartições estatais e privadas.

Enquanto escrevemos esta nota as e os trabalhadores da Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares a Navegação Aérea (AASANA) de todo o país se encontram em greve por dois meses de salários atrasados e ameaçam radicalizar suas medidas. Por outro lado 14 trabalhadores fabris dos laboratórios Vita continuam detidos depois da brutal repressão9 policial que teve lugar no dia de ontem quando centenas de uniformizados interviram na greve que realizavam os trabalhadores no interior da fábrica. A medida de força das e dos trabalhadores era em repúdio a demissão ilegal e arbitrária de 2 dirigentes que exigiam provas de Covid-19 diante do falecimento de um trabalhador que foi obrigado pela patronal a ir trabalhar, com elevados níveis de febre, ,até seu falecimento. Esta situação que enfrentam os trabalhadores da fábrica Vita se repete ao longo do país, com processos de luta e resistência que a burocracia sindical se encarrega de manter isolados e sem coordenação.

Outro setor, um dos mais atingidos com a pandemia, é das e dos trabalhadores da saúde, onde alguns dirigentes do departamento de La Paz vem sustentando uma greve de fome de médicos exigindo 10% de aumento para a saúde o que já leva mais de uma semana e começa a colocar em risco a saúde dos grevistas.

A situação das e dos trabalhadores se agrava, como já dissemos antes, pelo papel da burocracia sindical encabeçada pela COB (Central Obrera Boliviana) e demais federações sindicais,, que vem permitindo estas demissões. Impulsionam mobilizações aparentes que não fazem nem cócegas ao empresariado e se negam a coordenar e a discutir um verdadeiro plano de luta que ponha nas ruas, de maneira generalizada e massiva, a toda força operária que hoje está sendo vítima destes ataques. Em conferência de imprensa em 6 de outubro, esta burocracia ameaçou ao empresariado com ocupações de empresas, em um discurso retórico mas sem ações concretas diante dos ataques e limitando-se e declarar-se novamente em "emergência".

Diante das ameaças de Murillo e dos grupo0s de ultradireita, alentemos a formação de comitês de autodefesa, uma tarefa de primeira o9rdem para os meses que vem, já que os grupos paramilitares da RJK (Resistência Juvenil Cochala) ou da UJC (União Juvenil Cruceñista), não ficarão de braços cruzados diante da resistência dos setores populares em luta.

Chamamos a vanguarda e as e os trabalhadores e começar a discutir como colocar de pé uma ferramenta política própria que ponha em primeiro lugar da discussão, a proibição de demissões, a transferência para as mãos dos trabalhadores de todas as empresas que fechem ou demita com financiamento garantido pelo Estado para salvar os postos de trabalho. Necessitamos de uma ferramenta política que se proponha a enfrentar aos mercadores da saúde, exigindo a nacionalização de todo sistema de saúde privada, sem indenização, e posto para funcionar sob controle de seus trabalhadores. Necessitamos uma ferramenta política que longe do que faz o MAS que é pactuar e negociar com os golpistas, se proponha a derrotá-los. Quer dizer, necessitamos uma ferramenta que se proponha terminar com esse sistema capitalista, atacando as fontes de riqueza dos parasitas capitalistas que financiaram o golpe de Estado e que hoje pretendem nos fazer pagar os custos da crise econômica. Um partido, em suma, que se proponha a avançar na construção socialista da sociedade.

Desde a Liga Obrera Revolucionária (LOR-CI, organização irmã do MRT na Bolívia), acreditamos que é urgente dar um combate sem trégua a esta casta burocrática de dirigentes que já não sabem o que é trabalhar e que estão parasitando nossas organizações sindicais e entidades matrizes. Devemos exigir e impor assembléias e encontros gerais para discutir como enfrentar aos ataques patronais que em meio a crise estão levando as famílias operárias a uma maior precarização laboral e exclusão social. Se faz urgente lutar por um congresso de bases da COB, em mque participe um delegado ou delegada, para cada 20 ou 30 trabalhadores; sejam sindicalizados ou não, sejam efetivos ou contratados. É urgente e necessária a unidade das fileiras operárias. Todos juntos devemos recuperar a democracia sindical, expulsar a burocracia e converter nossos sindicatos, nossas organizações barriais e vicinais, estudantis, comunitárias, etc., em popntos de apoio para impulsionar a autoorganização junto a camponeses, povos indígenas e setores populares para evitar novos ataques e fazer frente aos que estão em marcha.




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