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Bolívia | Bolívia: Pela vitória definitiva

Nas eleições nacionais realizadas anteontem na Bolívia, em meio a um cenário de militarização e de muito ceticismo quanto às reações em relação aos resultados eleitorais, durante a noite, com um suspense pouco comum, os dados de boca de urna foram divulgados com 95% dos votos, e estes trazem a informação de que o candidato do Movimento pelo Socialismo (MAS), Luis Arce, obteria pouco mais de 52% da preferência eleitoral. Sobre esse resultado devastador, há muito a dizer e posições a tomar.

terça-feira 20 de outubro de 2020 | Edição do dia

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Ao analisarmos os diferentes elementos que dão base para esses resultados terem sido alcançados, percebemos que no decorrer dessa jornada houveram vários atores no cenário político, como por exemplo os corajosos setores de camponeses, moradores de áreas distantes das cidades de El Alto como Senkata, Zona Sul de Cochabamba e povoados de Santa Cruz, que resistiram e resistem ao estado policial imposto pelo governo de Jeanine Áñez, Arturo Murillo e Fernando Lopez.

Outro ator é a direção política do Movimento ao Socialismo (MAS), que nesta crise que se abriu em outubro do ano passado, mostrou que é um partido político com uma abertura entre a elite política e as amplas massas das organizações sociais, tanto camponesas quanto trabalhadoras. Como respaldo a estas palavras trago à memória do leitor o que aconteceu nos conflitos de agosto do ano passado, onde a direção burocrática do MAS decidiu pressionar por eleições sem consultar as bases mobilizadas. Isto mostra que a separação de base e direção não foi superada.

Outro ator a se apontar neste contexto foi a elite política de direita e extrema direita que tem sua cara em Áñez, Murillo, Camacho, Mesa, etc. Esses atores neste período expuseram seu alto grau de perigoso fanatismo religioso, acompanhado por um forte dose de racismo. Esses sujeitos políticos têm apoiado sua arrogância na repressão e na desqualificação de amplos setores humildes da população, mas agora com muita relutância parece que se sentem obrigados a esconder esse sentimento de ódio contra os camponeses, trabalhadores e setores empobrecidos. Mas os fatos nos demonstram que eles inevitavelmente se levantarão novamente.

Esses atores que menciono não excluem a participação de muitos outros, como a polícia, as forças armadas, os grupos paramilitares enaltecidos pelas elites de direita, a mídia hegemônica, e há ainda mais, mas terei como centro de análise os apontados na primeira parte.

Se a situação se desenrolar sem grandes choques, os dados dos resultados preliminares da boca de urna mostram-nos que surgirá um governo forte de Luis Arce e do Movimento pelo Socialismo, mas a relação que pode ter com o ex-presidente Presidente Evo Morales é incerta, já que a campanha mostrou certo distanciamento de Arce e Choquehuanca no que diz respeito aos comentários e posições de Morales. Não se deve descartar algo semelhante ao que aconteceu com Lenin Moreno e Correa no Equador.

A verdade é que o próximo governo irá administrar uma crise econômica profunda e o Arce será um economista muito bom, mas ele não é um mágico. Não estou dizendo que para sair da crise econômica é preciso fazer mágica, o que estou dizendo é que é impossível sair desta crise económica nos termos da estrutura capitalista, sem afetar os interesses das maiorias empobrecidas que ontem votaram em Arce.

Então pode-se dizer que a vitória de ontem foi uma vitória dos explorados? Do meu ponto de vista, sim e não. Me explico: o que aconteceu ontem foi uma vitória efêmera, foi contra os velhos políticos da direita conservadora e racista, as Áñez, os Mesa, os Tuto e outros velhos políticos da velha ninhada foram derrotados. Mas eles estão deixando o posto para seus acólitos imediatos, como Shirley Franco da Unidade Democrática (UD), deputada e ex-candidata a vice-presidente, só para citar um exemplo. Destaco que é uma vitória efêmera porque o MAS terá que enfrentar uma crise econômica com medidas claramente antipopulares que se destinam a deteriorar ainda mais a economia das classes subalternas. Neste contexto de crise econômica e sanitária, é efêmera porque a vitória de Arce não conduz a uma superação das contradições essenciais da nossa sociedade.

Já apontei alguns dos temas desse contexto de crise, mas agora gostaria de citar a grande ausência, algo que deve ser forjado nas organizações vivas de setores de trabalhadores, camponeses, indígenas, mulheres, jovens, profissionais, trabalhadores, que nos permitirá sonhar com a vitória definitiva.

Tentou-se com sucesso uma polarização entre o Movimento ao Socialismo e a direita conservadora, disseminada em vários partidos políticos. Mas a polarização que ocorreu é mais profunda, tem havido uma polarização entre os amplos setores humildes e desprezados, caluniados e insultados contra setores de "gente boa", de grupos empresariais, com características racistas e de fanatismo religioso.

Mas voltando, quando me refiro a esse ator ausente, me refiro ao partido político dos trabalhadores e camponeses, que surge a partir de suas próprias bases, com uma predisposição para lutar pelos interesses da maioria, não em benefício de um pequeno grupo de capitalistas, iluminados ou oportunistas.

A tarefa de forjar esse partido é uma tarefa muito difícil, mas por isso não devemos fugir de uma missão tão importante historicamente. Não podemos abrir mão da perspectiva de termos um instrumento político que expresse os interesses das maiorias que agora depositam suas expectativas no Movimento de Socialismo. Da pequena organização política a que pertenço (LOR-CI),colocaremos todos nossos esforços para colocar tijolo sobre tijolo na construção de um partido político revolucionário a serviço dos trabalhadores, camponeses, povos indígenas e setores oprimidos da população. Se quiserem ser parte desta tarefa, organize-se conosco.

Traduzido de: http://www.laizquierdadiario.com.bo/Por-la-victoria-definitiva




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